Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
wE<br />
mkt<br />
vale arellano/Unsplash<br />
Em meio à pan<strong>de</strong>mia,<br />
uma... língua!<br />
“Aproveitar a vida não é uma<br />
prerrogativa exclusiva dos jovens”<br />
Mick Jagger<br />
Francisco alberto Madia <strong>de</strong> souza<br />
Parou as redações, ainda que por poucos<br />
momentos. Mas, parou. Mais que na hora<br />
<strong>de</strong> mostrar essa língua <strong>de</strong> 50 anos para<br />
o coronavírus... Em tempo, Andy Warhol<br />
passou perto, mas jamais colocou a mão<br />
na língua... Em meio à coronacrise, on<strong>de</strong><br />
a única vacina comprovadamente eficaz<br />
e existente era a máscara, além, claro, <strong>de</strong><br />
uma comunicação <strong>de</strong> excepcional qualida<strong>de</strong><br />
e capaz <strong>de</strong> mobilizar as pessoas, coisa<br />
que <strong>de</strong>finitivamente não aconteceu em<br />
nosso país, muito especialmente em São<br />
Paulo pela bateção <strong>de</strong> cabeça infernal e patética<br />
<strong>de</strong> João e Bruno, uma língua com 50<br />
anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> ocupou a cena, ainda que por<br />
poucos dias. Todos muito nervosos e apavorados.<br />
A língua vermelha, espichada, boca<br />
a fora, concebida no mês <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1970<br />
– 50 anos – para ilustrar o cartaz da turnê<br />
dos Rolling Stones.<br />
Um dia toca o telefone do Royal College<br />
of Art. Era a assistente do empresário do<br />
conjunto <strong>de</strong> rock Rolling Stones. Diz o assistente:<br />
“Estamos precisando <strong>de</strong> uma indicação<br />
<strong>de</strong> um <strong>de</strong>signer para criar o cartaz<br />
da turnê pela Europa <strong>de</strong> uma banda <strong>de</strong> música...<br />
o nome, sim, Rolling Stones...”. Dias<br />
<strong>de</strong>pois... “É do escritório do Rolling Stones?<br />
Foi daí que pediram uma indicação <strong>de</strong> <strong>de</strong>signer?<br />
Estamos indicando o John Pasche...<br />
um jovem e talentoso artista <strong>de</strong> 24 anos...”.<br />
Na semana seguinte Pasche encontra-<br />
-se com Mick Jagger. Recebe o briefing e<br />
marcam uma segunda reunião para dali<br />
a uma semana. Pasche chega com duas<br />
dúzias <strong>de</strong> sugestões. Jagger recusa todas,<br />
mas, estimula... “tem algumas boas i<strong>de</strong>ias,<br />
mas, por favor, tente um pouco mais...”.<br />
Na semana seguinte Pasche volta e Jagger<br />
escolhe uma língua saindo <strong>de</strong> uma boca. E<br />
pe<strong>de</strong> pequenas modificações. E a partir daí<br />
provas, idas e vindas, um pedido adicional<br />
<strong>de</strong> adaptação para aplicação na capa <strong>de</strong> um<br />
programa...<br />
Numa terceira reunião, diante <strong>de</strong> uma<br />
língua saindo <strong>de</strong> uma boca, mas, ainda<br />
originalmente, em preto e branco, Jagger<br />
mostrou para Pasche a ilustração da divinda<strong>de</strong><br />
hindu Kali, também com uma língua<br />
saindo pela boca... Gesto típico, segundo<br />
Pasche, das divinda<strong>de</strong>s e das crianças. Jagger<br />
bateu o martelo! Antes do Natal <strong>de</strong> 1970,<br />
a língua mais vista, publicada e comentada<br />
da história mo<strong>de</strong>rna estava finalizada,<br />
pronta e aprovada. Faltava <strong>de</strong>finir a data <strong>de</strong><br />
seu lançamento.<br />
Abril <strong>de</strong> 1971, álbum Sticky Fingers – a<br />
língua faz, finalmente, seu <strong>de</strong>but. O álbum<br />
seria lançado na sequência nos Estados<br />
Unidos, e, naquele momento, <strong>de</strong>cidiu-se<br />
mandar uma versão oficial da língua via<br />
fax. Ao receber o fax, razoavelmente borrado,<br />
Craig Braun, que trabalhava com Andy<br />
Wharol, <strong>de</strong>cidiu dar uma arrumada. E, ao<br />
arrumar, não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r a pequenas<br />
e relevantes modificações. Alongou a<br />
língua e colocou pequenos <strong>de</strong>talhes adicionais.<br />
E essa versão converteu-se na versão<br />
oficial da língua mais famosa e publicada<br />
dos tempos mo<strong>de</strong>rnos.<br />
A única capaz <strong>de</strong> parar as redações, dar<br />
uma pausa nas matérias sobre o coronavírus,<br />
50 anos <strong>de</strong>pois, para falar <strong>de</strong>la, da<br />
língua. John Pasche recebeu 50 libras por<br />
seu trabalho, e, no fim do primeiro ano, um<br />
bônus <strong>de</strong> performance <strong>de</strong> 200 libras. A partir<br />
<strong>de</strong> 1976, com o sucesso da língua, assina<br />
um contrato sobre a venda <strong>de</strong> merchandising<br />
e passa a receber 10% do total das vendas<br />
líquidas. Durante 12 anos ganhou um<br />
bom dinheiro e, diante <strong>de</strong> uma proposta<br />
irrecusável da banda, ven<strong>de</strong>u seus direitos<br />
autorais sobre a língua.<br />
Essa língua. Que, repito, 50 anos <strong>de</strong>pois,<br />
continua parando as redações e mexendo<br />
com o mundo. Mais que na hora <strong>de</strong> mostrar<br />
a língua para a Covid-19 para que <strong>de</strong>sapareça<br />
e nos <strong>de</strong>volva a paz. Já que a economia<br />
vamos levar alguns anos para recuperar.<br />
Francisco Alberto Madia <strong>de</strong> Souza<br />
é consultor <strong>de</strong> marketing<br />
famadia@madiamm.com.br<br />
20 7 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> <strong>2020</strong> - jornal propmark