Foi neste período da revolução, como vimos acima, que ocorreram no Méxicoataques a prédios católicos e mortes e assassi<strong>na</strong>tos de membros do clero, vários delestendo sido reconhecidos oficialmente, por essa razão, como santos da Igreja Católica 21 .Os governos pós-revolucionários (1917-1934), como estratégia de relaçõespolíticas e econômicas com os Estados Unidos, estabeleceram uma forte aliança com osprotestantes e, ademais, tiveram sérios enfrentamentos com a Igreja Católica. OPresidente Calles, por exemplo, “acusó a la Iglesia católica de intolerante, de manteneral pueblo en la ignorância, de fomentar el fa<strong>na</strong>tismo, de ambicio<strong>na</strong>r la riqueza y elpoder, de promover mítines y revueltas, de ir en contra de los ideales revolucionários”(De la Torre, 2000: 103). Por isso mesmo, proibiu “las expressiones religiosas publicasy visibles, el uso de sota<strong>na</strong> en las calles, se pidió el registro de los curas en gober<strong>na</strong>ción,un informe mensual de actividades del clero y un inventario de sus bienes” (Id; Ibid.).Neste período, a Igreja Católica, de sua parte, acusava o governo de ser protestante, dequerer acabar com a Igreja e assim “descatolicizar” o país, de ir contra as tradições<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is e o “sagrado direito de propriedade privada” (Id. Ibid.).O governo de Carlos Sali<strong>na</strong>s (1988-1994) mudou drasticamente a situação atéentão vigente <strong>na</strong>s relações Igrejas-Estado. Visando buscar apoio da Igreja Católica paraobter uma maior legitimação social, propôs a modificação da constituição mexica<strong>na</strong>.Assim, em dezembro de 1991,“las iglesias fueron reconocidas como instituciones con u<strong>na</strong> existência jurídica.Podian tener ahora propiedades y centros de enseñanza. Las procesionses y otrasceremonias religiosas se podían celebrar publicamente. Los sacerdotes y los ministrosde culto de todo tipo podían ahora votar, aunque las restricciones sobre su acceso a lospuestos políticos o cargos públicos se mantuvieron” (Id. Ibid.: 137).A “Ley de Asociaciones Religiosas y Culto Público” foi aprovada pelocongresso e entrou em vigor em julho de 1992 reconhecendo legalmente as igrejas egrupos religiosos como associações religiosas, desde que registradas pela Secretaria deGober<strong>na</strong>ción. Segundo a lei, as igrejas que podem gozar de perso<strong>na</strong>lidade jurídica nopaís são aquelas que exercem atividades religiosas há pelo menos cinco anos.Segundo Garma Navarro, em 1998 havia 5.266 associações religiosas registradas<strong>na</strong> Subsecretaria de Asuntos Religiosos, entre as quais cada uma das dioceses eparóquias católicas. Mais de mil registros concernem exclusivamente à Igreja Católica.As evangélicas chegavam a 2.550 registros. Os demais diziam respeito a gruposespiritualistas, mórmons e si<strong>na</strong>gogas judaicas.33
Note-se duas coisas: em primeiro lugar, no México, diferentemente daArgenti<strong>na</strong>, a Igreja Católica deve submeter-se como qualquer outra organizaçãoreligiosa diante do aparelho estatal, sendo obrigada a realizar seu registro em órgãosgover<strong>na</strong>mentais. Em segundo lugar, a lei em questão foi elaborada para as igrejas jáestabelecidas. Por isso mesmo, grupos religiosos como Nova Era, Mahi Kari, LaFamília, Sokka Gakei, religiões tradicio<strong>na</strong>is indíge<strong>na</strong>s, etc, encontram dificuldade deregistro burocrático. Se um grupo não consegue o registro, ou se nega a fazê-lo, podeseguir existindo mas, lembra Garma Navarro,“no tiene derechos legales como u<strong>na</strong> asociación religiosa. No puede vendermaterial religioso y puede ser denegada su solicitud para llevar a cabo publicamenteactos colectivos. Tampoco estaria exento de impuestos como lo estarian las iglesiaslegalmente reconocidas” (Id. Ibid.: 140).Hoje, no México, diz Garma Navarro, a Igreja Católica possui ainda “tremendainfluencia y peso”. Por isso mesmo, “aplicar la ley a los sacerdotes y obispos de lainstitucion religiosa domi<strong>na</strong>nte no siempre es un acto popular, y puede da<strong>na</strong>r la carrerafutura de más de un político” (Id. Ibid.: 143). Por outro lado, recorda Roberto Blancarte,neste século, e mesmo <strong>na</strong> atualidade, é baixo o número de sacerdotes católicos, tendoisto seus efeitos sobre a religiosidade popular. Diz o autor:“En México, todavia hoy y durante este siglo, el número de sacerdotes porhabitante es aproximadamente de 1 por cada 6 mil habitantes. El resultado es uncatolicismo “popular” donde no solo se “adaptan” y “refuncio<strong>na</strong>lizan” diversastradiciones religiosas, sino que tienen como característica principal la ausencia real deun liderazgo religioso de tipo burocrático. En el vacío que se genera surgen entoncestodo tipo de profetismos y mesianismos, sobre todo, pero no solamente, en la zo<strong>na</strong> rural,ape<strong>na</strong>s controlados por u<strong>na</strong> Iglesia y un poder civil que se contemporizan y secomplementan, en la medida de lo posible” (Blancarte, 2000: 7).Mesmo assim, conclui Garma Navarro, “se debe admitir que ha habido unesfuerzo para reconocer a las iglesias como instituciones legales y para establecer u<strong>na</strong>sociedad más tolerante y plural” (Garma Navarro, 1999: 143).Toda essa histórica relação conflitiva entre governo e igreja católica no México,bem como as ações específicas levadas a efeito neste país por cada uma dessasinstituições, se reflete <strong>na</strong> pesquisa realizada em 2003 por André Corten e sua equipe.Com efeito, a investigação revelou que o México se destaca dos demais países latinoamericanospesquisados. Ele se encontra num extremo, com uma fraca taxa de respostaspositivas aos enunciados e afirmações relativas à religião - uma diferença de cerca de 30pontos em relação aos demais países - enquanto que a Venezuela, onde prevalece uma34
- Page 1 and 2: Coesão Social na América Latina:B
- Page 3 and 4: Religião, Coesão Social e Sistema
- Page 5 and 6: eligião predominantes nas Ciência
- Page 7 and 8: É no terceiro modelo, o da separa
- Page 9 and 10: Tabela II - Quadro religioso dos pa
- Page 11 and 12: Estados Unidos, predominantemente e
- Page 13 and 14: no âmbito das transformações das
- Page 15 and 16: pessoais, profundamente abaladas co
- Page 17 and 18: Enfim, há um outro aspecto associa
- Page 19 and 20: Com o retorno da democracia, porém
- Page 21 and 22: Um dos fundamentos de tal mentalida
- Page 23 and 24: uma culpabilização (...). A isto
- Page 25 and 26: É neste contexto cultural que para
- Page 27 and 28: no presente na Argentina, como vimo
- Page 29 and 30: católicos numa grande gama partid
- Page 31 and 32: Porém, nas últimas eleições maj
- Page 33: “No Brasil os imaginários polít
- Page 37 and 38: Consequentemente,“para os mexican
- Page 39 and 40: separação formal da Igreja Catól
- Page 41 and 42: uma sociedade como a uruguaia que t
- Page 43 and 44: pobre e a metade desta cifra é com
- Page 45 and 46: eligiosos, mesmo em espaços públi
- Page 47 and 48: Novamente recuperando as sugestões
- Page 49 and 50: “tem um Deus dos exércitos e um
- Page 51 and 52: todo o líder aja no “mercado rel
- Page 53 and 54: qual se insere a religiosidade) e a
- Page 55 and 56: Burdick, John (1993), Looking for G
- Page 57 and 58: Mariz, Cecília (1996), "Pentecosta
- Page 59 and 60: total o parcialmente construidos co
- Page 61: ao nepotismo e à corrupção. Segu