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edição de 27 de agosto de 2018

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série espeCial<br />

<strong>de</strong> um bando. O lí<strong>de</strong>r é apenas uma peça<br />

que une uma série <strong>de</strong> pessoas com habilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma agência. Antigamente,<br />

o processo criativo era uma luta solitária;<br />

hoje, todos fazem parte do processo <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

sua concepção até a entrega final, inclusive<br />

o cliente”, conclui.<br />

A nova criação, portanto, <strong>de</strong>u fim à i<strong>de</strong>ia<br />

<strong>de</strong> um gênio que vai resolver todos os problemas,<br />

tal qual um Don Draper, personagem<br />

da consagrada série Mad Men. “Uma<br />

indústria que está em constante transformação<br />

pe<strong>de</strong>, <strong>de</strong> tanto em tanto, a figura<br />

<strong>de</strong> um messias. Aquela que não existia em<br />

caixinha nenhuma e, portanto, nos parece<br />

ser o gran<strong>de</strong> quebrador <strong>de</strong> paradigmas. Os<br />

bons lí<strong>de</strong>res tiveram <strong>de</strong> se adaptar e enten<strong>de</strong>r<br />

que a i<strong>de</strong>ia não fala mais sozinha, como<br />

antigamente. Se existe algo que mudou no<br />

nosso ofício é a distribuição. Se aperrar a<br />

uma i<strong>de</strong>ia e não enten<strong>de</strong>r que ela po<strong>de</strong> ser<br />

muitas, a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> on<strong>de</strong> ela veiculará, é<br />

a morte”, avalia Sophie Schönburg, diretora<br />

<strong>de</strong> criação da Africa.<br />

“Eu, por exemplo, sou um lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> criação<br />

da geração dos anos 1990 para frente e,<br />

<strong>de</strong> tempos em tempos, temos <strong>de</strong> nos adaptar,<br />

reinventar e apren<strong>de</strong>r. Antigamente<br />

nos baseávamos somente no talento do redator<br />

ou do diretor <strong>de</strong> arte como uma dupla.<br />

Hoje, fica claro que essa pessoa precisa<br />

ser muito mais versátil. É preciso ter aproximação<br />

com o digital, enxergar o projeto<br />

com um todo, seja conteúdo, inovação ou<br />

produto”, reconhece Erh Ray, sócio e CEO<br />

da BETC/Havas. O novo lí<strong>de</strong>r da criação,<br />

afirma, precisa ser muito aberto a todas as<br />

novas fórmulas e formatos que estão chegando.<br />

“O criativo mais antigo se contentava<br />

‘somente’ com uma mídia impressa e um<br />

filme na televisão. Enquanto profissionais<br />

<strong>de</strong> hoje querem inventar produtos e criar<br />

envolvimento não somente com o público<br />

consumidor, mas a comunida<strong>de</strong> e as pessoas<br />

que estão ao redor. Então, existe uma sofisticação<br />

no geral, que não existia antes”.<br />

pluralida<strong>de</strong><br />

A própria composição do setor <strong>de</strong> criação<br />

está em transformação. Cada vez mais complexa,<br />

segmentada e plural, a comunicação<br />

exige um perfil <strong>de</strong> equipe diverso, como<br />

aponta Larissa Magrisso, vice-presi<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> criação e conteúdo da W3haus. “Diversida<strong>de</strong><br />

racial, <strong>de</strong> gênero, <strong>de</strong> orientação sexual,<br />

<strong>de</strong> backgrounds. Em uma campanha<br />

para um absorvente feminino, mulheres<br />

que são mães criam com jovens da Geração<br />

Z. O lí<strong>de</strong>r criativo precisa incentivar essas<br />

conexões. Quanto mais diverso um time,<br />

mais original e único ele é”, resume ela.<br />

“Diferentemente do passado, hoje não po<strong>de</strong>mos<br />

nos comportar como um ‘clubinho’.<br />

Sair da nossa ‘bolha’ é muito importante.<br />

Num mundo sem barreiras entre os meios e<br />

com menos barreiras entre culturas, precisamos<br />

trazer visões diferentes para ampliar o<br />

repertório. Precisamos <strong>de</strong> um melhor equilíbrio<br />

entre visões, gêneros, competências<br />

técnicas e backgrounds diferentes”, concorda<br />

Guilherme Jahara, CCO da F.biz.<br />

Sophie Schönburg: “Bons lí<strong>de</strong>res tiveram <strong>de</strong> se adaptar”<br />

“diferentemente<br />

do pAssAdo, hoje<br />

não po<strong>de</strong>mos nos<br />

comportAr como<br />

um ‘clubinho’.<br />

sAir dA nossA ‘bolhA’<br />

é muito importAnte”<br />

Erh Ray: “Existe uma sofisticação no geral”<br />

Fotos: Divulgação<br />

É difícil criar um estereótipo do “novo<br />

criativo” em um momento <strong>de</strong> transformação<br />

que, na prática, ainda não terminou e,<br />

talvez, sequer acabe. O que se observa em<br />

uma agência sem um gênio criativo único,<br />

mais plural e faminta para conhecer novas<br />

tecnologias é a busca por experimentação<br />

<strong>de</strong> novos mo<strong>de</strong>los para criação. “Vemos<br />

muita gente testando soluções diferentes<br />

e hackeando sistemas consagrados. Isso é<br />

inerente a um novo momento. Acho que<br />

ainda estamos em transição, não só <strong>de</strong> geração,<br />

mas <strong>de</strong> outros tipos <strong>de</strong> criativos, <strong>de</strong><br />

backgrounds variados. Estratégia e criativida<strong>de</strong><br />

estão misturados e junte a isso o entendimento<br />

da tecnologia, que está a serviço<br />

<strong>de</strong>ssa mistura incrível”, avalia Jahara.<br />

era da empatia<br />

Uma nova leva <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res criativos assumiu<br />

postos importantes no mercado<br />

brasileiro nos últimos anos. Um <strong>de</strong>les é<br />

Wilson Mateos, vice-presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> criação<br />

da Leo Burnett Tailor Ma<strong>de</strong> há cerca <strong>de</strong> 12<br />

meses, que está há 26 anos no setor. Eles<br />

são representantes <strong>de</strong> um novo perfil e li<strong>de</strong>rança.<br />

“Aquele passado nunca mais vai<br />

voltar. Se você acha que propaganda é só<br />

fazer comercial <strong>de</strong> TV ou título divertido,<br />

esquece. O novo lí<strong>de</strong>r criativo tem <strong>de</strong> estar<br />

<strong>de</strong> braços abertos para o que vai surgir.<br />

É conteúdo? Vamos fazer conteúdo. As<br />

pessoas estão no mobile? Como po<strong>de</strong>mos<br />

fazer o mobile <strong>de</strong>las mais interessante?”,<br />

afirma. “Temos <strong>de</strong> ser mais curiosos e menos<br />

donos da verda<strong>de</strong>. E, do ponto <strong>de</strong> vista<br />

da li<strong>de</strong>rança em si, precisamos ser mais<br />

ouvidos e <strong>de</strong> menos gritaria. As pessoas<br />

querem ser consi<strong>de</strong>radas, querem po<strong>de</strong>r<br />

falar também. Quem quiser usar algo do<br />

passado, que use então a boa e velha paixão,<br />

o otimismo, a <strong>de</strong>dicação, a vonta<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> fazer diferente e a crença <strong>de</strong> que ainda<br />

po<strong>de</strong>mos transformar as coisas a partir das<br />

nossas i<strong>de</strong>ias”, analisa.<br />

Empatia pessoal e inteligência emocional<br />

se tornaram fundamentais para o setor<br />

<strong>de</strong> criação. “As pessoas hoje em dia estão<br />

muito mais conscientes e com todas as ferramentas<br />

nas mãos para <strong>de</strong>nunciar eventuais<br />

abusos. A coisa do lí<strong>de</strong>r que gritava que<br />

você tinha hora para chegar, mas não tinha<br />

para sair é impensável hoje em dia. Você<br />

respon<strong>de</strong>r a qualquer reivindicação <strong>de</strong> um<br />

funcionário seu com piada, sarcasmo ou<br />

ameaça, mesmo que velada, já não rola<br />

mais. As pessoas agora <strong>de</strong>mandam respeito”,<br />

diz Mateos.<br />

Vice-presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> criação do Dentsu<br />

Creative Group há pouco menos <strong>de</strong> um<br />

ano, Felipe Cuvero é outro representante<br />

da nova li<strong>de</strong>rança criativa. Ele aponta que a<br />

forma <strong>de</strong> lidar com as pessoas mudou muito.<br />

“Hoje o foco é fazer o que se gosta, mas<br />

ser feliz fazendo o que gosta. Ter boas experiências<br />

trabalhando <strong>de</strong> uma forma saudável.<br />

O trabalho <strong>de</strong> um criativo não precisa<br />

mais ser sofrido para ter valor, um conceito<br />

errado <strong>de</strong> antigamente. Hoje po<strong>de</strong>mos cobrar<br />

a mesma qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> entrega <strong>de</strong> antigamente<br />

tendo um ambiente leve e alegre”.<br />

12 <strong>27</strong> <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark

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