Outubro_2020 - nº 269
Órgão informativo do Centro Lusitano de Zurique Edição de Outubro 2020
Órgão informativo do Centro Lusitano de Zurique
Edição de Outubro 2020
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
ESPECTÁCULO
27
JG: Foi óptimo, ele é espectacular, adoro
o Rod Stewart, lembro-me que ele começa
a cantar e eu pensei, ‘isto vai ser um fiasco,
ele está afónico’, mas depois da terceira
música, a voz aqueceu (risos) e foi um
espectáculo, nunca mais parou, sempre
a abrir até final. Na altura o guitarrista do
Rod era muito amigo do Zé Nabo, tinham
tocado juntos no grupo Objectivo, o Zé veio
assistir ao concerto e no final ainda conversamos.
Foi uma experiência muito boa.
F: Em 1985, editam a balada ‘Sozinho’,
sentias mágoa, nostalgia, ingratidão,
que sentimentos tinhas naquela altura,
querias estar sozinho?
JG: Não, esta música nunca foi autobiográfica,
o que aconteceu foi o seguinte, nós
estávamos a atravessar um problema existencial,
estávamos cansados, passámos os
anos 70 todos sempre a tocar e a ensaiar,
e continuou pelos anos 80, mas agora com
muito mais pressão, e não nos saía nada.
Acontece que o Marinho, presidente da Polygram,
veio-nos pedir por favor para gravar um
quarto disco, dissemos que não tínhamos
material para um álbum mas tínhamos duas
músicas prontas, então fomos para Hamburgo
para gravar um single.
As músicas eram ‘Sozinho’ e ‘O Céu Pode Esperar’,
só que esta ficou muito fraquinha, então
foi resolvido gravar duas versões do ‘Sozinho’,
lado A em Português e o B em Inglês.
F: Em 1986 o grupo, para enorme tristeza
dos fãs, anuncia o fim, a que se deveu
esta inesperada decisão?
JG: Antes da gravação do nosso último álbum
‘The Night’ já tinha começado a haver
alguns atritos entre nós. Aquelas cenas de
ciúmes em que um sente que está a ter menos
protagonismo que o outro, etc.
Na altura também houve um problema com
o Rodrigo, o nosso baterista, teve problemas
complicados com a droga mas que felizmente
conseguiu superar por ele mesmo,
foi espectacular, inclusivamente escreveu
um livro sobre isso, e actualmente ajuda
pessoas que estão a passar por problemas
idênticos. No entanto as coisas ainda estavam
suficientemente bem para conseguirmos
compor aquele que eu considero um
dos nossos melhores discos.
Após a edição do disco, convoquei uma
reunião e disse ao Henrique, contigo não
toco mais. Não estava em questão a qualidade
musical do Henrique que era muita,
só que já não havia sintonia, ideias diferentes,
estávamos quase sempre em desacordo
e como estou, e estava, na música para
me divertir e não para me chatear, decidi
assim. Os TAXI pararam nessa altura.
F: Editam o álbum ‘The Night’ exclusivamente
cantado em inglês. Porquê o
regresso às origens, depois do sucesso
alcançado cantando em português?
JG: Olha, foi mais uma tentativa de alcançar
o mercado internacional, só que a
Polygram não promoveu o disco, tiveram
muitas despesas na gravação mas depois
sabe-se lá porquê não investiram na promoção
e um disco que não é promovido
não existe.
F: Mas mesmo depois de se terem separado
e até 2009 vocês ainda se juntavam
esporadicamente para tocar…
JG: Nos juntávamos para tocar quando nos
convidavam para algum evento especial ou
comemorativo de alguma situação, mas o
ambiente agudizou-se de tal forma que não
havia qualquer hipótese de voltarmos a tocar
juntos, com a idade também nos tornámos
menos tolerantes.
Por vezes nos encontrávamos aqui e ali
mas nunca falávamos dos TAXI, parecia um
assunto tabu, sabíamos que era assunto
que nos trazia uma grande mágoa, tivemos
na mão uma grande oportunidade de nos
divertirmos, de fazermos o que gostamos e
desperdiçamos essa oportunidade.
F: Em 2009 regressam com a formação
original e editam o álbum ‘Amanhã’, parecia
que os TAXI estavam relançados, o
que correu mal depois disso?
JG: Quando regressamos em 2009 e editamos
o álbum ‘Amanhã’, foi com o pressuposto
que as divergências estavam ultrapassadas
e que íamos continuar juntos
enquanto grupo, só que após a edição do
álbum, os problemas vieram a tona.
F: Em 2012 formas com o Rui Taborda
a banda Porto, e editas o álbum de originais
‘Persícula Cingulata’, com temas
como ‘Para Sempre’, De Mão em Mão’,
‘Onda do Meu Mar’, que tiveram algum
sucesso. Em 2017 voltam como TAXI,
porquê esta indefinição, no nome da
banda, para prosseguirem a carreira?
JG: A explicação é muito simples, começámos
a compor as nossa músicas mas
a sonoridade não tinha nada a ver com os
TAXI, era mais à base de piano e teclas,
então para não confundir os fãs, formamos
a banda Porto, um projecto autónomo. Foi
um disco totalmente gravado pelo Rui, na
sua casa, masterizado nos EUA, e lançado
como um projecto de autor. Depois disso
começámos a gravar mais à base de guitarras,
uma sonoridade muito mais TAXI.
F: Desse regresso à sonoridade dos
TAXI, nasce a música ‘Reality Show’
que foi um sucesso, é a versão dois, do
TVWC, 40 anos depois?
JG: (risos) De certa forma sim, é a história
de um padeiro do Seixal, que de repente
ficou famoso, teve os seus momentos de
fama, mas rapidamente viu que para ter
paz de espírito o melhor era voltar a ser
padeiro.
F: Ainda durante 2017 acontece novo revés,
os ex-colegas de banda interpõem
uma providência cautelar que vos impede
de usar o nome TAXI, e escolhem
T4X1, sentiste que era o fim de um sonho,
de recuperar um nome e um projecto
musical que está gravado na história
do rock em Portugal?
JG: É verdade, vamos para tribunal e na
primeira audiência o juiz deu-nos razão,
eles recorreram e na segunda audiência
foi-lhes dada razão, vamos então para a
acção principal e conseguimos chegar a
acordo, prevaleceu o bom senso e a situação
ficou resolvida, em Junho deste ano.
O T4X1 foi uma denominação transitória
porque já estávamos com concertos marcados
e como não podíamos usar o nome
TAXI, arranjamos um que foneticamente é
diferente, mas visualmente tem semelhanças.
F: Desde a formação, os TAXI tiveram o
nome no jornal, foram caso nacional, ficaram
bem conhecidos e acabaram no
tribunal. Foi uma vida de cão?
JG: Estes últimos 3 anos foram, de resto os
TAXI foram muito além dos meus melhores
sonhos, tudo o que se passou connosco
superou completamente todas as nossas
expectativas. Tivemos uma vida muito boa,
fazíamos o que gostávamos e ainda nos
pagavam por isso.
Agora estes últimos 3 anos, garanto-te que
foi muito, muito, complicado mas felizmente
acabou bem que é o que interessa.
F: Depois desta decisão em tribunal e
por tudo o que passaste nestes últimos
anos, achas que é a nova vida dos TAXI?
JG: Totalmente, é uma nova vida, já temos
cerca de 15 músicas originais gravadas
prontas a editar em álbum, mortinhos para
o pôr cá fora, esta situação pandémica
atrasou tudo, mas estamos com muitos
projectos.
F: A vontade de fazer coisas novas, de
seres irreverente em palco é a mesma
de há 40 anos atrás?
JG: Completamente, quando estou em palco
parece que sou outra pessoa, estou no
meu mundo de fantasia mas que ao mesmo
tempo é real. Quando canto músicas de
há 40 anos atrás, aquele tempo passa-me
pelo meu imaginário como um flash e sinto-
-me um eterno adolescente. Ver o público
cantar, pular e dançar músicas feitas por
nós é a realização de um sonho, de criança,
tornado realidade.
F: Fala-me dos teus novos projectos, do
que tens na calha e do teu entusiasmo
para dares uma nova vida à banda?
JG: Temos muitos concertos reagendados,
estamos a pensar numa digressão completamente
diferente, que é o tal segredo que
não te posso revelar, mas acima de tudo
quero que tudo corra bem.
Enquanto me sentir bem a tocar, cantar, ensaiar,
gravar, etc, e isso me der prazer, com
profissionalismo é claro, mas ao mesmo
tempo com muita diversão, os TAXI continuarão
a tocar para os fãs.
F: Como estás a sentir esta pandemia,
tem-te prejudicado em termos profissionais?
JG: Imagina, quando um dos dias mais
felizes da minha vida recente, o dia 1 de
Junho, chegámos a acordo sobre o futuro
dos TAXI, parecia que se abria uma autoestrada
à nossa frente, com um disco pronto
a ser editado, concertos pelo país, logo
tudo se começou a afunilar até que fechou.
Veio prejudicar imensamente, é um ano
que está a ir completamente à vida, é um
ano completamente apagado.
O que temos feito é compor, o nosso disco
já estava fechado mas não impresso, então
nada nos impedia de continuar a compor,
por acaso duas das melhores músicas
compusemo-las agora e irão substituir outras
do alinhamento inicial, por isso sem
stresse, nas calmas, temos estado a trabalhar
com vista à continuidade dos TAXI.
texto e foto:
FOCUSMSN - cultura, desporto, música
www.focusmsn.pt
Outubro 2020 | Lusitano de Zurique | WWW.CLDZ.EU