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Revista da Misericórdia #45

IGUALDADE foi o desafio lançado e que reuniu um excelente grupo de colaboradores/as - internos e externos - que refletiram sobre as diferentes variáveis que se cruzam em torno deste tema tão atual. Porque é preciso pensar a igualdade como forma de combater a desigualdade social, de género, na educação, terceira idade e cuidados de saúde. Nos caminhos a trilhar de acesso aos serviços, apoios e direitos. E onde o roxo funciona também como o seu símbolo de representação, pela síntese entre o azul e o cor-de-rosa e que funcionou na década de 70 como bandeira na luta pela igualdade de direitos. Esta edição da revista espelha a necessidade de lutarmos pelos valores da igualdade numa só voz, onde ainda nem tudo são rosas.

IGUALDADE foi o desafio lançado e que reuniu um excelente grupo de colaboradores/as - internos e externos - que refletiram sobre as diferentes variáveis que se cruzam em torno deste tema tão atual.
Porque é preciso pensar a igualdade como forma de combater a desigualdade social, de género, na educação, terceira idade e cuidados de saúde. Nos caminhos a trilhar de acesso aos serviços, apoios e direitos. E onde o roxo funciona também como o seu símbolo de representação, pela síntese entre o azul e o cor-de-rosa e que funcionou na década de 70 como bandeira na luta pela igualdade de direitos. Esta edição da revista espelha a necessidade de lutarmos pelos valores da igualdade numa só voz, onde ainda nem tudo são rosas.

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Pag | 58

#45

Cultura

A MULHER: UM GÉNERO COM

DIREITOS A CONQUISTAR.

“Não se nasce mulher, torna-se mulher.”

Simone de Beauvoir in “O Segundo Sexo”

No século XX, Simone de Beauvoir mostra-nos um novo

entendimento do género feminino. É compreensível na sua

citação uma construção do género, com um agente

implicado na sua formulação e que se apropria desse.

Simone em nada explica que o “ser” que se torna mulher

seja necessariamente uma figura feminina. Como a mesma

afirma, “o corpo é uma situação”, não há como recorrer a um

corpo que já não tenha sido sempre interpretado por um meio

de significados culturais; consequentemente, o sexo não

poderia qualificar-se como uma facticidade anatómica

pré-discursiva. Já no final do século, em 1995, Joan Scott, diz

que o termo “género” se torna, antes, uma maneira de indicar

“construções culturais” – a criação inteiramente social de ideias

sobre os papéis adequados às mulheres e aos homens.

No entender de Judith Butler (2003), “se há algo de certo na

afirmação de Beauvoir de que ninguém nasce e sim torna-se

mulher decorre que mulher é um termo em processo, um devir,

um construir de que não se pode dizer como acerto que tenha

uma origem ou um fim”. Concluímos então que o género é,

segundo estas definições, uma categoria social imposta sobre

um corpo sexuado.

Na Europa Ocidental, a construção do paradigma de mulher

associou-se às religiões monoteístas, particularmente ao

Cristianismo. Na Época Medieval, a construção do

imaginário sobre a mulher, proveniente dos textos do

“Génesis”, concebem a mesma à semelhança de Eva,

retirada da costela de Adão. As reinterpretações feitas dos

textos supracitados ficaram a cargo de religiosos, médicos

e juristas, originando um pensamento estereotipado sobre

as mulheres, onde estas eram frágeis, incapazes e

tentadoras, guiando o homem ao pecado. A sua função

devia estar limitada à reprodução, raciocínio este que

perpetuou a ideia da existência de uma inferioridade

orgânica das mulheres perante os homens.

Durante a Época Moderna, a inferioridade da mulher

continuava enraizada na sua diferença sexual, onde o seu

papel natural se pautava apenas pela reprodução. Já na

contemporaneidade, a separação entre público e privado

inclui também diferenças de género, sendo que o espaço

público era o palco patriarcal por excelência,

predominantemente masculino, enquanto o espaço privado e

doméstico, era o espaço de vivência do sexo feminino,

“partilhando-se da convicção que a «domesticidade» era

condição «natural» da mulher” (Vaquinhas, 2011).

Durante o Estado Novo em Portugal, a família era um elemento

fulcral para fundamentar a visão conservadora do regime

político vigente. Os papéis de género eram diferentes, sendo o

homem tido como ser predisposto a tomar melhor decisões,

tendo uma intelectualidade superior à mulher, alvo de

atribuição de características emotivas, tida como

biologicamente predisposta à reprodução e à devoção ao

marido e aos filhos. A mulher devia preparar as refeições

atempadamente, fazer a manutenção do vestuário e gerir o

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