IntroduçãoFalarei aqui <strong>de</strong> <strong>uma</strong> clínica que é comumente conhecida como clínicajunto à população LGBTIQ 23 , ou então, clínica da homos<strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong>ou, ainda, na vertente norte-americana 24 , <strong>uma</strong> clínica LGBT ou queer.Na verda<strong>de</strong>, vou apresentar <strong>uma</strong> proposta <strong>de</strong> prática clínica que sepauta na <strong>de</strong>sconstrução da homofobia e menos na afirmação <strong>de</strong><strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>sexual</strong> ou <strong>de</strong> gênero, ou seja, <strong>uma</strong> proposta queer <strong>de</strong>intervenção psicológica.Chamo <strong>de</strong> clínica da <strong>de</strong>sconstrução da homofobia porque talvez nãoexista a hetero, a bi e a homos<strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong>. A história <strong>de</strong> construção<strong>de</strong>sses conceitos nos mostra que eles nasceram no século XIX e que,antes disso, essas palavras não existiam. Todavia, a prática <strong>sexual</strong> entrepessoas <strong>de</strong> mesmo sexo biológico sempre existiu, mas isso também nãoimplica dizer que essas pessoas fossem ou se sentissem homossexuais,no sentido em que usamos o verbo ser (aquilo que não varia) ou mesmono sentido do “estar” (transitório). Antes da invenção <strong>de</strong>sses conceitos— que falam da interiorização da <strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong> em um sujeito e suasubsequente produção i<strong>de</strong>ntitária —, a prática <strong>sexual</strong> não servia como“prova” <strong>de</strong> revelação da subjetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ninguém. A história nos mostratambém que, em alguns períodos históricos e em outras culturas nãoapenas oci<strong>de</strong>ntais, essa prática não sofria sanções, isto é, não era alvo <strong>de</strong>gestão política nem do po<strong>de</strong>r dos Estados. Assim, empreen<strong>de</strong>rei aqui osefeitos <strong>de</strong>ssas sanções <strong>para</strong> a construção da <strong>Psicologia</strong> como disciplinaque se propõe a trabalhar seja o comportamento, seja o <strong>de</strong>sejo, seja asrelações sociais.Por que e a quem importa legislar sobre as práticas sexuais, isto é,sobre os prazeres eróticos advindos das relações corporais seja entrepessoas do mesmo sexo ou não? De que modo a prática <strong>sexual</strong> (modos<strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong> prazer erótico) po<strong>de</strong> nos falar sobre a subjetivação <strong>de</strong>23 Cf. CLARKE, Victoria; ELLIS, Sonja J.; PEEL, Elizabeth; RIGGS, Damien W. Lesbian, gay, bi<strong>sexual</strong>, trans and queerpsychology. An Introduction. London: Cambridge University Press, 2010.24 Cf. DRESCHER, Jack; D’ERCOLE, Ann; SCHOENBERG, Erica (Orgs.). Psychotherapy with gay men and lesbian:contemporary dynamic approaches. New York: The Haworth Press, Inc. 2003. Ou, ainda, HANCOCK, Kristin A.Prychotherapy with lesbians and gay men. In: D’AUGELLI, Anthony R.; PATTERSON, Charlotte J. (Editors). Lesbian,gay and bi<strong>sexual</strong> i<strong>de</strong>ntities over the lifespan: psychological perspectives, New York: Oxford University Press, 1995. p.398-432. E, também, MEEZAN, Wiliam; MARTIN, James (Orgs.). Research methods with gay, lesbian, bi<strong>sexual</strong>, andtransgen<strong>de</strong>r populations. New York: The Haworth Press, Inc. 2003.50
<strong>uma</strong> pessoa? Imaginemos a seguinte situação: <strong>de</strong> repente, começa-se acategorizar, isto é, usar como categoria <strong>de</strong> subjetivação, <strong>para</strong> pensar o serh<strong>uma</strong>no, a realização ou não do sexo oral. Que nome seria dado a essa,digamos, “orientação <strong>sexual</strong>”? Mas antes, faria essa prática o referente<strong>para</strong> pensarmos <strong>uma</strong> <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> orientação <strong>sexual</strong>? Ou seja, por que osórgãos sexuais, cito pênis e vagina, foram eleitos como referência <strong>para</strong>se pensar a <strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong>? Afinal, só o ato <strong>sexual</strong> com penetração é capaz<strong>de</strong> nos dar prazer?Um pouco <strong>de</strong> história. Descobri-me gay há pelo menos vinte anos.Sempre senti que tinha <strong>de</strong>sejo por pessoas do mesmo sexo biológico queo meu. Entretanto, a minha saída da análise vem junto com esse textoaqui do Guy Hocquengheim 25 , o qual <strong>de</strong>scobri a partir <strong>de</strong> <strong>uma</strong> frase emum capítulo do livro editado pela Suely Rolnik, quando da passagem doGuattari pelo Brasil em 1986 26 . Esta frase está lá... quando o professorLuís Mott lembra ao Guattari a frase do Guy Hocquengheim dizendoque o “buraco do meu cu é revolucionário”. Isso foi libertador <strong>para</strong> mim!Porque isso significa dizer que eu faço o que eu quiser do meu cu e eunão preciso me culpabilizar por isso. Assim como eu posso fazer o queeu quiser da minha boca, da minha xoxota ou <strong>de</strong> qualquer outra partedo meu corpo, e assim por diante. Eu acho que é um pouco disso quea gente está aqui <strong>para</strong> falar. Não quer dizer, em absoluto, que “dar ocu” seja a solução <strong>para</strong> resistir à soberania da normativa heteros<strong>sexual</strong>.Mas, ao contrário, isso serve <strong>para</strong> nos lembrar <strong>de</strong> que o prazer erótico é,sobretudo, na sua base e fundação, polimorfo, aquém e além <strong>de</strong> qualquernormativa externa, obe<strong>de</strong>cendo apenas aos fluxos e agenciamentos queo produzem contextualmente.Assim, se pudéssemos falar <strong>de</strong> “<strong>uma</strong> palavra <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m” no campo<strong>de</strong> investigação da <strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong> seria, portanto, a questão da polimorfia,a qual resulta em multiplicida<strong>de</strong>s. Agora, pergunto-me: por queprecisamos dar nomes e palavras <strong>para</strong> isso? Em troca do quê? Por quenós precisamos fazer da <strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong> <strong>uma</strong> categoria <strong>de</strong> subjetivação ouum instituto como tantos que têm por aí? Por que ainda existe opressãosobre práticas sexuais não heteronormativizadas? Essa questão, inclusive,25 A contestação homos<strong>sexual</strong>. São Paulo: Brasiliense, 1980. 150 p.26 Suely Rolnik e Felix Guattari. Micropolítica. Cartografias do Desejo. Vozes, Petrópolis, 198651
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