30.01.2015 Views

2Cuymbdov

2Cuymbdov

2Cuymbdov

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

homem independente, amante da franqueza e da verdade”.<br />

É responsabilidade desses historiadores íntegros tentar reconstruir a<br />

seqüência real de eventos, por mais desapontadora ou alarmante que seja. Os<br />

historiadores aprendem a reprimir a sua indignação natural contra os ataques<br />

às suas nações, e reconhecem, quando apropriado, que os líderes nacionais<br />

podem ter cometido crimes atrozes. Eles talvez tenham de se esquivar de<br />

patriotas enfurecidos, um risco do seu trabalho. Reconhecem que os relatos<br />

dos acontecimentos passaram por filtros humanos tendenciosos, e que os<br />

próprios historiadores têm vieses. Aqueles que desejam saber o que de fato<br />

aconteceu vão se enfronhar nas visões dos historiadores de outras nações,<br />

outrora inimigas. O máximo a que podemos aspirar é uma série de<br />

aproximações sucessivas; a passos lentos, e melhorando o autoconhecimento,<br />

a nossa compreensão dos eventos históricos se aperfeiçoa.<br />

Algo semelhante vale para a ciência. Nós temos vieses; inalamos os<br />

preconceitos predominantes em nosso meio como todo mundo. De vez em<br />

quando, os cientistas alimentam inúmeras doutrinas nocivas (inclusive a<br />

suposta “superioridade” de um grupo étnico ou de um gênero em relação ao<br />

outro, com base em medições do tamanho do cérebro, saliências do crânio ou<br />

testes de inteligência). Com freqüência relutam em ofender os ricos e<br />

poderosos. De quando em quando, alguns trapaceiam e roubam. Alguns<br />

trabalharam – muitos sem nenhum vestígio de remorso moral – para os<br />

nazistas. Os cientistas também apresentam vieses relacionados com os<br />

chauvinismos humanos e com as nossas limitações intelectuais. Como já<br />

disse, eles são também responsáveis por tecnologias mortíferas – ora<br />

inventando-as de propósito, ora sendo insuficientemente cautelosos a<br />

respeito de efeitos colaterais imprevistos. Mas foram também os cientistas<br />

que, na maioria desses casos, fizeram soar o alarme avisando-nos do perigo.<br />

Os cientistas cometem erros. Por isso, cabe ao cientista reconhecer as<br />

nossas fraquezas, examinar o maior número de opiniões, ser impiedosamente<br />

autocrítico. A ciência é um empreendimento coletivo com um mecanismo de<br />

correção de erro que freqüentemente funciona sem embaraços. Ela tem uma<br />

esmagadora vantagem sobre a história, porque na ciência podemos fazer<br />

experiências. Se não temos certeza de como foram as negociações que<br />

resultaram no Tratado de Paris em 1814-5, encenar de novo os<br />

acontecimentos não é uma opção possível. Podemos apenas cavar<br />

informações em antigos registros. Nem podemos fazer perguntas aos que<br />

participaram da ação. Todos estão mortos.<br />

Em muitas questões da ciência, no entanto, podemos reproduzir o<br />

evento tantas vezes quantas desejarmos, examiná-los sob novos ângulos,<br />

testar uma ampla série de hipóteses. Quando novas ferramentas são<br />

inventadas, podemos executar o experimento de novo e verificar o que

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!