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Outubro_2020 - nº 269

Órgão informativo do Centro Lusitano de Zurique Edição de Outubro 2020

Órgão informativo do Centro Lusitano de Zurique
Edição de Outubro 2020

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ESPECTÁCULO

27

JG: Foi óptimo, ele é espectacular, adoro

o Rod Stewart, lembro-me que ele começa

a cantar e eu pensei, ‘isto vai ser um fiasco,

ele está afónico’, mas depois da terceira

música, a voz aqueceu (risos) e foi um

espectáculo, nunca mais parou, sempre

a abrir até final. Na altura o guitarrista do

Rod era muito amigo do Zé Nabo, tinham

tocado juntos no grupo Objectivo, o Zé veio

assistir ao concerto e no final ainda conversamos.

Foi uma experiência muito boa.

F: Em 1985, editam a balada ‘Sozinho’,

sentias mágoa, nostalgia, ingratidão,

que sentimentos tinhas naquela altura,

querias estar sozinho?

JG: Não, esta música nunca foi autobiográfica,

o que aconteceu foi o seguinte, nós

estávamos a atravessar um problema existencial,

estávamos cansados, passámos os

anos 70 todos sempre a tocar e a ensaiar,

e continuou pelos anos 80, mas agora com

muito mais pressão, e não nos saía nada.

Acontece que o Marinho, presidente da Polygram,

veio-nos pedir por favor para gravar um

quarto disco, dissemos que não tínhamos

material para um álbum mas tínhamos duas

músicas prontas, então fomos para Hamburgo

para gravar um single.

As músicas eram ‘Sozinho’ e ‘O Céu Pode Esperar’,

só que esta ficou muito fraquinha, então

foi resolvido gravar duas versões do ‘Sozinho’,

lado A em Português e o B em Inglês.

F: Em 1986 o grupo, para enorme tristeza

dos fãs, anuncia o fim, a que se deveu

esta inesperada decisão?

JG: Antes da gravação do nosso último álbum

‘The Night’ já tinha começado a haver

alguns atritos entre nós. Aquelas cenas de

ciúmes em que um sente que está a ter menos

protagonismo que o outro, etc.

Na altura também houve um problema com

o Rodrigo, o nosso baterista, teve problemas

complicados com a droga mas que felizmente

conseguiu superar por ele mesmo,

foi espectacular, inclusivamente escreveu

um livro sobre isso, e actualmente ajuda

pessoas que estão a passar por problemas

idênticos. No entanto as coisas ainda estavam

suficientemente bem para conseguirmos

compor aquele que eu considero um

dos nossos melhores discos.

Após a edição do disco, convoquei uma

reunião e disse ao Henrique, contigo não

toco mais. Não estava em questão a qualidade

musical do Henrique que era muita,

só que já não havia sintonia, ideias diferentes,

estávamos quase sempre em desacordo

e como estou, e estava, na música para

me divertir e não para me chatear, decidi

assim. Os TAXI pararam nessa altura.

F: Editam o álbum ‘The Night’ exclusivamente

cantado em inglês. Porquê o

regresso às origens, depois do sucesso

alcançado cantando em português?

JG: Olha, foi mais uma tentativa de alcançar

o mercado internacional, só que a

Polygram não promoveu o disco, tiveram

muitas despesas na gravação mas depois

sabe-se lá porquê não investiram na promoção

e um disco que não é promovido

não existe.

F: Mas mesmo depois de se terem separado

e até 2009 vocês ainda se juntavam

esporadicamente para tocar…

JG: Nos juntávamos para tocar quando nos

convidavam para algum evento especial ou

comemorativo de alguma situação, mas o

ambiente agudizou-se de tal forma que não

havia qualquer hipótese de voltarmos a tocar

juntos, com a idade também nos tornámos

menos tolerantes.

Por vezes nos encontrávamos aqui e ali

mas nunca falávamos dos TAXI, parecia um

assunto tabu, sabíamos que era assunto

que nos trazia uma grande mágoa, tivemos

na mão uma grande oportunidade de nos

divertirmos, de fazermos o que gostamos e

desperdiçamos essa oportunidade.

F: Em 2009 regressam com a formação

original e editam o álbum ‘Amanhã’, parecia

que os TAXI estavam relançados, o

que correu mal depois disso?

JG: Quando regressamos em 2009 e editamos

o álbum ‘Amanhã’, foi com o pressuposto

que as divergências estavam ultrapassadas

e que íamos continuar juntos

enquanto grupo, só que após a edição do

álbum, os problemas vieram a tona.

F: Em 2012 formas com o Rui Taborda

a banda Porto, e editas o álbum de originais

‘Persícula Cingulata’, com temas

como ‘Para Sempre’, De Mão em Mão’,

‘Onda do Meu Mar’, que tiveram algum

sucesso. Em 2017 voltam como TAXI,

porquê esta indefinição, no nome da

banda, para prosseguirem a carreira?

JG: A explicação é muito simples, começámos

a compor as nossa músicas mas

a sonoridade não tinha nada a ver com os

TAXI, era mais à base de piano e teclas,

então para não confundir os fãs, formamos

a banda Porto, um projecto autónomo. Foi

um disco totalmente gravado pelo Rui, na

sua casa, masterizado nos EUA, e lançado

como um projecto de autor. Depois disso

começámos a gravar mais à base de guitarras,

uma sonoridade muito mais TAXI.

F: Desse regresso à sonoridade dos

TAXI, nasce a música ‘Reality Show’

que foi um sucesso, é a versão dois, do

TVWC, 40 anos depois?

JG: (risos) De certa forma sim, é a história

de um padeiro do Seixal, que de repente

ficou famoso, teve os seus momentos de

fama, mas rapidamente viu que para ter

paz de espírito o melhor era voltar a ser

padeiro.

F: Ainda durante 2017 acontece novo revés,

os ex-colegas de banda interpõem

uma providência cautelar que vos impede

de usar o nome TAXI, e escolhem

T4X1, sentiste que era o fim de um sonho,

de recuperar um nome e um projecto

musical que está gravado na história

do rock em Portugal?

JG: É verdade, vamos para tribunal e na

primeira audiência o juiz deu-nos razão,

eles recorreram e na segunda audiência

foi-lhes dada razão, vamos então para a

acção principal e conseguimos chegar a

acordo, prevaleceu o bom senso e a situação

ficou resolvida, em Junho deste ano.

O T4X1 foi uma denominação transitória

porque já estávamos com concertos marcados

e como não podíamos usar o nome

TAXI, arranjamos um que foneticamente é

diferente, mas visualmente tem semelhanças.

F: Desde a formação, os TAXI tiveram o

nome no jornal, foram caso nacional, ficaram

bem conhecidos e acabaram no

tribunal. Foi uma vida de cão?

JG: Estes últimos 3 anos foram, de resto os

TAXI foram muito além dos meus melhores

sonhos, tudo o que se passou connosco

superou completamente todas as nossas

expectativas. Tivemos uma vida muito boa,

fazíamos o que gostávamos e ainda nos

pagavam por isso.

Agora estes últimos 3 anos, garanto-te que

foi muito, muito, complicado mas felizmente

acabou bem que é o que interessa.

F: Depois desta decisão em tribunal e

por tudo o que passaste nestes últimos

anos, achas que é a nova vida dos TAXI?

JG: Totalmente, é uma nova vida, já temos

cerca de 15 músicas originais gravadas

prontas a editar em álbum, mortinhos para

o pôr cá fora, esta situação pandémica

atrasou tudo, mas estamos com muitos

projectos.

F: A vontade de fazer coisas novas, de

seres irreverente em palco é a mesma

de há 40 anos atrás?

JG: Completamente, quando estou em palco

parece que sou outra pessoa, estou no

meu mundo de fantasia mas que ao mesmo

tempo é real. Quando canto músicas de

há 40 anos atrás, aquele tempo passa-me

pelo meu imaginário como um flash e sinto-

-me um eterno adolescente. Ver o público

cantar, pular e dançar músicas feitas por

nós é a realização de um sonho, de criança,

tornado realidade.

F: Fala-me dos teus novos projectos, do

que tens na calha e do teu entusiasmo

para dares uma nova vida à banda?

JG: Temos muitos concertos reagendados,

estamos a pensar numa digressão completamente

diferente, que é o tal segredo que

não te posso revelar, mas acima de tudo

quero que tudo corra bem.

Enquanto me sentir bem a tocar, cantar, ensaiar,

gravar, etc, e isso me der prazer, com

profissionalismo é claro, mas ao mesmo

tempo com muita diversão, os TAXI continuarão

a tocar para os fãs.

F: Como estás a sentir esta pandemia,

tem-te prejudicado em termos profissionais?

JG: Imagina, quando um dos dias mais

felizes da minha vida recente, o dia 1 de

Junho, chegámos a acordo sobre o futuro

dos TAXI, parecia que se abria uma autoestrada

à nossa frente, com um disco pronto

a ser editado, concertos pelo país, logo

tudo se começou a afunilar até que fechou.

Veio prejudicar imensamente, é um ano

que está a ir completamente à vida, é um

ano completamente apagado.

O que temos feito é compor, o nosso disco

já estava fechado mas não impresso, então

nada nos impedia de continuar a compor,

por acaso duas das melhores músicas

compusemo-las agora e irão substituir outras

do alinhamento inicial, por isso sem

stresse, nas calmas, temos estado a trabalhar

com vista à continuidade dos TAXI.

texto e foto:

FOCUSMSN - cultura, desporto, música

www.focusmsn.pt

Outubro 2020 | Lusitano de Zurique | WWW.CLDZ.EU

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