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edição de 27 de agosto de 2018

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memória<br />

Otávio Frias Filho <strong>de</strong>ixa legado <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>rnização do jornalismo no país<br />

O cargo <strong>de</strong> diretor <strong>de</strong> redação da Folha <strong>de</strong> S.Paulo continuava vago até o<br />

fechamento <strong>de</strong>sta edição; o jornalista morreu semana passada em SP<br />

Morreu na madrugada do<br />

último dia 21, em São<br />

Paulo, aos 61 anos, Otavio<br />

Frias Filho, diretor <strong>de</strong> redação<br />

da Folha <strong>de</strong> S.Paulo e diretor<br />

editorial do Grupo Folha - até<br />

o último dia 24, a empresa não<br />

havia anunciado seu substituto.<br />

Ele foi diagnosticado com<br />

câncer no pâncreas em setembro<br />

<strong>de</strong> 2017.<br />

Mentor do Projeto Folha, que<br />

mo<strong>de</strong>rnizou o jornalismo brasileiro<br />

nos anos 1980, esteve à<br />

frente do jornal por 34 anos.<br />

Sob a direção <strong>de</strong>le, a Folha se<br />

tornou um dos maiores e mais<br />

influentes jornais do Brasil. O<br />

veículo consolidou-se como<br />

uma referência no jornalismo<br />

apartidário, pluralista, crítico<br />

e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />

Esses princípios foram recentemente<br />

atualizados na<br />

versão <strong>de</strong> <strong>2018</strong> do Manual da<br />

Redação, cuja confecção Otávio<br />

Frias Filho li<strong>de</strong>rou.<br />

Também nortearam as iniciativas<br />

<strong>de</strong> autocontrole <strong>de</strong><br />

sua produção jornalística: em<br />

1989 a Folha <strong>de</strong> S.Paulo se tornou<br />

o primeiro jornal da América<br />

Latina a ter um ombudsman,<br />

e em 1991 foi pioneiro no<br />

país em reunir correções na<br />

seção fixa Erramos.<br />

Em texto <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> fevereiro<br />

<strong>de</strong>ste ano, intitulado Jornalismo,<br />

um mal necessário, na coluna<br />

mensal que mantinha na<br />

Ilustríssima, escreveu: “O jornalismo,<br />

apesar <strong>de</strong> suas severas<br />

limitações, é uma forma legítima<br />

<strong>de</strong> conhecimento sobre<br />

o nível mais imediato da realida<strong>de</strong>.<br />

Para afirmar sua autonomia,<br />

precisa cultivar valores,<br />

métodos e regras próprios”.<br />

Antes mesmo <strong>de</strong> assumir o<br />

principal cargo do jornal, em<br />

maio <strong>de</strong> 1984, ele participou<br />

<strong>de</strong> momentos importantes<br />

no processo que resultaria no<br />

Projeto Editorial da Folha.<br />

Em sua última versão, <strong>de</strong><br />

2017, o texto preconiza o jornalismo<br />

profissional como<br />

antídoto para a notícia falsa e<br />

Otávio Frias Filho, que esteve à frente da Folha <strong>de</strong> S.Paulo por 34 anos, morreu semana passada<br />

“O jOrnalismO,<br />

apesar <strong>de</strong><br />

suas severas<br />

limitações, é uma<br />

fOrma legítima<br />

<strong>de</strong> cOnhecimentO<br />

sObre O nível<br />

mais imediatO<br />

da realida<strong>de</strong>”<br />

Marçal Neto/Divulgação<br />

para a intolerância.<br />

Em 1974, aos 17 anos, sob<br />

a gestão <strong>de</strong> seu pai, Octavio<br />

Frias <strong>de</strong> Oliveira (1912-2007),<br />

<strong>de</strong>pois publisher da Folha,<br />

participou da <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> abrir<br />

as páginas do jornal para diferentes<br />

correntes <strong>de</strong> opinião,<br />

incluindo os opositores da ditadura<br />

militar.<br />

Essa vocação para a abertura<br />

viria a se cristalizar na<br />

campanha pelas Diretas Já,<br />

em 1983, da qual o jornal foi<br />

protagonista na imprensa brasileira.<br />

Frias Filho nasceu em São<br />

Paulo, em 7 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1957,<br />

filho mais velho <strong>de</strong> Octavio<br />

Frias, ele bacharelou-se em<br />

direito na USP, on<strong>de</strong> também<br />

cursou pós-graduação em ciências<br />

sociais.<br />

Lançou os livros <strong>de</strong> ensaio<br />

De Ponta Cabeça (2000), Queda<br />

Livre (2003) e Seleção Natural<br />

(2009), entre outros.<br />

Como dramaturgo, teve peças<br />

encenadas em São Paulo,<br />

entre elas Típico Romântico,<br />

Rancor e Don Juan.<br />

Uma versão teatral <strong>de</strong> O<br />

Terceiro Sinal, texto em que<br />

narra sua experiência como<br />

ator, esteve em cartaz no Teatro<br />

Oficina até maio, com a<br />

atriz Bete Coelho.<br />

Nos últimos 11 meses, Otavio<br />

reduziu sua rotina <strong>de</strong><br />

pautar e aprovar os editoriais<br />

diariamente e <strong>de</strong> participar<br />

<strong>de</strong> reuniões semanais com o<br />

comando da redação, on<strong>de</strong> tomava<br />

as principais <strong>de</strong>cisões.<br />

Otavio <strong>de</strong>ixou pronto um livro<br />

infantil, A Vida é Sonho e<br />

Outras Histórias para Pensar,<br />

e uma coletânea <strong>de</strong> artigos publicados<br />

nos últimos anos.<br />

Porém, ficou inacabada<br />

uma obra em que pretendia<br />

traçar um quadro, entre ensaístico<br />

e biográfico, dos tempos<br />

e da vida <strong>de</strong> seu pai, entremeando-os<br />

com as suas experiências<br />

atuais.<br />

jornal propmark - <strong>27</strong> <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> 43

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