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STORYTELLER<br />
Niyazz/iStock<br />
Horário eleitoral<br />
Não vou <strong>de</strong>itar sapiências<br />
sobre a importância das re<strong>de</strong>s<br />
sociais na <strong>de</strong>cisão do eleitor<br />
LuLa Vieira<br />
Não, amigo leitor, doce leitora, não vou<br />
comentar essas eleições que estão ocorrendo<br />
por aí nem a participação dos candidatos<br />
nos <strong>de</strong>bates <strong>de</strong> TV. Também não vou<br />
<strong>de</strong>itar sapiências sobre a importância das<br />
re<strong>de</strong>s sociais na <strong>de</strong>cisão do eleitor. Os oito<br />
milhões e meio <strong>de</strong> cientistas sociais e os<br />
13.400 profissionais <strong>de</strong> mídia digital já chutaram<br />
o bastante para vocês dispensarem<br />
a minha opinião sem sentir a menor falta.<br />
Até porque, confesso, também não entendo<br />
nada disso.<br />
Talvez minha única vantagem seja a sincerida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> me consi<strong>de</strong>rar ignorante. Eu<br />
quero é contar três histórias sobre eleição<br />
que ouvi na tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> sábado passado, após<br />
uma feijoada, já no doce <strong>de</strong> leite e no café<br />
com adoçante, pois todos estavam <strong>de</strong> dieta.<br />
Uma <strong>de</strong>las foi contada por uma amiga que<br />
tinha participado no dia anterior <strong>de</strong> uma<br />
reunião <strong>de</strong> condomínio e – segundo ela –,<br />
como toda reunião <strong>de</strong> condomínio, expõe o<br />
que as pessoas têm <strong>de</strong> pior e <strong>de</strong> mais mesquinho.<br />
Como o prédio era novo, <strong>de</strong>scobriram<br />
que, por um cochilo qualquer, a construtora<br />
não havia feito um banheiro para uso<br />
dos porteiros, o que significava que os<br />
coitados não dispunham <strong>de</strong> equipamento<br />
apropriado para satisfazer suas necessida<strong>de</strong>s.<br />
Fazer um banheiro num espaço da garagem,<br />
iria custar uma besteira para cada<br />
condômino. Mas, como <strong>de</strong> praxe, a maioria<br />
dos presentes não se dispôs a gastar aquele<br />
dinheirinho.<br />
Ao que o síndico, já <strong>de</strong> saco cheio e <strong>de</strong>vidamente<br />
puto com a pequenez <strong>de</strong> seus<br />
vizinhos, ditou com voz calma para o secretário<br />
da reunião o que <strong>de</strong>veria constar<br />
da ata: “Registre-se que, <strong>de</strong>vido à recusa da<br />
maioria dos condôminos em proporcionar<br />
um local apropriado para a urinagem e <strong>de</strong>fecagem<br />
dos empregados encarregados da<br />
portaria, ficam estes autorizados a cagar na<br />
garagem on<strong>de</strong> melhor os aprouver”. O banheiro<br />
já está em obras.<br />
A outra é do candidato Fausto Wolff, um<br />
jornalista conhecido no Rio <strong>de</strong> Janeiro, sujeito<br />
engraçadíssimo, cultíssimo, amigo <strong>de</strong><br />
todo mundo, tremendo porrista e gran<strong>de</strong><br />
conquistador. Um gigante <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> dois<br />
metros, justificando seu sobrenome. Um<br />
urso. Pois Fausto, tentando ser eleito vereador,<br />
panfletava na Avenida Atlântica, entregando<br />
aos passantes um santinho com<br />
sua plataforma e trocando meia dúzia <strong>de</strong><br />
palavras.<br />
Campanha pobre, <strong>de</strong> pouco material, os<br />
santinhos eram entregues um a um, para<br />
não haver <strong>de</strong>sperdício. Pois lá vinha o<br />
Fausto andando quando cruzou com um<br />
provável eleitor. Deu-lhe o santinho, pediu<br />
apoio e teve <strong>de</strong> ouvir uma cantilena do cidadão,<br />
reclamando dos políticos, do Brasil,<br />
<strong>de</strong> todo mundo. Como voto é voto, Fausto<br />
se muniu <strong>de</strong> paciência e <strong>de</strong>u trela, tentando<br />
argumentar alguma coisa.<br />
Mas o cara, verda<strong>de</strong>ira mala, não parava.<br />
Juntou gente para ouvir, o que aumentou<br />
a sanha reclamativa. Encheu tanto o saco<br />
que chegou uma hora que Fausto tirou<br />
o santinho da mão do eleitor e sentenciou<br />
com sua voz <strong>de</strong> cantor <strong>de</strong> ópera: “quer saber<br />
<strong>de</strong> uma coisa? Enfie seu voto no cu!” E<br />
saiu da rodinha. Per<strong>de</strong>u a paciência, o voto<br />
e mais tar<strong>de</strong> a eleição.<br />
Outro momento grandioso foi quando o<br />
escritor Austregésilo <strong>de</strong> Ataí<strong>de</strong> candidatou-<br />
-se à presidência da Aca<strong>de</strong>mia Brasileira <strong>de</strong><br />
Letras. Um repórter <strong>de</strong> rádio o entrevistou<br />
e por três vezes chamou dr. Athay<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Astrogildo. Doutor Austregésilo foi tocando,<br />
para não humilhar o entrevistador. Até<br />
que, para encerrar, o radialista disse: “agora<br />
uma última pergunta ao gran<strong>de</strong> intelectual<br />
Astrogildo <strong>de</strong> Ataú<strong>de</strong>...”.<br />
Neste momento, do alto <strong>de</strong> sua condição<br />
<strong>de</strong> futuro presi<strong>de</strong>nte da ABL e imortal<br />
<strong>de</strong> carteirinha, dr. Austregésilo pega o microfone<br />
e diz: “Astrogildo tudo bem... mas<br />
Ataú<strong>de</strong> é a puta que lhe pariu!” Ouviu-se a<br />
risada até <strong>de</strong> Machado <strong>de</strong> Assis, patrono da<br />
instituição.<br />
Lula Vieira é publicitário, diretor do Grupo Mesa<br />
e da Approach Comunicação, radialista, escritor,<br />
editor e professor<br />
lulavieira@grupomesa.com.br<br />
52 <strong>27</strong> <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark