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aperfeiçoar o controle que o poderoso tem sobre o poder, ou para servir ao<br />

narcisismo, à megalomania ou à paranóia dos líderes nacionais. Joga-se uma<br />

chave inglesa dentro do mecanismo de correção de erros. Funciona para<br />

apagar da memória pública profundos erros políticos, e assim garantir sua<br />

subseqüente repetição.<br />

Na nossa época, com a fabricação total de fotografias, filmes e<br />

videoteipes realistas tecnologicamente ao nosso alcance, com a televisão em<br />

cada casa, e com o pensamento crítico em declínio, parece possível<br />

reestruturar as memórias sociais mesmo sem muito auxílio da polícia secreta.<br />

O que estou imaginando não é que cada um de nós venha a ter um estoque<br />

de lembranças implantadas em sessões terapêuticas especiais por psiquiatras<br />

indicados pelo Estado, mas antes que um pequeno número de pessoas terá<br />

um controle tão grande sobre as notícias, os livros de história e as imagens<br />

profundamente influentes que poderá efetuar enormes mudanças nas<br />

atitudes coletivas.<br />

Vimos um pálido eco do que é agora possível em 1990-1, quando<br />

Saddam Hussein, o autocrata do Iraque, experimentou uma transição abrupta<br />

na consciência norte-americana, passando de um quase aliado obscuro – a<br />

quem se concediam mercadorias, tecnologia avançada, armas e até dados do<br />

serviço secreto por satélite – a um monstro escravizador que ameaçava o<br />

mundo. Pessoalmente, não sou admirador do sr. Hussein, mas foi<br />

impressionante a rapidez com que alguém desconhecido de quase todos os<br />

norte-americanos pôde ser transformado na encarnação do mal. Nos dias de<br />

hoje, a máquina de gerar indignação está funcionando em outro lugar. Que<br />

confiança podemos ter de que o poder de conduzir e determinar a opinião<br />

pública estará sempre em mãos responsáveis<br />

Outro exemplo contemporâneo é a “guerra” contra as drogas – em<br />

que o governo e grupos cívicos financiados com munificência distorcem<br />

sistematicamente a verdade, inventando até evidências científicas de efeitos<br />

nocivos (sobretudo da maconha), e em que nenhum funcionário público tem<br />

sequer a permissão de propor uma discussão aberta do tema.<br />

Mas é difícil manter verdades históricas potentes reprimidas para<br />

sempre. Novos repositórios de dados são revelados. Novas gerações de<br />

historiadores, menos ideológicas, se desenvolvem. No final dos anos 80 e<br />

antes, Ann Druyan e eu contrabandeávamos rotineiramente exemplares da<br />

História da Revolução Russa de Trotsky para dentro da URSS – para que nossos<br />

colegas pudessem conhecer um pouco sobre seus próprios primórdios<br />

políticos. No qüinquagésimo aniversário do assassinato de Trotsky (o<br />

assassino de Stalin abrira a cabeça de Trotsky com um martelo), Izvestia pôde<br />

exaltar Trotsky como “um grande e irrepreensível * revolucionário”, e uma<br />

(*) Sugerindo que as autoridades nada aprenderam com a sua história, exceto

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