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série espeCial<br />
<strong>de</strong> um bando. O lí<strong>de</strong>r é apenas uma peça<br />
que une uma série <strong>de</strong> pessoas com habilida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma agência. Antigamente,<br />
o processo criativo era uma luta solitária;<br />
hoje, todos fazem parte do processo <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
sua concepção até a entrega final, inclusive<br />
o cliente”, conclui.<br />
A nova criação, portanto, <strong>de</strong>u fim à i<strong>de</strong>ia<br />
<strong>de</strong> um gênio que vai resolver todos os problemas,<br />
tal qual um Don Draper, personagem<br />
da consagrada série Mad Men. “Uma<br />
indústria que está em constante transformação<br />
pe<strong>de</strong>, <strong>de</strong> tanto em tanto, a figura<br />
<strong>de</strong> um messias. Aquela que não existia em<br />
caixinha nenhuma e, portanto, nos parece<br />
ser o gran<strong>de</strong> quebrador <strong>de</strong> paradigmas. Os<br />
bons lí<strong>de</strong>res tiveram <strong>de</strong> se adaptar e enten<strong>de</strong>r<br />
que a i<strong>de</strong>ia não fala mais sozinha, como<br />
antigamente. Se existe algo que mudou no<br />
nosso ofício é a distribuição. Se aperrar a<br />
uma i<strong>de</strong>ia e não enten<strong>de</strong>r que ela po<strong>de</strong> ser<br />
muitas, a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> on<strong>de</strong> ela veiculará, é<br />
a morte”, avalia Sophie Schönburg, diretora<br />
<strong>de</strong> criação da Africa.<br />
“Eu, por exemplo, sou um lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> criação<br />
da geração dos anos 1990 para frente e,<br />
<strong>de</strong> tempos em tempos, temos <strong>de</strong> nos adaptar,<br />
reinventar e apren<strong>de</strong>r. Antigamente<br />
nos baseávamos somente no talento do redator<br />
ou do diretor <strong>de</strong> arte como uma dupla.<br />
Hoje, fica claro que essa pessoa precisa<br />
ser muito mais versátil. É preciso ter aproximação<br />
com o digital, enxergar o projeto<br />
com um todo, seja conteúdo, inovação ou<br />
produto”, reconhece Erh Ray, sócio e CEO<br />
da BETC/Havas. O novo lí<strong>de</strong>r da criação,<br />
afirma, precisa ser muito aberto a todas as<br />
novas fórmulas e formatos que estão chegando.<br />
“O criativo mais antigo se contentava<br />
‘somente’ com uma mídia impressa e um<br />
filme na televisão. Enquanto profissionais<br />
<strong>de</strong> hoje querem inventar produtos e criar<br />
envolvimento não somente com o público<br />
consumidor, mas a comunida<strong>de</strong> e as pessoas<br />
que estão ao redor. Então, existe uma sofisticação<br />
no geral, que não existia antes”.<br />
pluralida<strong>de</strong><br />
A própria composição do setor <strong>de</strong> criação<br />
está em transformação. Cada vez mais complexa,<br />
segmentada e plural, a comunicação<br />
exige um perfil <strong>de</strong> equipe diverso, como<br />
aponta Larissa Magrisso, vice-presi<strong>de</strong>nte<br />
<strong>de</strong> criação e conteúdo da W3haus. “Diversida<strong>de</strong><br />
racial, <strong>de</strong> gênero, <strong>de</strong> orientação sexual,<br />
<strong>de</strong> backgrounds. Em uma campanha<br />
para um absorvente feminino, mulheres<br />
que são mães criam com jovens da Geração<br />
Z. O lí<strong>de</strong>r criativo precisa incentivar essas<br />
conexões. Quanto mais diverso um time,<br />
mais original e único ele é”, resume ela.<br />
“Diferentemente do passado, hoje não po<strong>de</strong>mos<br />
nos comportar como um ‘clubinho’.<br />
Sair da nossa ‘bolha’ é muito importante.<br />
Num mundo sem barreiras entre os meios e<br />
com menos barreiras entre culturas, precisamos<br />
trazer visões diferentes para ampliar o<br />
repertório. Precisamos <strong>de</strong> um melhor equilíbrio<br />
entre visões, gêneros, competências<br />
técnicas e backgrounds diferentes”, concorda<br />
Guilherme Jahara, CCO da F.biz.<br />
Sophie Schönburg: “Bons lí<strong>de</strong>res tiveram <strong>de</strong> se adaptar”<br />
“diferentemente<br />
do pAssAdo, hoje<br />
não po<strong>de</strong>mos nos<br />
comportAr como<br />
um ‘clubinho’.<br />
sAir dA nossA ‘bolhA’<br />
é muito importAnte”<br />
Erh Ray: “Existe uma sofisticação no geral”<br />
Fotos: Divulgação<br />
É difícil criar um estereótipo do “novo<br />
criativo” em um momento <strong>de</strong> transformação<br />
que, na prática, ainda não terminou e,<br />
talvez, sequer acabe. O que se observa em<br />
uma agência sem um gênio criativo único,<br />
mais plural e faminta para conhecer novas<br />
tecnologias é a busca por experimentação<br />
<strong>de</strong> novos mo<strong>de</strong>los para criação. “Vemos<br />
muita gente testando soluções diferentes<br />
e hackeando sistemas consagrados. Isso é<br />
inerente a um novo momento. Acho que<br />
ainda estamos em transição, não só <strong>de</strong> geração,<br />
mas <strong>de</strong> outros tipos <strong>de</strong> criativos, <strong>de</strong><br />
backgrounds variados. Estratégia e criativida<strong>de</strong><br />
estão misturados e junte a isso o entendimento<br />
da tecnologia, que está a serviço<br />
<strong>de</strong>ssa mistura incrível”, avalia Jahara.<br />
era da empatia<br />
Uma nova leva <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>res criativos assumiu<br />
postos importantes no mercado<br />
brasileiro nos últimos anos. Um <strong>de</strong>les é<br />
Wilson Mateos, vice-presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> criação<br />
da Leo Burnett Tailor Ma<strong>de</strong> há cerca <strong>de</strong> 12<br />
meses, que está há 26 anos no setor. Eles<br />
são representantes <strong>de</strong> um novo perfil e li<strong>de</strong>rança.<br />
“Aquele passado nunca mais vai<br />
voltar. Se você acha que propaganda é só<br />
fazer comercial <strong>de</strong> TV ou título divertido,<br />
esquece. O novo lí<strong>de</strong>r criativo tem <strong>de</strong> estar<br />
<strong>de</strong> braços abertos para o que vai surgir.<br />
É conteúdo? Vamos fazer conteúdo. As<br />
pessoas estão no mobile? Como po<strong>de</strong>mos<br />
fazer o mobile <strong>de</strong>las mais interessante?”,<br />
afirma. “Temos <strong>de</strong> ser mais curiosos e menos<br />
donos da verda<strong>de</strong>. E, do ponto <strong>de</strong> vista<br />
da li<strong>de</strong>rança em si, precisamos ser mais<br />
ouvidos e <strong>de</strong> menos gritaria. As pessoas<br />
querem ser consi<strong>de</strong>radas, querem po<strong>de</strong>r<br />
falar também. Quem quiser usar algo do<br />
passado, que use então a boa e velha paixão,<br />
o otimismo, a <strong>de</strong>dicação, a vonta<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> fazer diferente e a crença <strong>de</strong> que ainda<br />
po<strong>de</strong>mos transformar as coisas a partir das<br />
nossas i<strong>de</strong>ias”, analisa.<br />
Empatia pessoal e inteligência emocional<br />
se tornaram fundamentais para o setor<br />
<strong>de</strong> criação. “As pessoas hoje em dia estão<br />
muito mais conscientes e com todas as ferramentas<br />
nas mãos para <strong>de</strong>nunciar eventuais<br />
abusos. A coisa do lí<strong>de</strong>r que gritava que<br />
você tinha hora para chegar, mas não tinha<br />
para sair é impensável hoje em dia. Você<br />
respon<strong>de</strong>r a qualquer reivindicação <strong>de</strong> um<br />
funcionário seu com piada, sarcasmo ou<br />
ameaça, mesmo que velada, já não rola<br />
mais. As pessoas agora <strong>de</strong>mandam respeito”,<br />
diz Mateos.<br />
Vice-presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> criação do Dentsu<br />
Creative Group há pouco menos <strong>de</strong> um<br />
ano, Felipe Cuvero é outro representante<br />
da nova li<strong>de</strong>rança criativa. Ele aponta que a<br />
forma <strong>de</strong> lidar com as pessoas mudou muito.<br />
“Hoje o foco é fazer o que se gosta, mas<br />
ser feliz fazendo o que gosta. Ter boas experiências<br />
trabalhando <strong>de</strong> uma forma saudável.<br />
O trabalho <strong>de</strong> um criativo não precisa<br />
mais ser sofrido para ter valor, um conceito<br />
errado <strong>de</strong> antigamente. Hoje po<strong>de</strong>mos cobrar<br />
a mesma qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> entrega <strong>de</strong> antigamente<br />
tendo um ambiente leve e alegre”.<br />
12 <strong>27</strong> <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark