inspiração i<strong>de</strong>ias, essas malditas <strong>de</strong>lícias Buscar soluções para problemas tem em comum a forma paradoxal que tanto po<strong>de</strong> causar admiração e, na mesma medida, ódio. Esses extremos inspiram Adriano Matos 22 5 <strong>de</strong> <strong>fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark
Fotos: Divulgação e Arquivo Pessoal Adriano Matos é diretor <strong>de</strong> criação executivo da Grey Brasil AdriAno MAtos Especial para o ProPMArK Um prato à base <strong>de</strong> parmesão para reaproveitar todo o queijo <strong>de</strong>spedaçado por um terremoto e impossibilitado <strong>de</strong> ser comercializado. Uma charge em que Trump esbraveja usando megafone em forma <strong>de</strong> gorro da Ku Klux Klan, mostrando que seu discurso amplifica o ódio. Uma tinta invisível que faz objetos brilharem no escuro para proteger ciclistas <strong>de</strong> atropelamentos. Um sabonete <strong>de</strong> glicerina com um brinquedo <strong>de</strong>ntro. Para acessá-lo, crianças são obrigadas a lavar as mãos com frequência. Uma obra <strong>de</strong> arte pitoresca: um ví<strong>de</strong>o <strong>de</strong> 24 horas <strong>de</strong> duração, em looping, só com cenas <strong>de</strong> relógios que aparecem em filmes e programas <strong>de</strong> TV, criando um relógio funcional sincronizado com o horário real. Faixas <strong>de</strong> pe<strong>de</strong>stres pintadas em 3D, para criar uma ilusão <strong>de</strong> ótica e forçar motoristas a respeitarem a sinalização. A história <strong>de</strong> uma mulher que entra em um hospício para dar um telefonema e fica presa lá porque, não importa o que diga, é tida como louca. Ou <strong>de</strong> um mundo <strong>de</strong> monstros que fabricam energia a partir dos gritos das crianças que eles assustam à noite. Um perfil <strong>de</strong> Twitter criado para i<strong>de</strong>ntificar nazistas a partir <strong>de</strong> fotos em manifestações. E os <strong>de</strong>nuncia às suas empresas para que sejam <strong>de</strong>mitidos. Um easter egg musical: duas notas que reproduzem o canto do pássaro Matita Perê, tocadas no exato momento em que a letra da música cita a ave. I<strong>de</strong>ias, i<strong>de</strong>ias, i<strong>de</strong>ias. Artísticas, sociológicas, tecnológicas, inovadoras, <strong>de</strong> negócios, <strong>de</strong> comunicação, <strong>de</strong> novos produtos e serviços. I<strong>de</strong>ias formatadas, <strong>de</strong>sformatadas e inclassificáveis. As gran<strong>de</strong>s i<strong>de</strong>ias são minha verda<strong>de</strong>ira fonte <strong>de</strong> inspiração. Aquelas i<strong>de</strong>ias que tocam, emocionam, provocam e <strong>de</strong>safiam. Que mudam o comportamento humano. Solucionam problemas antes insolúveis. Abrem mentes e corações <strong>de</strong> forma irreversível. Tornam a vida mais fácil, mais justa, mais leve, melhor. Empurram a humanida<strong>de</strong> para frente. São elas que me tiram da cama e me levam à agência, todos os dias. Mas também são elas que me <strong>de</strong>rrubam, me nocauteiam. Explico: para quem trabalha em criação, gran<strong>de</strong>s i<strong>de</strong>ias são paradoxais. São <strong>de</strong>liciosas e cruéis, na mesma medida. E comigo não é diferente. As gran<strong>de</strong>s i<strong>de</strong>ias me matam <strong>de</strong> admiração e <strong>de</strong> ódio. Chutam-me impiedosamente para fora da zona <strong>de</strong> conforto. Fazem-me sentir miseravelmente incompetente, porque são a prova <strong>de</strong> tudo o que eu po<strong>de</strong>ria ter feito e não fiz. Fazem-me sentir gloriosamente capaz, porque são a prova <strong>de</strong> tudo o que ainda posso fazer. Gran<strong>de</strong>s i<strong>de</strong>ias são cachaça. Dão barato e dor <strong>de</strong> cabeça. Levam à loucura e à ressaca. Mas sobretudo levam à incansável busca por novas i<strong>de</strong>ias. Porque cutucam o ego, abrem a cabeça, fertilizam o inconsciente, expan<strong>de</strong>m as perspectivas. “Se eu vi mais longe foi por estar nos ombros <strong>de</strong> gigantes”, reconheceu Newton. Nos ombros <strong>de</strong> gigantes como do chef Massimo Bottura; do ilustrador irlandês Jon Berkeley; dos criativos da Grey Londres e da Y&R África do Sul; do artista Christian Marclay; do ministro dos Transportes da Índia, Nitin Gadkari; <strong>de</strong> Gabriel García Márquez; dos roteiristas da Pixar Andrew Stanton e Daniel Gerson; dos criadores do perfil @yesyouareracist; do mestre Tom Jobim e <strong>de</strong> tantos e tantos outros, enxerguei além. Entre dores e <strong>de</strong>lícias, angústias e êxtases, as gran<strong>de</strong>s i<strong>de</strong>ias me levaram mais longe. Easter egg musical Até o jeito estranho do Trump ativa i<strong>de</strong>ias. As duas notas que reproduzem o canto do pássaro Matita Perê, tocadas no exato momento em que a letra da música cita a ave, também. Faixa <strong>de</strong> pe<strong>de</strong>stres em 3D i<strong>de</strong>m (fotos acima). O que dizer da animação Monstros S.A. (foto à esquerda, na página ao lado), da Pixar? As i<strong>de</strong>ias fertilizam o inconsciente e expan<strong>de</strong>m perpectivas. jornal propmark - 5 <strong>de</strong> <strong>fevereiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> 23