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Edição 14 | Ano 8 | No.1 | 2010.1 REVISTA - Contemporânea - UERJ

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Ed.<strong>14</strong> | Vol.8 | N1 | 2010fazer”, “astúcias sutis”, “táticas de resistência” que vão alterando os objetose os códigos, e estabelecendo uma (re)apropriação do espaço e do uso aojeito de cada um.“A Mangueira é mãe”: As narrativas sobre a construção do imagináriode lugar113Em nítida oposição à cidade onde predominam relações interpessoais,a favela é marcada por relações personalizadas, onde todos se conhecem e seajudam. Os laços de parentesco também são comuns, é frequente ocorrer namorose casamentos entre moradores da mesma área que procuram continuarresidindo nas proximidades.Essa solidariedade vivenciada cotidianamente cria vínculos e sistemaspróprios que garantem, mesmo que minimamente, os padrões de reproduçãosocial. É neste processo que nascem alternativas coletivas para suprir necessidadescomuns. Segundo João Baptista Mello (), tais envolvimentos, que despontamcom a experiência, a confiança e a afeição, denotam intimidade. Énessa abrangência que o imaginário de lugar da Candelária, é compartilhado eforjado pelo símbolo edificante da união entre os seus moradores, pois “tratasede um mundo vivido e filosófico, existencial e coletivo, de enraizamento,lutas e glórias, uma ‘morada familiar’.” (MELLO, ) Através de conversas comos moradores para a realização da pesquisa, pudemos perceber que, em suamaioria, não reconhecem outros lugares fora da comunidade que vivenciemtal experiência. Candelária e Mangueira são apontadas nas entrevistas como omais significativo da história de suas vidas. Eles falam com muito orgulho dolugar onde vivem “Aí, eu tenho, eu tenho muito orgulho deste lugar... Eu falocom os meus filhos sempre, se eu morrer dentro de um hospital vocês me ‘traz’o meu corpo ‘praqui’, vai embora daqui”.Falar do imaginário de lugar, o resultado histórico de um encontroentre o sonho individual e uma atitude coletiva sintetiza a importância das históriasde vida para entender o conjunto das experiências humanas no processohistórico, ou a articulação existente entre os indivíduos e as transformaçõessociais que influenciaram o espaço urbano local.Quando eu vim pra cá aos seis anos de idade, me lembro que tinhamuitos moradores, mas só que assim...tinha muito espaço...as casastinham quintal, né, tinha espaço. Conforme foi crescendo, os “filho”casando, ia aumentando aonde tinha quintal, ia aumentando mais outrocômodo (os “puxadinhos”), até que ficou todas as casas sem espaçonenhum “pras” crianças brincar.O começo de vida na Candelária, para muitos moradores, envolveugrandes sacrifícios, embora muitas vezes a rede social atuasse como amparo nosprimeiros tempos. Um exemplo disso, em meio a tantos outros, é o da DonaMaria da Penha Moreira, que há anos veio para a Candelária com marido efilhos realizar um sonho: ter uma padaria. D. Penha, como é conhecida nacomunidade, realizou seu desejo e na Rua Graciete Matarazzo, apelidada pelosCartografia do acaso: percursos à deriva no imaginário da Candelária,favela da Mangueira, RJ

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