à vida, ao que faz reforçar a espécie. O que <strong>de</strong>termina sua importânciaé a insistência dos mecanismos <strong>de</strong> saber/po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forma provocativa eamedrontadora; o po<strong>de</strong>r esboça a <strong>socieda<strong>de</strong></strong> do sexo, suscitando-a eservindo-se <strong>de</strong>la <strong>para</strong> criar seus dispositivos <strong>de</strong> controle e <strong>de</strong> segurançada <strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> suas práticas, marcando assim a sua finalida<strong>de</strong> e seusentido. Desta forma:Foram os novos procedimentos do po<strong>de</strong>r, elaborados durantea época clássica e postos em ação no século XIX, que fizerampassar nossas <strong>socieda<strong>de</strong></strong>s <strong>de</strong> <strong>uma</strong> simbólica do sangue <strong>para</strong><strong>uma</strong> analítica da <strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong>. Não é difícil ver que, se há algoque se encontra do lado da lei, da morte, da transgressão, dosimbólico e da soberania, é o sangue; a <strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong>, quantoa ela, encontra-se do lado da norma, do saber, da vida, dosentido, das disciplinas e das regulamentações”. (FOUCAULT,1988:139)Embora as analíticas da segurança e das <strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> seus prazerespossam ser vistas como pertencentes a regimes <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r diferentes,justapõem-se em ecos e interações. Tanto que a preocupação com aspráticas sexuais que fogem da heteronormativida<strong>de</strong> e do falocentrismotem estado presente há quase dois séculos na gestão das <strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong>s e<strong>de</strong> seus prazeres.Essa influência é notável a partir <strong>de</strong> toda <strong>uma</strong> política <strong>de</strong> povoamento,da família, do casamento, da educação, da hierarquização social,da proprieda<strong>de</strong>, e diversas formas <strong>de</strong> intervenção sobre o corpo, oscomportamentos, a saú<strong>de</strong>, inclusive a mental, justificadas a partir <strong>de</strong>preocupações <strong>de</strong> proteção com a pureza do sangue e o triunfo da raça.(nazismo/eugenia).A psicanálise, nesse sentido, teve sua importância marcada pelasrespostas dadas ao nazismo e à perseguição antissemita, rompendocom a neuropsiquiatria da <strong>de</strong>generescência, colocando em análise osmecanismos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que pretendiam controlar e produzir o cotidianoda <strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong>, porém sem per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista seu caráter normatizadorreificado na maioria <strong>de</strong> suas práticas.Romper com as premissas essencialistas significa fazer a história da<strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do referencial socio-histórico, seria esquivar-se da94
existência biológica das funções sexuais e falar da <strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong> como<strong>uma</strong> complexida<strong>de</strong> que solicita interfaces com classe social, cor/raça,gênero, orientação <strong>sexual</strong>, geração, territórios geopolíticos e existenciaisque nos remetem aos diversos lineamentos que participam dos processos<strong>de</strong> subjetivação contemporânea.A análise da <strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong> como dispositivo político não implicarianecessariamente a elisão do corpo, da anatomia, o biológico ou ofuncional, seria <strong>uma</strong> forma <strong>de</strong> mostrar <strong>de</strong> que modo se articulamos dispositivos do po<strong>de</strong>r sobre o corpo, suas funções, processosfisiológicos, sensações e prazeres. Colocar o corpo em interface como biológico e o político fora das referências do evolucionismo, <strong>para</strong>que se liguem às complexas tecnologias mo<strong>de</strong>rnas <strong>de</strong> saber/po<strong>de</strong>rque tomam por alvo a vida.Com relação à história da <strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong>, seria <strong>para</strong>doxal querer fazer<strong>uma</strong> história da <strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong> no nível dos corpos, sem tratar do sexo, poisO sexo seria, na realida<strong>de</strong>, o ponto <strong>de</strong> fixação que apoia asmanifestações da <strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong> ou, ao contrário, <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>iacomplexa historicamente formada no seio do dispositivoda <strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong>? Po<strong>de</strong>r-se-ia mostrar, em todo caso, <strong>de</strong> quemaneira esta i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> sexo se formou através das diferentesestratégias <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e que papel <strong>de</strong>finido <strong>de</strong>sempenhou nissotudo. (FOUCAULT, 1988: 143)O <strong>de</strong>senvolvimento do dispositivo da <strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong>, a partir do séculoXIX, traz a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que existe algo mais do que corpos, órgãos, funções,sistemas anatomo-fisiológicos, sensações e prazeres. Existe algo quepossui proprieda<strong>de</strong>s intrínsecas, assim como, suas próprias leis: o sexo.Como aponta Carole Vance (1995), o órgão <strong>sexual</strong> mais importante doh<strong>uma</strong>no não se encontra entre as pernas, mas entre as orelhas.Surge, assim, <strong>uma</strong> teoria geral do sexo, que exerceu forte influênciasobre o dispositivo da <strong>sexual</strong>ida<strong>de</strong>, entre elas três mais importantes:• • Primeiro, a noção <strong>de</strong> sexo que permite agrupar, <strong>de</strong> acordo com<strong>uma</strong> unida<strong>de</strong> artificial, elementos anatômicos, funções biológicas,condutas, sensações e prazeres, que <strong>de</strong> certa maneira ganhouvalor universalizante.95
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