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Edição 14 | Ano 8 | No.1 | 2010.1 REVISTA - Contemporânea - UERJ

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Ed.<strong>14</strong> | Vol.8 | N1 | 201055O olhar do diretor de cinema através da câmera é, também, um elementode construção da composição cenográfica. A realização do projeto de direçãode arte é o material de trabalho do diretor que irá montar um enquadramentoidentificador de um sentido narrativo, a forma como ele irá mostrar um determinadoespaço é um desdobramento do projeto original, uma transfiguração deum objeto real. O diretor elabora a escrita da imagem dando sentido aos diversossegmentos do espaço, sejam eles “lugares artificiais” (cenários) ou “lugares naturais”(locações: arquitetura e paisagem). De qualquer forma, os lugares da cenacinematográfica aparecem como elementos marcantes para a representação deum universo imaginado. O cenário é produzido sob o ponto de vista de uma históriaa ser contada, é o lugar de construção de uma nova memória, de experiênciasinstituintes de uma cultura dramática. A locação já traz em seu imaginárioa marca de histórias vividas, é o lugar de uma memória instituída, do confrontocom um potencial dramático estabelecido por um tempo decorrido. O diretor aocaptar imagens em uma locação se depara com um acervo de realizações efetivasque irá influenciar o processo de criação artística.Os “lugares artificiais” (cenários) em O outro lado da rua aparecem comoo laboratório existencial de vidas que se encontram em uma grande cidade. Oapartamento de Regina (Fernanda Montenegro) é o seu posto de trabalho – ajanela é utilizada como um grande quadro para um olho (binóculo/câmera)voraz que vigia e julga um outro personagem, Camargo (Raul Cortez), comose ele estivesse projetado em uma tela de cinema, em um apartamento do outrolado de uma rua em Copacabana. O lugar de moradia de Regina aparece comoum “esconderijo” no qual ela exercita o olhar, pensa e percorre o universosombrio de seus sentimentos. Na realidade, o movimento dela é para a rua, apraia, a praça – “os lugares naturais” (locações) onde ela trama situações paracomprovar a sua tese baseada na crença no que ela vê. Ela consegue mudara rotina de Camargo que vive em um apartamento (cenário) luminoso comdesign sofisticado repleto de vazamentos (janelas e divisórias), uma marca dofilme – o olhar que espreita algo que está escondido, sugerido. Os dois cenáriosse caracterizam por um realismo absoluto no tocante à composição de umaarquitetura contemporânea de uma cidade tropical brasileira. Regina conseguemudar o ritmo de vida de Camargo, supostamente uma vida mais ligada àcasa, o levando para a rua, um espaço de comprovação de uma tese “imaginária”e de embates afetivos e perceptivos. A rua (“lugar natural” – locação)é, então, o espaço da experimentação de olhares e sentimentos gestados nosapartamentos (“lugar artificial” – cenário) de personagens que são o símboloda vida em uma grande cidade litorânea. O espaço de reclusão abastece o universopsicológico dos personagens com uma recarga de experiências que nãosão vividas no espaço da rua. O movimento para fora representa uma mudançade comportamento compatível com os seus objetivos individuais e com a maneirade se viver em uma cidade violenta e repleta de cenas que configuram oimaginário urbano.Da janela olho e me envolvo com o mundo

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