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azões de ética médica. É só pensar em quantas infusões feitas com a casca de<br />

outras árvores devem ter sido inúteis, fazendo o paciente vomitar ou até<br />

morrer. Nesse caso, o curandeiro risca da lista esses remédios potenciais e<br />

passa para o seguinte. Os dados da etnofarmacologia podem não ser<br />

adquiridos sistematicamente, nem sequer de forma consciente. Por testes e<br />

erros, e lembrando-se atentamente do que funcionou, eles por fim chegam lá<br />

– usando as riquezas moleculares do reino vegetal para acumular uma<br />

farmacopéia que funciona. Absolutamente essencial, as informações que<br />

salvam vidas só podem ser adquiridas pela medicina popular, não têm como<br />

ser obtidas de outro modo. Deveríamos estar fazendo esforços muito maiores<br />

para explorar os tesouros desse conhecimento popular em todo o mundo.<br />

O mesmo é válido, por exemplo, para predizer o tempo num vale<br />

perto do Orinoco: é perfeitamente possível que os povos pré-industriais<br />

tenham notado ao longo dos milênios certas regularidades, indicações<br />

premonitórias e relações de causa e efeito em determinado local geográfico,<br />

as quais os professores de meteorologia e climatologia em alguma<br />

universidade distante desconhecem completamente. Mas isso não significa<br />

que os xamãs dessas culturas sejam capazes de predizer o tempo em Paris e<br />

Tóquio, muito menos o clima global.<br />

Certos tipos de conhecimento popular são válidos e inestimáveis.<br />

Outros são, quando muito, metáforas e codificadores. Etnomedicina, sim;<br />

astrofísica, não. É verdade que todas as crenças e todos os mitos merecem ser<br />

escutados com respeito. Não é verdade que todas as crenças populares sejam<br />

igualmente válidas – isto é, se não estivermos falando de uma perspectiva<br />

mental interior, mas da compreensão da realidade externa.<br />

Durante séculos, a ciência tem estado sob uma linha de fogo que,<br />

melhor do que pseudociência, pode ser chamada de anticiência. A ciência, a<br />

erudição acadêmica em geral, é demasiado subjetiva, afirmam hoje em dia.<br />

Alguns até alegam que ela é inteiramente subjetiva, o que também se aplica,<br />

dizem eles, à história. A história é em geral escrita pelos vencedores para<br />

justificar as suas ações, para despertar o fervor patriótico e para eliminar as<br />

reivindicações legítimas dos vencidos. Quando não se dá nenhuma vitória<br />

esmagadora, cada lado redige relatos autopromocionais acerca do que<br />

realmente aconteceu. As histórias inglesas criticavam com severidade os<br />

franceses, e vice-versa; as histórias dos Estados Unidos até há bem pouco<br />

ignoravam as políticas reais de lebensraum (espaço vital) e genocídio para com<br />

os norte-americanos nativos; as histórias japonesas sobre os acontecimentos<br />

que provocaram a Segunda Guerra Mundial minimizam as atrocidades<br />

cometidas pelo Japão e sugerem que seu principal objetivo era libertar

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