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edição de 27 de agosto de 2018

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STORYTELLER<br />

Niyazz/iStock<br />

Horário eleitoral<br />

Não vou <strong>de</strong>itar sapiências<br />

sobre a importância das re<strong>de</strong>s<br />

sociais na <strong>de</strong>cisão do eleitor<br />

LuLa Vieira<br />

Não, amigo leitor, doce leitora, não vou<br />

comentar essas eleições que estão ocorrendo<br />

por aí nem a participação dos candidatos<br />

nos <strong>de</strong>bates <strong>de</strong> TV. Também não vou<br />

<strong>de</strong>itar sapiências sobre a importância das<br />

re<strong>de</strong>s sociais na <strong>de</strong>cisão do eleitor. Os oito<br />

milhões e meio <strong>de</strong> cientistas sociais e os<br />

13.400 profissionais <strong>de</strong> mídia digital já chutaram<br />

o bastante para vocês dispensarem<br />

a minha opinião sem sentir a menor falta.<br />

Até porque, confesso, também não entendo<br />

nada disso.<br />

Talvez minha única vantagem seja a sincerida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> me consi<strong>de</strong>rar ignorante. Eu<br />

quero é contar três histórias sobre eleição<br />

que ouvi na tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> sábado passado, após<br />

uma feijoada, já no doce <strong>de</strong> leite e no café<br />

com adoçante, pois todos estavam <strong>de</strong> dieta.<br />

Uma <strong>de</strong>las foi contada por uma amiga que<br />

tinha participado no dia anterior <strong>de</strong> uma<br />

reunião <strong>de</strong> condomínio e – segundo ela –,<br />

como toda reunião <strong>de</strong> condomínio, expõe o<br />

que as pessoas têm <strong>de</strong> pior e <strong>de</strong> mais mesquinho.<br />

Como o prédio era novo, <strong>de</strong>scobriram<br />

que, por um cochilo qualquer, a construtora<br />

não havia feito um banheiro para uso<br />

dos porteiros, o que significava que os<br />

coitados não dispunham <strong>de</strong> equipamento<br />

apropriado para satisfazer suas necessida<strong>de</strong>s.<br />

Fazer um banheiro num espaço da garagem,<br />

iria custar uma besteira para cada<br />

condômino. Mas, como <strong>de</strong> praxe, a maioria<br />

dos presentes não se dispôs a gastar aquele<br />

dinheirinho.<br />

Ao que o síndico, já <strong>de</strong> saco cheio e <strong>de</strong>vidamente<br />

puto com a pequenez <strong>de</strong> seus<br />

vizinhos, ditou com voz calma para o secretário<br />

da reunião o que <strong>de</strong>veria constar<br />

da ata: “Registre-se que, <strong>de</strong>vido à recusa da<br />

maioria dos condôminos em proporcionar<br />

um local apropriado para a urinagem e <strong>de</strong>fecagem<br />

dos empregados encarregados da<br />

portaria, ficam estes autorizados a cagar na<br />

garagem on<strong>de</strong> melhor os aprouver”. O banheiro<br />

já está em obras.<br />

A outra é do candidato Fausto Wolff, um<br />

jornalista conhecido no Rio <strong>de</strong> Janeiro, sujeito<br />

engraçadíssimo, cultíssimo, amigo <strong>de</strong><br />

todo mundo, tremendo porrista e gran<strong>de</strong><br />

conquistador. Um gigante <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> dois<br />

metros, justificando seu sobrenome. Um<br />

urso. Pois Fausto, tentando ser eleito vereador,<br />

panfletava na Avenida Atlântica, entregando<br />

aos passantes um santinho com<br />

sua plataforma e trocando meia dúzia <strong>de</strong><br />

palavras.<br />

Campanha pobre, <strong>de</strong> pouco material, os<br />

santinhos eram entregues um a um, para<br />

não haver <strong>de</strong>sperdício. Pois lá vinha o<br />

Fausto andando quando cruzou com um<br />

provável eleitor. Deu-lhe o santinho, pediu<br />

apoio e teve <strong>de</strong> ouvir uma cantilena do cidadão,<br />

reclamando dos políticos, do Brasil,<br />

<strong>de</strong> todo mundo. Como voto é voto, Fausto<br />

se muniu <strong>de</strong> paciência e <strong>de</strong>u trela, tentando<br />

argumentar alguma coisa.<br />

Mas o cara, verda<strong>de</strong>ira mala, não parava.<br />

Juntou gente para ouvir, o que aumentou<br />

a sanha reclamativa. Encheu tanto o saco<br />

que chegou uma hora que Fausto tirou<br />

o santinho da mão do eleitor e sentenciou<br />

com sua voz <strong>de</strong> cantor <strong>de</strong> ópera: “quer saber<br />

<strong>de</strong> uma coisa? Enfie seu voto no cu!” E<br />

saiu da rodinha. Per<strong>de</strong>u a paciência, o voto<br />

e mais tar<strong>de</strong> a eleição.<br />

Outro momento grandioso foi quando o<br />

escritor Austregésilo <strong>de</strong> Ataí<strong>de</strong> candidatou-<br />

-se à presidência da Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong><br />

Letras. Um repórter <strong>de</strong> rádio o entrevistou<br />

e por três vezes chamou dr. Athay<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Astrogildo. Doutor Austregésilo foi tocando,<br />

para não humilhar o entrevistador. Até<br />

que, para encerrar, o radialista disse: “agora<br />

uma última pergunta ao gran<strong>de</strong> intelectual<br />

Astrogildo <strong>de</strong> Ataú<strong>de</strong>...”.<br />

Neste momento, do alto <strong>de</strong> sua condição<br />

<strong>de</strong> futuro presi<strong>de</strong>nte da ABL e imortal<br />

<strong>de</strong> carteirinha, dr. Austregésilo pega o microfone<br />

e diz: “Astrogildo tudo bem... mas<br />

Ataú<strong>de</strong> é a puta que lhe pariu!” Ouviu-se a<br />

risada até <strong>de</strong> Machado <strong>de</strong> Assis, patrono da<br />

instituição.<br />

Lula Vieira é publicitário, diretor do Grupo Mesa<br />

e da Approach Comunicação, radialista, escritor,<br />

editor e professor<br />

lulavieira@grupomesa.com.br<br />

52 <strong>27</strong> <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark

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