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exemplo.<br />

Como me descreveu três décadas mais tarde, o geneticista norteamericano<br />

Hermann J. Muller voou de Berlim a Moscou num aeroplano leve,<br />

em 1922, para conhecer a nova sociedade soviética em primeira mão. Deve ter<br />

gostado do que viu, porque – depois de sua descoberta de que a radiação<br />

causa mutações (uma descoberta que mais tarde lhe valeria um prêmio<br />

Nobel) – mudou-se para Moscou a fim de introduzir a genética moderna na<br />

União Soviética. Mas, na metade dos anos 30, um charlatão chamado Trofim<br />

Lysenko conseguiu captar a atenção e depois o apoio entusiástico de Stalin.<br />

Lysenko afirmava que a genética – o que ele chamava de “mendelismoweissmanismo-morganismo”,<br />

em referência a alguns dos fundadores desse<br />

campo de estudo – tinha uma base filosófica inaceitável, e que a genética<br />

filosoficamente “correta”, aquela que acatava de forma adequada o<br />

materialismo dialético comunista, produziria resultados muito diferentes. Em<br />

especial, a genética de Lysenko permitiria uma colheita adicional de trigo no<br />

inverno – uma notícia bem-vinda na economia soviética, que cambaleava por<br />

causa da coletivização da agricultura imposta por Stalin.<br />

A suposta evidência de Lysenko era suspeita, não havia controles<br />

experimentais, e suas conclusões genéricas brotavam de um imenso corpo de<br />

dados contraditórios. À medida que o poder de Lysenko crescia, Muller<br />

argumentava apaixonadamente que a genética mendeliana clássica estava em<br />

plena harmonia com o materialismo dialético, ao passo que Lysenko, que<br />

acreditava na hereditariedade, era um “idealista”, ou coisa pior. Muller<br />

recebeu forte apoio de N. I. Vavilov, ex-presidente da Academia Nacional de<br />

Ciências Agrícolas.<br />

Num discurso de 1936 na Academia de Ciências Agrícolas, então<br />

presidida por Lysenko, Muller fez um pronunciamento emocionante que<br />

incluía as seguintes palavras:<br />

Se profissionais eminentes vão começar a apoiar teorias e opiniões que são<br />

obviamente absurdas, até para quem conhece só um pouco de genética –<br />

opiniões como as que foram recentemente apresentadas pelo presidente<br />

Lysenko e pelos que seguem o seu pensamento –, então a escolha diante<br />

de nós vai se parecer com a escolha entre a feitiçaria e a medicina, entre a<br />

astrologia e a astronomia, entre a alquimia e a química.<br />

Num país de prisões arbitrárias e terror policial, esse discurso<br />

demonstrou integridade e coragem exemplares – muitos as consideraram<br />

temerárias. Em O caso Vavilov (1984), o historiador soviético emigrado Mark<br />

Popovsky diz que essas palavras foram acompanhadas de “estrondosos<br />

aplausos por toda a sala” e “permanecem na memória de todos os que<br />

participaram da sessão e ainda estão vivos”.

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