complacente com os militares, a CEU manteve-se numa situação intermediária entre asposições episcopais brasileira e argenti<strong>na</strong> frente às ditaduras militares.Na atualidade, apesar de todas as medidas políticas e sociais tomadas, ocatolicismo em particular, e a religião em geral, não desapareceram do espaço públicouruguaio.As relações catolicismo-estado parecem ter melhorado qualitativamente depoisdo triunfo da esquerda, malgrado conflitos, por vezes contundentes, semelhantes aosocorridos ultimamente <strong>na</strong> Argenti<strong>na</strong>, em razão da “Ley de Salud Sexual yReproductiva”, proposta pelo governo, bem como das posições conservadoras tomadasem 2003 pela hierarquia católica em relação ao tema do homossexualismo.A Igreja Católica uruguaia foi também convocada, de forma semelhante ao queocorreu <strong>na</strong> Argenti<strong>na</strong>, para colaborar no planejamento do “Plano de Emergência” -Plano de ajuda gover<strong>na</strong>mental orientado aos setores mais afetados pelo neoliberalismo -o qual contribuiu para colocar a Igreja Católica numa situação claramente positiva,consolidando-se como um ator social importante <strong>na</strong> atual conjuntura do país.Além disso, si<strong>na</strong>is dos “novos tempos” é a presença de símbolos religiosos emespaços públicos uruguaios. Assim, por exemplo, em 1987, após um importante debatepúblico, foi assegurado legalmente a manutenção, em pleno cruzamento das ruasBulevar Artigas e Dante, em Montevidéu, da denomi<strong>na</strong>da “Cruz do Papa”, erigida paracomemorar a passagem de João Paulo II pelo Uruguai. Também <strong>na</strong> década de 1990 foierigido um monumento a Yemanjá - perto da Praia Ramírez, em Montevidéu - onde sefaz anualmente, em 2 de fevereiro, uma home<strong>na</strong>gem à deusa do mar, segundo a tradiçãoafro-brasileira, constituindo-se <strong>na</strong> maior festa popular que ocorre em Montevidéu (Pi-Hugarte, 1998). Na i<strong>na</strong>uguração desse monumento compareceu o então prefeito dacapital Tabaré Vázquez, atual Presidente da República.Igualmente, o peso social da religião no Uruguai se manifesta no“desenvolvimento de diferentes formas de catolicismo popular - San Cono, la Virgendel Verdún, la Gruta de Lourdes, San Pancrácio, etc -o crescimento doneopentecostalismo e a importante floração dos cultos afroamericanos, para citar algunsexemplos” (Geymo<strong>na</strong>t, 2004: 6).De fato, mesmo que o Uruguai tenha sido um país que se quis historicamentelaico e secular, a religião, como pondera Da Costa,“tem sido um fenômeno sempre presente <strong>na</strong> cultura local, mas alem do quenossas percepções como sociedade tenham tido capacidade de dar conta dele (...) Para39
uma sociedade como a uruguaia que tem construído um imaginário a esta altura mítico,vinculado à assepsia das crenças e uma obsessão pela integração social negadora dasdiferenças e a diversidade, seria conveniente começar a dizer-nos, a dizer-se a simesmo, que é como é, diversa, distinta, plural e não igual, homogênea” (Da Costa,2004: 70).Somente que, como assi<strong>na</strong>da Semán, diferentemente da Argenti<strong>na</strong>, como vimos,onde o catolicismo não quer se assumir como religião, mas manter a sua condição de“igreja” <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, no Uruguai,“o catolicismo, os afro-brasileiros e os diversos grupos religiosos se assumemcomo religiões, integrantes de um domínio específico que devem lutar duramente parapoder aparecer <strong>na</strong> ce<strong>na</strong> pública sem serem acusados de violar a laicidade” (Semán,2006: 26).Seja como for, como sustenta Caetano, tudo indica que se verifica atualmente noUruguai “u<strong>na</strong> nueva delimitación de las fronteras de lo público y de lo privado y u<strong>na</strong>consiguiente recolocación del “lugar del religioso” en la vida social de los uruguayos”(Caetano, 2004: 229). Para este autor, os indicadores que caracterizam a passagem dovelho modelo para o atual seriam, entre outros, os seguintes:“el establecimiento de otros monumentos religiosos en espacios públicos; lapresencia expansiva de programas religiosos proselitistas en los medios decomunicación; la consolidación de manifestaciones multitudi<strong>na</strong>rias a propósito de viejase nuevas festividades y ceremonias de origem religioso diverso; la irrupción de algunosacontecimientos novedosos en lo que hace al relacio<strong>na</strong>miento de las autoridades y de lospoderes públicos con las instituciones religiosas en general; entre otros” (Caetano,2004: 236).Como explicitaremos a seguir, a situação da Venezuela difere em grande medidadaquela do Uruguai.3.5. VenezuelaA Venezuela se inscreve entre os países em que o catolicismo recolhe uma maiorquantidade de pertencimentos, seguido dos evangélicos, que tendem a aumentar onúmero de fiéis com a expansão pentecostal sobretudo junto às camadas sociaisdesfavorecidas, e de uma minoria estável de religiões afro-america<strong>na</strong>s, de sem religião ede outras expressões religiosas como o Culto a Maria Lionza 24 .A Venezuela, da mesma forma que o Brasil e a Argenti<strong>na</strong>, também tem a suaVirgem Protetora. É a Virgem de Coromoto. Segundo o mito, em 1651, um chefe40
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