ambos os sexos e a uma simetria no compromisso do homem e da mulher em relação àfamília e ao casamento, tende a romper com o modelo de família patriarcal que vigora<strong>na</strong>s sociedades latino-america<strong>na</strong>s que atribuem aos gêneros sentidos diversos eassimétricos 11 , sendo tal condição mais difícil de ser assumida pelos homens do quepelas mulheres. Mesmo assim, é recorrente <strong>na</strong>s mulheres convertidas aopentecostalismo a expectativa de que toda a sua família ingresse <strong>na</strong> igreja 12 .Quando nos perguntamos, porém, se o pentecostalismo chega ao ponto dereconfigurar os papéis de gênero, com reflexos <strong>na</strong> sociedade, sobretudo <strong>na</strong> família, aresposta não é unívoca. Assim, se Elizabeth Brusco, referindo-se à Colômbia, afirmaque o pentecostalismo constitui um movimento "estratégico" das mulheres enquanto"antídoto do machismo" (Brusco, 1995), Marion Aubrée, referindo-se ao Brasil,sustenta, em sentido inverso, que a mulher pentecostal se encontra numa situação desubordi<strong>na</strong>ção diante do homem, tido como "o cabeça" da mulher (Aubrée, 1998).Outros autores, porém, apresentam nuances a essa questão. É o caso de Cecília Mariz,para quem"embora o pentecostalismo não leve à superação da posição subalter<strong>na</strong> femini<strong>na</strong>,protege as mulheres em seu cotidiano, ajudando-as a obter vantagens em questõesespecíficas do dia-a-dia (visto que) as igrejas pentecostais trazem os homens para omundo doméstico e redefinem o papel de macho propondo novos valores para ocomportamento masculino. O pentecotalismo parece, então, redefinir os papéismasculino e feminino no espaço público e privado, ao abrir espaço fora do lar para asmulheres e ao ´domesticar´o sexo masculino" (Mariz, 1996: 184-185).Enfim, Clara Mafra sublinha que o discurso e a prática pentecostais se situariama meio caminho entre os dois modelos: o herdado tradicio<strong>na</strong>l ibero-americano e omoderno igualitário (Mafra, 1998: 244).Seja como for, existe hoje no pentecostalismo latino-americano ao menos umatensão entre um discurso religioso que legitima a existência de "uma hierarquiadefinitiva entre homens e mulheres, <strong>na</strong> qual cabe ao homem a posição de "cabeça" dafamília e à mulher a de "ajudadora", conforme ensi<strong>na</strong>mento Paulino, amplamentepregado pelos líderes das igrejas evangélicas" (Francisco, 2002: 23), e outro discursoque aponta para uma ação femini<strong>na</strong> não-conformista à ordem hierárquica predomi<strong>na</strong>nte<strong>na</strong> cultura machista, mesmo que ele não seja explicitado de maneira totalmenteconsciente (Machado, 1996: 197), e que ele ocorra enquanto conseqüência nãointencio<strong>na</strong>l do trabalho feminino no âmbito pentecostal (Francisco, 2002: 37).15
Enfim, há um outro aspecto associado ao pentecostalismo que deve sersublinhado, pois incide sobre a sociabilidade dos seus membros. Trata-se da formaçãode redes sociais organizadas em torno dos chamados “G12” (grupo de doze membros),que se difundem também junto a outras igrejas evangélicas históricas, sobretudo aschamadas “renovadas”, com o nome de “igreja em célula”. Origi<strong>na</strong>das nopentecostalismo sul-coreano, tais formas organizacio<strong>na</strong>is estão se espalhando nos meiospentecostais latino-americanos <strong>na</strong> forma de encontros de um certo número de fiéis <strong>na</strong>scasas dos membros desses grupos enquanto atividades complementares aos cultosrealizados nos templos. A diferença entre os dois modelos radica <strong>na</strong> idéia de queparticipar de um grupo “G12” implica <strong>na</strong> “missão” de compor outros grupos “G12”,caracterizando uma progressão geométrica de fiéis (e convertidos), enquanto que a“igreja em célula” se restringiria a um pequeno número de fiéis que se reúnem para umaatividade religiosa.Como veremos mais à frente, tais formas de organização religiosa exercitam asociabilidade dos seus membros, fortalecendo as suas relações sociais.Atemo-nos agora, de forma mais pontual, à análise das relações Igreja-Estado edas representações e práticas religiosas, e suas incidências sociais, em cinco paíseslatino-americanos.3. Relações Igrejas-Estado e representações religiosas em alguns paíseslatino-americanosComo foi mencio<strong>na</strong>do acima, os países tomados para a análise foram, em ordemalfabética, Argenti<strong>na</strong>, Brasil, México, Uruguai e Venezuela. Eles representam, também,os três regimes de relações Igreja-Estado acima referidos, a saber: Argenti<strong>na</strong> (quereconhece legalmente a Igreja Católica como religião de Estado); Uruguai (que sustentaa separação Igreja-Estado, mas que, constitucio<strong>na</strong>lmente, reservou à Igreja Católica umtratamento especial); e Brasil, México e Venezuela (que sustentam a separação Igreja-Estado).3.1. Argenti<strong>na</strong>16
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