tor<strong>na</strong> a escola gratuita e obrigatória e introduz nelas um modelo de laicismo radical,embora atenuado no início pela possibilidade de uma educação religiosa “optativa”.Na seqüência, o chamado “batllismo” vai ter grande importancia <strong>na</strong> formação da<strong>na</strong>ção laica. O primeiro batllismo refere-se à figura de José Batlle y Ordóñez, presidenteuruguaio em duas ocasiões: 1903-1907 e 1911-1915, cujo projeto político transcende afigura presidencial pois destacam-se vários agentes políticos e sociais enquantoconstrutores de uma democracia pluralista e de forte conteúdo social. Este “batllismoprimeiro”, que vigorará até aproximadamente a década de 30, tem sua continuidade no“neo-batllismo” (1946-1958), protagonizado sobretudo pela figura do Presidente daRepública Luis Batlle Berres. Este “neo-batllismo” vai reiterar e afirmar os mitos erepresentações da identidade <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l (Guigou, 2006).Além da importância atribuída à escola laica, obrigatória e gratuita, enquanto“templo” da religião civil uruguaia, outro importante mito da <strong>na</strong>ção laica residia <strong>na</strong>diluição das heterogeneidades culturais - o gaúcho, o índio, o afro-uruguaio - e suaabsorção pela via do desaparecimento ou, então, por meio de sua colocação em umponto inferior dentro do esquema hierárquico de evolução em direção a uma cidadaniaple<strong>na</strong>. O único outro aceito será o imigrante europeu, através da sua “<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>lização”(ou seja, sua “uruguaicização”).O processo de laicização foi, em grande medida, um processo de luta contra aIgreja Católica, a qual foi mantida como religião de Estado desde a Declaração daIndependência (1830) até sua separação em 1917. Trata-se de um processo que pode serdatado cronologicamente. Assim, em 18 de abril de 1861 ocorreu a secularização doscemitérios; em 1906, a retirada de imagens religiosas dos hospitais; nos anos de 1907,1910, 1913, foram promulgadas leis progressivas sobre o divórcio, que culmi<strong>na</strong>ramcom a possibilidade do divórcio pela vontade única da mulher no ano 1913; em 1907,ocorreu a elimi<strong>na</strong>ção do juramento sacramental para os legisladores: “Igual medida setomó en 1911 para el juramento de los ediles. Para del Presidente de la República, porestar establecido en el texto de la Constitución, debio esperar a la reforma de ésta.”(Ardao, 1962: 394); em 1909, ocorreu a implantação do ensino laico <strong>na</strong>s escolaspúblicas, radicalizando o modelo de escola laica, gratuita e obrigatória da reforma de1877; em 1910, verificou-se o monopólio <strong>na</strong> gestão da assistência sanitária pública porparte do Estado; em 1911, ocorreu a supressão de toda referência religiosa no CódigoMilitar (supressão de honras e sacramentos nos ritos militares); em 1917 deu-se a37
separação formal da Igreja Católica do Estado (entrou em vigência em 1919); e, em1919, mudaram os nomes dos feriados católicos 22 .Alem disso, verificou-se um conjunto de manifestações anticlericais que podemser resumidas nos denomi<strong>na</strong>dos “banquetes da promiscuidade”, onde os simpatizantesdo anticlericalismo faziam grandes churrascadas diante da catedral de Montevidéu nemmais nem menos do que <strong>na</strong>s sextas-feiras da Sema<strong>na</strong> Santa (Da Costa, 1997: 94-95).Ainda segundo Da Costa, até os anos 1960 a Igreja praticamente secircunscreveu ao âmbito do privado e deixou de pleitear um lugar no espaço público.Mas a partir de então, muda não somente o mundo católico, mas a própria sociedadeuruguaia, e se observa uma reconfiguração do espaço religioso, sobretudo em razão dopluralismo religioso resultante de uma busca do sagrado que se faz presente no país (DaCosta, 2004: 63-65).Si<strong>na</strong>l dessa mudança é o fato, já mencio<strong>na</strong>do, de, malgrado toda a história delaicização que em grande medida significou uma tentativa de “descatolicização”, oartigo 5 da Constituição de 1967, reformulada em 2004, reconhecer e assegurar à IgrejaCatólica o domínio de todos os templos construídos com o Erário Público Nacio<strong>na</strong>l.A relação entre Igreja Católica e ditadura (1973-1985), embora seja ainda umcapítulo a ser escrito 23 , por um lado fez reaparecer a histórica relação de conflito entreIgreja e Estado, mas, por outro, revelou a tentativa de contemporização que estava entãoem andamento.De fato, nesse período a Igreja Católica, bem como as evangélicas, foramcolocadas pelas forças armadas no campo inimigo, razão pela qual a repressão vaitambém recair sobre elas. Se, num primeiro momento, em 1974, a Igreja assume aposição de não fazer nenhuma declaração sobre a situação do país, em 1975 aConferência Episcopal Uruguaia (CEU), fundada em 1965, promulga uma carta pastoralque recebeu duas versões, tendo sido a maior investida episcopal pública durante oregime militar. A última versão da carta, porém, diz Dabezies, mostra uma “verdadeiraautocensura e correção do pensamento episcopal (...) o que redunda em uma evaporaçãode conteúdos concretos, fundamentais <strong>na</strong> definição da missão da Igreja num lugar emomento precisos, o que era o objetivo da carta” (Dabezies, 2004: 554-55).Assim sendo, pode-se concluir que se, no caso do Brasil, a CNBB assumiu umaposição crítica em relação ao regime militar, contrariamente à CEA, que foi sempre38
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