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Psicologia e diversidade sexual: desafios para uma sociedade de ...

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i<strong>de</strong>ntificações é <strong>uma</strong> questão fundamental, né? Para essa<strong>de</strong>finição da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>sexual</strong>, que é <strong>uma</strong> coisa que vaiser afirmada, que vem sendo construída <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre,mas que vai ser afirmada na adolescência. (Luziara)Muitos caminhos po<strong>de</strong>m ser explorados a partir <strong>de</strong>sse fragmento <strong>de</strong>relato. Um, por exemplo, é o da recorrente associação, muito direta, entrei<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero e <strong>de</strong>sejo <strong>sexual</strong>, que observei sendo feita entrevárias <strong>de</strong> minhas entrevistadas <strong>de</strong> orientação psicanalítica. Mas o que euqueria realmente enfatizar hoje é a categoria perversão, recorrente norelato <strong>de</strong> Luziara, e da maior parte das psicólogas <strong>de</strong> base psicanalíticaentrevistadas. Aliás, é a própria noção <strong>de</strong> perversão que, <strong>de</strong> certo modo,vai valorar alg<strong>uma</strong>s formas contra-hegemônicas <strong>de</strong> agenciar sexogênero-<strong>de</strong>sejocomo antinaturais.No relato acima transcrito, vemos Luziara dizer como é que ahomos<strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong> se constrói e, <strong>de</strong>pois, emitir <strong>uma</strong> série <strong>de</strong> juízos <strong>de</strong>valor sobre a homos<strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong>. Pautada na psicanálise, tira o telus da<strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong> da or<strong>de</strong>m da natureza, do instinto <strong>sexual</strong>, e o restitui, noplano da cultura, à pulsão.É claro que, <strong>para</strong> Sigmund Freud, foi muito importante tomar a perversão<strong>para</strong> construir a teoria <strong>de</strong>le. Aquilo que se chamava “perversão <strong>sexual</strong>”era justamente a prova empírica <strong>de</strong> que a <strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong> era construída,e ofereceu o caminho <strong>para</strong> ele chegar a um dos conceitos mais caros àpsicanálise: o conceito <strong>de</strong> pulsão. Mas não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lembrar queperversão é <strong>uma</strong> categoria oitocentista carregada <strong>de</strong> moralismo.E Freud não abandonou a noção, mas a incorporou, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seu esquemaconceitual, como <strong>uma</strong> estrutura psíquica. Utilizando <strong>uma</strong> noção que vem <strong>de</strong>Gayle Rubin 15 , quando nós fazemos <strong>uma</strong> leitura do inconsciente teórico dapsicanálise, nós percebemos que a noção <strong>de</strong> perversão está marcada pelai<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> anormalida<strong>de</strong> e fundada na matriz heteronormalizante, on<strong>de</strong> o<strong>de</strong>sejo <strong>sexual</strong> socialmente bom, altruísta, <strong>de</strong>ve se orientar <strong>para</strong> o outro sexo,visando a reprodução da espécie. Uma noção, que, conforme Jurandir FreireCosta 16 , atendia às prerrogativas da burguesia emergente.15 RUBIN, G. O tráfico <strong>de</strong> mulheres: notas sobre a “economia política” do sexo. Recife: SOS Corpo, 1993.16 COSTA, J. A face e o verso. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Relume-D<strong>uma</strong>rá, 1995.34

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