líderes evangélicos que atuaram fortemente contra o regime, o que mostra que de formasemelhante ao que vimos em relação à Igreja Católica, não parece ter havido umau<strong>na</strong>nimidade de posicio<strong>na</strong>mentos de parte das igrejas evangélicas e de seus líderesfrente ao regime militar.A partir da Assembléia Nacio<strong>na</strong>l Constituinte de 1986, ou seja, após aredemocratização do país, os evangélicos ingressaram em maior número <strong>na</strong> políticabrasileira e ganharam visibilidade. Nessa ocasião, foi implantada no CongressoNacio<strong>na</strong>l a chamada “Bancada Evangélica”, uma bancada pluripartidária, composta de33 membros, sendo 18 deles do ramo pentecostal, especialmente da Assembléia deDeus, com 14 deputados. Segundo Antônio Flávio Pierucci, não se tratou de umabancada “política e ideologicamente homogênea e, por conseguinte, tampouco o sãosuas bases de voto”; sendo majoritariamente formada por conservadores, eles teriamindicado a direção por onde andou esse grupo parlamentar (Pierucci, 1996: 165-166).A partir de 1989, os evangélicos se engajaram <strong>na</strong>s eleições majoritárias e sedividiram nos apoios aos candidatos à presidência da república. Nas eleições de 1990, arepresentação evangélica no Congresso Nacio<strong>na</strong>l baixou para 22 deputados, dadointerpretado dentro e fora das igrejas como uma reação do eleitorado evangélico ao tipode atuação política (fisiológica e anti-ética, em alguns casos), levada a efeito por algunsparlamentares evangélicos <strong>na</strong> legislatura anterior. Nas eleições de 1994, a bancadaevangélica no Congresso subiu novamente, agora para 31 deputados federais, dos quais19 pentecostais, e destes 6 da Igreja Universal do Reino de Deus. Nas eleições de 1998a “bancada evangélica” voltou a crescer, agora para 53 deputados, ligados a 13 igrejas(Revista Época, 2/10/2000).Nas eleições majoritárias de 2002 concorreu a presidente da República AnthonyGarotinho, o primeiro candidato evangélico a participar de uma campanha à presidênciada república. O ex-gover<strong>na</strong>dor do Rio de Janeiro se converteu ao protestantismo em1994, após um acidente automobilístico 20 . Ainda em 2002 a “bancada evangélica” saiumais fortalecida, com 59 parlamentares, sendo 23 deputados filiados às Assembléias deDeus, 22 vinculados ou apoiados pela Universal, 8 batistas, e os demais de outrasdenomi<strong>na</strong>ções, significando um aumento de cerca de 25% em relação à bancada anterior(Jor<strong>na</strong>l Folha de São Paulo, 10/10/2002). Também no Se<strong>na</strong>do houve um aumento deevangélicos. Agora são quatro, um deles sendo o Bispo Marcelo Crivella, da IgrejaUniversal, eleito pelo Rio de Janeiro.29
Porém, <strong>na</strong>s últimas eleições majoritárias de 2006 a bancada evangélica perdeuespaço, por razões que explicitaremos mais à frente. Dos 59 deputados da legislaturaprecedente agora são 34, assim distribuídos: 10 Assembleia de Deus; 7 Batistas; 6Universal; 3 Sara Nossa Terra; 3 sem denomi<strong>na</strong>ção; 2 Lutera<strong>na</strong>; 1 Evangelhoquadrangular; 1 Presbiteria<strong>na</strong> e 1 Mara<strong>na</strong>ta.3.2.3. Aproximação de imaginários religiosos e políticosNa pesquisa levada a efeito em 2003 no Brasil por André Corten e sua equipe doGRIPAL houve a constatação de que diante de enunciados de ordem política foibastante elevado o número de brasileiros que se disseram “sem opinião”. Por exemplo:enunciados como: “Ainda hoje em dia um movimento popular pode acabar com umaditadura”, ou outros que concernem os desaparecidos políticos, os antigos ditadores e areconciliação <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. No dizer de Corten,“O sem opinião no Brasil ilustra que os brasileiros não identificam este tipo deimaginário político. Em relação aos outros latino-americanos eles são definitivamenteos menos númerosos a reagirem aos imaginários políticos instituídos. Em outros termos,estes “não lhes dizem <strong>na</strong>da”, eles não acendem nenhuma luz <strong>na</strong> sua compreensão geraldo mundo, eles não tem importância. Esta tendência à ausência de opinião correspondetambém ao fato de que os brasileiros são menos númerosos do que os outros latinoamericanosa considerar que se pode fazer alguma coisa para mudar a sociedade eacompanha seu ceticismo relativo à aplicação das leis” (Corten et alii, 2007: 11-12).Corten captou em sua pesquisa o que o historiador José Murilo de Carvalhotambém constatou em suas pesquisas acerca da relação entre os brasileiros e os fatoshistóricos <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is. Disse o historiador:“A história política, as grandes datas como a Independência, a República, aRevolução de 1930, e até mesmo o fim da ditadura militar, não foram registradas <strong>na</strong>memória de muitos como conquista popular. Muitos brasileiros ainda assistem aosacontecimentos políticos como se não lhes dissessem respeito” (Carvalho, 2000: 12 –grifo nosso).A mesma pesquisa realizada pelo GRIPAL revelou que o religioso brasileiroprivilegiado é o da “consolação” e neste ponto não há diferenças entre os católicos e osevangélicos, embora haja diferenças entre os brasileiros e os outros latino-americanos.Essa constatação aparece, por exemplo, quando se observa os resultados de enunciados30
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