dinheiro, alem de fisiologismos e defesa de interesses particulares 29 . Segundo ospentecostais, a falência do político está relacio<strong>na</strong>da às “forças demoníacas” que atuam<strong>na</strong> política, mas que eles se dão como missão de enfrentar e superar já que estão deposse de um poder infinitamente superior: o poder do Senhor e do Espírito Santo. Estediscurso é constantemente veiculado e reproduzido pelos dirigentes evangélicos em suaspregações <strong>na</strong>s igrejas e nos templos.Neste caso, a aproximação pentecostal ao político deriva não de uma“insuficiência de consciência política”, mas, antes, de um “recurso cultural”, detentor deefeitos políticos 30 , levado a efeito por indivíduos inseridos numa cultura em que “odomínio do “sobre<strong>na</strong>tural” aparece como fundamental para compreender o sistema derepresentações...” (Velho, 1991: 129).Por outro lado, o ingresso evangélico-pentecostal <strong>na</strong> política resulta também datomada de consciência da sua importância numérica e do seu capital político, capaz deconduzi-los a reivindicar igualdade de tratamento recebido historicamente do Estadopela Igreja Católica em termos de recursos públicos, apoio a projetos e programassociais. Em outras palavras, como refere Coradini em relação aos candidatosevangélicos brasileiros, a maioria deles “parece menos preocupada “em ´politizar´determi<strong>na</strong>das esferas e questões sociais” do que em se apropriar dos cargos políticos ecolocá-los “a serviço da religião e da filantropia” (Coradini, 2001: 55; citado porMachado, 2003: 286). Assim sendo, os políticos evangélicos estariam reproduzindouma característica da cultura política brasileira, extensiva a outros países latinoamericanos,onde os políticos agem e atuam “em nome das suas bases” (Bezerra, 1999),sobretudo <strong>na</strong> vida política dos municípios e dos estados. Isto significa que os políticosevangélicos não tendem a cumprir seus mandatos em nome “dos religiosos” em geral oude macro expressões religiosas como “os evangélicos", mas em nome de suasdenomi<strong>na</strong>ções, igrejas, grupos religiosos específicos, dos quais eles são os seusrepresentantes. Isto chega a tal ponto que, referindo-se aos deputados evangélicos noparlamento brasileiro, Ricardo Mariano afirma: "com raras excessões eles são osdespachantes de suas igrejas" (Mariano, 2001: 7).Ora, para os políticos evangélico-pentecostais esse modo de procederassociado à defesa de interesses de suas respectivas organizações religiosas não é algonovo. Eles somente estão deslocando para o campo político o que estão habituados arealizar no domínio religioso, em razão da concorrência existente hoje <strong>na</strong> AmericaLati<strong>na</strong> entre as denomi<strong>na</strong>ções, igrejas, religiões, grupos religiosos, o que faz com que49
todo o líder aja no “mercado religioso”, de alguma forma, em nome de sua própriainstituição religiosa.Mas, assim procedendo, os políticos evangélicos estariam reproduzindo outracaracteristica da cultura política brasileira e latino-america<strong>na</strong>: o clientelismo político.Segundo esta fórmula, os políticos em geral desencumbem-se como mediadores dasdemandas e interesses (favores, cargos, empregos, serviços etc.) dos eleitores e dossegmentos sociais (a “base” eleitoral) dos quais eles são representantes nos parlamentos,sobretudo nos municípios e estados das federações.Neste caso, encontramos novamente uma semelhança entre a prática políticaclientelista e a prática religiosa desenvolvida pelos lideres religiosos e suas igrejas,sobretudo as pentecostais, mas também as mediúnicas. Em ambos os casos, os políticose os líderes religiosos atuam como mediadores <strong>na</strong>s resoluções dos problemas queatingem seja os eleitores seja os fiéis.A hipótese que gostaria de avançar então é que as religiões que acabo demencio<strong>na</strong>r, sobretudo as pentecostais, embora participem do político institucio<strong>na</strong>ldificilmente se tor<strong>na</strong>rão insitutintes do político e isto em razão da existência de umabase comum que associa e garante uma certa homologia entre os modelos religiosos epolíticos mencio<strong>na</strong>dos. Trata-se do seu caráter imanente, que privilegia o indivíduo e ocontato pessoal, também emocio<strong>na</strong>l, não sem mediações, como a mídia, por exemplo,procurando dar uma resposta e mesmo uma solução às suas demandas, suasnecessidades e suas dificuldades, tanto no campo político quanto religioso. Também éparte integrante dos dois campos as noções de obrigação e de reciprocidade entre fiéislíderesreligiosos-igrejas, bem como entre eleitores-políticos e mesmo partidos políticos.Sugerimos, então, que não é por acaso se entre os religiosos são sobretudo ospentecostais que procuram se integrar no político institucio<strong>na</strong>l <strong>na</strong> <strong>América</strong> Lati<strong>na</strong>,formando as chamadas “bancadas evangélicas”. Evidentemente, as razões destapresença no político são múltiplas - algumas delas apontadas acima - mas por que nãopensar também que os pentecostalismos - religiões que mantém uma relação imanentecom o sagrado - são atraídos pelo político porque eles percebem neste campo, em largamedida também ele imanente, a possibilidade de reproduzir ali o seu modelo de relaçãocom o sagrado? Se tal é o caso, a maneira de ser imanente dos pentecostais se adapta50
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