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edição de 13 de junho de 2022

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inspiração<br />

sombra para enxergar a luz<br />

Fotos: Arquivo Pessoal e Dumbledore<br />

“Achava que nunca mais conseguiria me realocar no mercado<br />

<strong>de</strong> trabalho, achei que todos me veriam como ‘café com leite’”<br />

Paloma Quintela<br />

especial para o PRoPmaRK<br />

Quando fui convidada para escrever essa<br />

coluna Inspiração, a minha mente <strong>de</strong>u<br />

várias voltas em histórias que pu<strong>de</strong>ssem ser<br />

engraçadas, inéditas ou mirabolantes.<br />

O que será que me inspira? Tem <strong>de</strong> ser<br />

algo que as pessoas achem superdiferente,<br />

que chame a atenção!<br />

Sentando para escrever, percebi que não<br />

tinha outro jeito. Eu sei o que me inspira, eu<br />

sei o meu propósito e é isso que quero compartilhar.<br />

Aos 24 anos, trabalhando em agência <strong>de</strong><br />

publicida<strong>de</strong>, no que eu acreditava ser o momento<br />

perfeito para meu crescimento profissional<br />

e pessoal, meu corpo “travou”.<br />

Eu me lembro como se fosse ontem. Estava<br />

prestes a viajar para cobrir um evento<br />

no Rio <strong>de</strong> Janeiro e tive uma dor na cabeça<br />

que parecia a morte, liguei para minha mãe<br />

pensando que estava tendo um AVC.<br />

Depois daquele dia, foram 2 anos até ter o<br />

meu diagnóstico. Eu sentia dor, especificamente<br />

na cabeça, todos os dias, sem trégua.<br />

Foram três longas internações, muitos<br />

remédios, incontáveis idas a neurologistas,<br />

igrejas, centros espíritas, psiquiatras, psicólogos<br />

e tudo o que vocês po<strong>de</strong>m imaginar.<br />

A busca incessante por um diagnóstico e tratamento.<br />

Eu tive <strong>de</strong> parar <strong>de</strong> trabalhar e achava<br />

que nunca mais conseguiria me realocar no<br />

mercado <strong>de</strong> trabalho, achei que todos me<br />

veriam como “café com leite” (inclusive eu<br />

mesma).<br />

Nesses 2 anos, os mais difíceis da minha<br />

vida, eu só me perguntava: “por que isso<br />

está acontecendo comigo?” e “ por que comigo?<br />

“. Eu não conseguia levantar da cama <strong>de</strong><br />

tanta dor que sentia, chorava todos os dias,<br />

ficava no quarto escuro, não queria levantar,<br />

não queria comer e não queria ver ninguém.<br />

Meus pais e família estavam <strong>de</strong>sesperados.<br />

Nas idas aos hospitais, via as pessoas vivendo<br />

normalmente, trabalhando, sorrindo<br />

e eu sentia muita vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver novamente<br />

como elas. Achava que nunca mais<br />

conseguiria.<br />

Muitas pessoas não entendiam o que eu<br />

estava passando, pensavam que eu estava<br />

doidinha (muitos dos médicos também<br />

achavam).<br />

Depois <strong>de</strong> muita persistência, com o amor<br />

e o apoio que recebi dos meus pais e da minha<br />

família, fui diagnosticada com uma doença<br />

rara: disautonomia do sistema nervoso.<br />

Doença totalmente tratável, controlada<br />

com medicação, fisioterapia e paciência.<br />

Aos poucos, durante o tratamento, enquanto<br />

não podia voltar para agência (pois<br />

tinha crises e não conseguia ficar muito tempo<br />

em pé), comecei a trabalhar como freelancer<br />

para pequenos e médios negócios da<br />

região em que eu morava.<br />

Nesse cenário, o meu médico, um dos melhores<br />

neurologistas do Brasil, me chamou<br />

para cuidar do marketing <strong>de</strong>le.<br />

Atualmente, 60% do meu trabalho é aten<strong>de</strong>r<br />

médicos e compartilhar informações <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong> sobre saú<strong>de</strong>, doenças raras e outras<br />

condições.<br />

O meu “por que comigo?” virou “para que<br />

comigo?” É esse o propósito. Hoje eu entendo.<br />

Todos os dias quando acordo percebo<br />

que tudo acontece da forma que <strong>de</strong>ve ser.<br />

Eu tenho tesão em viver. Eu tenho vonta<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> levantar e <strong>de</strong> criar. Muitas vezes, choro<br />

enquanto tomo banho só <strong>de</strong> pensar que consigo<br />

levantar e fazer isso sozinha. Eu agra<strong>de</strong>ço.<br />

Não trabalho mais no automático e não<br />

vivo mais no automático. Tenho presença.<br />

Algo diferente me preenche: a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

viver. A vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajudar outras pessoas.<br />

De evitar novos sofrimentos. De levar luz<br />

por on<strong>de</strong> eu estiver.<br />

Talvez eu precisasse da sombra para enxergar<br />

a luz.<br />

Um dos piores momentos da minha<br />

vida me inspira todos os dias. Ele me<br />

inspira a ser uma pessoa melhor para a<br />

minha família, para meus amigos, clientes,<br />

parceiros, colaboradores e, principalmente,<br />

para mim mesma.<br />

Paloma Quintela é head <strong>de</strong> planejamento<br />

e conteúdo, cocriadora da Pontelo Digital<br />

jornal propmark - <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2022</strong> 11

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