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Edição 14 | Ano 8 | No.1 | 2010.1 REVISTA - Contemporânea - UERJ

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Ed.<strong>14</strong> | Vol.8 | N1 | 201081Esta declaração, feita pela atriz Rosie Perez (conhecida por protagonizaruma cena de nudez com cubos de gelo no filme Faça a coisa certa, de SpikeLee), demonstra como as intérpretes femininas se sentem pressionadas a exibirum corpo esteticamente perfeito.Apesar de não serem os mesmos dos dias atuais, os padrões estéticos nãopassaram a ser considerados quesitos de avaliações de desempenho e de sucessode atrizes só recentemente. Em seu trabalho No universo da beleza: notas de camposobre cirurgia plástica no Rio de Janeiro, Alexander Edmonds informa que, em1923, a atriz norte-americana Fanny Brice já chamava a atenção do público porter operado o nariz a fim de, segundo ela, se adequar a um maior número depapéis. Este tipo de cirurgia foi exaltada, alguns anos mais tarde, pelo cirurgiãoWilliam Wesley Carter, que definiu um nariz bem formado como “fator decisivo”para o sucesso nas telas de cinema (EDMONDS, 2002, p. 222).Como exemplo da alternância dos padrões estéticos vivenciado pelasatrizes, atualmente, podemos citar a troca das intervenções cirúrgicas no narizpela implantação de próteses de silicone nos seios. Em uma matéria da revistaVeja sobre o cirurgião plástico Carlos Fernando de Almeida, a atriz PaulaBurlamaqui afirma que: “Escolhi o Carlos Fernando porque ele faz os melhorespeitos que já vi” (O doutor mão leve, Veja 31/10/2007). Paula pretendia colocaruma prótese de, no mínimo, 300 mililitros, mas concordou com a sugestãode 175 mililitros. De acordo com o cirurgião, o importante é que o implantenão pareça artificial. Logo, notamos que a preocupação não é só atingir umadeterminada forma física, mas também aparentar uma beleza natural.Mas por que a aparência é considerada requisito para o sucesso mais comumenteentre as atrizes? Para Pierre Bourdieu, em A dominação masculina, amulher é vista pela sociedade sob a ótica das trocas – inicialmente, as realizadasatravés das relações de casamento – o que a transforma em um objeto simbólico.A mulher tornou-se um objeto de troca que segue os interesses masculinos. Porisso, o corpo feminino tem de estar sempre apresentável, tem de ser obediente e,para tanto, deve ser mais frágil do que o corpo do homem. (2003, p. 56).O conceito de corpo como objeto simbólico e administrado através dedominação também é estudado por Michel Foucault em seu conceito de corpodócil. Para Foucault: “é dócil um corpo que pode ser submetido, que pode serutilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado” (2008, p. 118).De acordo com o filósofo, é um exemplo de docilidade o corpo dosoldado. Se até o século XVII se escolhiam os integrantes do exército entreos camponeses com características físicas específicas (como ombros largose braços longos), a partir da segunda metade do século XVIII, o soldadocomeçou a ser moldado:[...] de um corpo inapto, fez-se a máquina de que se precisa; corrigiram-seaos poucos as posturas; lentamente uma coação calculadapercorre cada parte do corpo, se assenhoreia dele, dobra o conjunto,“O que é bello é para se ver, só o feio é immoral”: o processo disciplinador dos corpos de atrizes na mídia impressa nas últimas oito décadas

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