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markeTing & negóciOs<br />
jovan_epn/iStock<br />
O futuro da TV é...<br />
mais televisão – Parte 1<br />
O aparente sucesso da NewTV volta a<br />
fazer os sonhadores <strong>de</strong> plantão a pensar<br />
no fim da TV como a conhecemos<br />
Rafael Sampaio<br />
Está ocorrendo <strong>de</strong> novo: uma startup do<br />
mundo digital mexe com os <strong>de</strong>vaneios<br />
dos que sonham acordados com um mundo<br />
pós-televisão no mo<strong>de</strong>lo que conhecemos<br />
há 70 anos. Mas, apesar <strong>de</strong> sua aparente<br />
disruptiva inovação e imenso potencial, a<br />
nova proposta ten<strong>de</strong> a ter o mesmo fim <strong>de</strong><br />
tantas “ameaças” ao predomínio da TV no<br />
entretenimento e informação popular e na<br />
publicida<strong>de</strong>: ela será <strong>de</strong>vidamente <strong>de</strong>vorada<br />
pela TV.<br />
Revivendo um mito milenar, o enigma<br />
da esfinge será uma vez mais <strong>de</strong>cifrado<br />
pela TV e não será por ela <strong>de</strong>vorada. Muito<br />
pelo contrário. Neste mês <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> está<br />
havendo um frisson no mundo do entretenimento<br />
e da mídia americana com o lançamento<br />
da NewTV, uma iniciativa li<strong>de</strong>rada<br />
por dois monstros sagrados <strong>de</strong>sses setores:<br />
Jeffrey Katzenberg (ex-Disney e atual<br />
DreamWorks) e Meg Whitman (ex-CEO da<br />
eBay e da HP).<br />
A dupla comandou o levantamento <strong>de</strong><br />
um capital inicial <strong>de</strong> US$ 1 bilhão para sua<br />
nova proposta, uma produtora <strong>de</strong> conteúdo<br />
audiovisual em formato <strong>de</strong> curta-<br />
-metragem, que preten<strong>de</strong> revolucionar a<br />
programação nas modalida<strong>de</strong>s digitais, em<br />
especial o mobile. Pela ficha corrida <strong>de</strong>les,<br />
o valor levantado e a constante aposta na<br />
explosão do mobile como alternativa <strong>de</strong> informação,<br />
entretenimento e publicida<strong>de</strong>, já<br />
há previsões <strong>de</strong> mais uma alternativa para<br />
“acabar com a TV”.<br />
Mesmo consi<strong>de</strong>rando a espetacular lista<br />
<strong>de</strong> investidores na startup – empresas<br />
como Disney, eOne, Fox, ITV, Lionsgate,<br />
MGM, NBCUniversal, Sony Pictures, Viacom,<br />
WarnerMedia, Alibaba, Goldman Sachs,<br />
JPMorgan Chase e Liberty Global – e a<br />
ficha corrida <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s sucessos <strong>de</strong> seus<br />
lí<strong>de</strong>res, as coisas precisam ser vistas <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong> uma perspectiva mais realista. Para<br />
começar, o primeiro alvo <strong>de</strong> valor a ser levantado<br />
era <strong>de</strong> US$ 2 bilhões e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano<br />
passado os executivos da NewTV visitaram<br />
cerca <strong>de</strong> 200 dos maiores produtores mundiais<br />
<strong>de</strong> conteúdo audiovisual. A “revolução”<br />
chega com menos força, portanto. Outra<br />
análise relevante a ser feita é consi<strong>de</strong>rar<br />
que três das principais “ameaças” à TV nos<br />
EUA pouco afetaram sua força. O Google e<br />
o Facebook não obtiveram parte significativa<br />
dos US$ 70 bilhões anuais absorvidos<br />
em publicida<strong>de</strong> pela televisão americana e<br />
o Netflix vem pagando cerca <strong>de</strong> US$ 12 bilhões<br />
por ano por conteúdo originalmente<br />
produzido pela TV.<br />
No caso da audiência, a análise histórica<br />
dos números da Nielsen, que mensura a TV<br />
americana, indica que as cerca <strong>de</strong> 5 a 6 horas<br />
<strong>de</strong> consumo diário médio da TV por lar<br />
na década <strong>de</strong> 1960 (a primeira era <strong>de</strong> Ouro<br />
da TV) atingiu seu pico <strong>de</strong> quase 9 horas<br />
entre 2010 e 2012 e hoje está na casa <strong>de</strong> 7<br />
horas e 50 minutos diariamente – contra<br />
cerca <strong>de</strong> 1 hora da combinação <strong>de</strong> Netflix,<br />
YouTube, Facebook e similares, incluindo<br />
o que se assiste nos mobiles.<br />
Tudo isso ocorre após 25 anos do início<br />
da era da internet, <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> dos<br />
americanos terem acesso ao sinal <strong>de</strong> alta<br />
velocida<strong>de</strong> há 15 anos e <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> uma década<br />
do novo paradigma do mobile.<br />
Como alguns analistas mais criteriosos<br />
da mídia e do entretenimento nos EUA<br />
comparam, os tubarões que iriam comer<br />
a TV têm se revelado peixinhos ornamentais<br />
no que se refere ao consumo e receita<br />
do entretenimento, informação e esporte<br />
no formato audiovisual. Ou seja, tem mais<br />
chance <strong>de</strong> os produtores tradicionais <strong>de</strong><br />
conteúdo para TV absorverem a <strong>de</strong>manda<br />
<strong>de</strong>sses formatos em curta-metragem – inclusive<br />
reciclando seus clássicos – e <strong>de</strong> as<br />
subsidiárias da TV tradicional se transformarem<br />
nos principais players da “nova”<br />
mobile TV.<br />
Um dos segredos <strong>de</strong>ssa resiliência da TV<br />
po<strong>de</strong> estar na relação entre qualida<strong>de</strong> e duração<br />
<strong>de</strong> sua programação e os comerciais<br />
nela veiculados, que será o tema da próxima<br />
coluna.<br />
Rafael Sampaio é consultor em propaganda<br />
rafael.sampaio@uol.com.br<br />
38 <strong>27</strong> <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark