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memória<br />
Otávio Frias Filho <strong>de</strong>ixa legado <strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>rnização do jornalismo no país<br />
O cargo <strong>de</strong> diretor <strong>de</strong> redação da Folha <strong>de</strong> S.Paulo continuava vago até o<br />
fechamento <strong>de</strong>sta edição; o jornalista morreu semana passada em SP<br />
Morreu na madrugada do<br />
último dia 21, em São<br />
Paulo, aos 61 anos, Otavio<br />
Frias Filho, diretor <strong>de</strong> redação<br />
da Folha <strong>de</strong> S.Paulo e diretor<br />
editorial do Grupo Folha - até<br />
o último dia 24, a empresa não<br />
havia anunciado seu substituto.<br />
Ele foi diagnosticado com<br />
câncer no pâncreas em setembro<br />
<strong>de</strong> 2017.<br />
Mentor do Projeto Folha, que<br />
mo<strong>de</strong>rnizou o jornalismo brasileiro<br />
nos anos 1980, esteve à<br />
frente do jornal por 34 anos.<br />
Sob a direção <strong>de</strong>le, a Folha se<br />
tornou um dos maiores e mais<br />
influentes jornais do Brasil. O<br />
veículo consolidou-se como<br />
uma referência no jornalismo<br />
apartidário, pluralista, crítico<br />
e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />
Esses princípios foram recentemente<br />
atualizados na<br />
versão <strong>de</strong> <strong>2018</strong> do Manual da<br />
Redação, cuja confecção Otávio<br />
Frias Filho li<strong>de</strong>rou.<br />
Também nortearam as iniciativas<br />
<strong>de</strong> autocontrole <strong>de</strong><br />
sua produção jornalística: em<br />
1989 a Folha <strong>de</strong> S.Paulo se tornou<br />
o primeiro jornal da América<br />
Latina a ter um ombudsman,<br />
e em 1991 foi pioneiro no<br />
país em reunir correções na<br />
seção fixa Erramos.<br />
Em texto <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> fevereiro<br />
<strong>de</strong>ste ano, intitulado Jornalismo,<br />
um mal necessário, na coluna<br />
mensal que mantinha na<br />
Ilustríssima, escreveu: “O jornalismo,<br />
apesar <strong>de</strong> suas severas<br />
limitações, é uma forma legítima<br />
<strong>de</strong> conhecimento sobre<br />
o nível mais imediato da realida<strong>de</strong>.<br />
Para afirmar sua autonomia,<br />
precisa cultivar valores,<br />
métodos e regras próprios”.<br />
Antes mesmo <strong>de</strong> assumir o<br />
principal cargo do jornal, em<br />
maio <strong>de</strong> 1984, ele participou<br />
<strong>de</strong> momentos importantes<br />
no processo que resultaria no<br />
Projeto Editorial da Folha.<br />
Em sua última versão, <strong>de</strong><br />
2017, o texto preconiza o jornalismo<br />
profissional como<br />
antídoto para a notícia falsa e<br />
Otávio Frias Filho, que esteve à frente da Folha <strong>de</strong> S.Paulo por 34 anos, morreu semana passada<br />
“O jOrnalismO,<br />
apesar <strong>de</strong><br />
suas severas<br />
limitações, é uma<br />
fOrma legítima<br />
<strong>de</strong> cOnhecimentO<br />
sObre O nível<br />
mais imediatO<br />
da realida<strong>de</strong>”<br />
Marçal Neto/Divulgação<br />
para a intolerância.<br />
Em 1974, aos 17 anos, sob<br />
a gestão <strong>de</strong> seu pai, Octavio<br />
Frias <strong>de</strong> Oliveira (1912-2007),<br />
<strong>de</strong>pois publisher da Folha,<br />
participou da <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> abrir<br />
as páginas do jornal para diferentes<br />
correntes <strong>de</strong> opinião,<br />
incluindo os opositores da ditadura<br />
militar.<br />
Essa vocação para a abertura<br />
viria a se cristalizar na<br />
campanha pelas Diretas Já,<br />
em 1983, da qual o jornal foi<br />
protagonista na imprensa brasileira.<br />
Frias Filho nasceu em São<br />
Paulo, em 7 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1957,<br />
filho mais velho <strong>de</strong> Octavio<br />
Frias, ele bacharelou-se em<br />
direito na USP, on<strong>de</strong> também<br />
cursou pós-graduação em ciências<br />
sociais.<br />
Lançou os livros <strong>de</strong> ensaio<br />
De Ponta Cabeça (2000), Queda<br />
Livre (2003) e Seleção Natural<br />
(2009), entre outros.<br />
Como dramaturgo, teve peças<br />
encenadas em São Paulo,<br />
entre elas Típico Romântico,<br />
Rancor e Don Juan.<br />
Uma versão teatral <strong>de</strong> O<br />
Terceiro Sinal, texto em que<br />
narra sua experiência como<br />
ator, esteve em cartaz no Teatro<br />
Oficina até maio, com a<br />
atriz Bete Coelho.<br />
Nos últimos 11 meses, Otavio<br />
reduziu sua rotina <strong>de</strong><br />
pautar e aprovar os editoriais<br />
diariamente e <strong>de</strong> participar<br />
<strong>de</strong> reuniões semanais com o<br />
comando da redação, on<strong>de</strong> tomava<br />
as principais <strong>de</strong>cisões.<br />
Otavio <strong>de</strong>ixou pronto um livro<br />
infantil, A Vida é Sonho e<br />
Outras Histórias para Pensar,<br />
e uma coletânea <strong>de</strong> artigos publicados<br />
nos últimos anos.<br />
Porém, ficou inacabada<br />
uma obra em que pretendia<br />
traçar um quadro, entre ensaístico<br />
e biográfico, dos tempos<br />
e da vida <strong>de</strong> seu pai, entremeando-os<br />
com as suas experiências<br />
atuais.<br />
jornal propmark - <strong>27</strong> <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> 43