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Alê Oliveira<br />
Self-checkout<br />
“Mas com gente é diferente”.<br />
“Disparada”, Geraldo Vandré<br />
Francisco Alberto Madia <strong>de</strong> Souza<br />
é consultor <strong>de</strong> marketing<br />
fmadia@madiamm.com.br<br />
Francisco Alberto Madia <strong>de</strong> Souza<br />
É<br />
essa a <strong>de</strong>nominação que muitas empresas da nova<br />
economia vem adotando, fazendo, praticando.<br />
Demissão pelo digital, a distância, <strong>de</strong> forma seca,<br />
dura, gelada, <strong>de</strong>vastadora. Como cantou Vandré em<br />
“Disparada”, “porque gado a gente marca, tange, ferra,<br />
engorda e mata, mas com gente é diferente...”. Era!<br />
Agora é pior do que com gado.<br />
Cada empresa escolhe como proce<strong>de</strong>r em relação<br />
ao seu principal capital, seu capital humano. A empresa<br />
que adota o self-checkout está acionando uma bomba<br />
relógio que ao eclodir manda sua marca – mais que merecidamente<br />
– para o quinto dos infernos. Até anos atrás<br />
o capital humano, o People <strong>de</strong> nossa Madia Marketing<br />
Matrix, era constituído exclusivamente das pessoas que<br />
trabalhavam na empresa.<br />
Hoje, na SEKS, Knowledge Society e Sharing Economy,<br />
o capital humano das empresas – em verda<strong>de</strong> seu capital<br />
principal, <strong>de</strong>sdobra-se em 3 dos 13 “Ps” <strong>de</strong> nossa<br />
Matrix: People, os que continuam trabalhando <strong>de</strong>ntro; +<br />
Partners, os parceiros externos; e + Provi<strong>de</strong>rs, os fornecedores.<br />
Todos, sem exceção, <strong>de</strong>veriam continuar sendo<br />
selecionados, escolhidos, treinados e tratados com respeito<br />
e carinho, e maior admiração. A pão <strong>de</strong> ló. Jamais,<br />
como os gados são citados na canção <strong>de</strong> Vandré.<br />
Mas, na nova economia, e em seu episódio mais<br />
sórdido e burro, “Com Gente Não É Mais Diferente”. É<br />
como gado! Algumas das empresas da nova economia<br />
tangem, ferram, engordam e matam seu People, a parte<br />
mais importante e sensível <strong>de</strong> todo o negócio. Marcando<br />
na pele, coração e alma os que até ontem eram valorizados,<br />
e plantando uma semente <strong>de</strong> preocupação, angústia<br />
e medo, nos provisoriamente sobreviventes.<br />
Em matéria da melhor qualida<strong>de</strong> e importância, assinada<br />
por Carolina Nalin, em O Globo, a pratica embainhada<br />
com requintes <strong>de</strong> cruelda<strong>de</strong> e sangue jorrando por<br />
todos os lados: “A <strong>de</strong>missão por vi<strong>de</strong>ochamada em grupo<br />
não é mais caso isolado. Vem sendo adotada e praticada<br />
em empresas <strong>de</strong> tecnologia <strong>de</strong> diferentes países. A<br />
modalida<strong>de</strong> self-checkout, em que o próprio funcionário<br />
se <strong>de</strong>sliga da empresa sem merecer um telefonema ou<br />
reunião, já é consi<strong>de</strong>rada praxe em muitas <strong>de</strong>ssas empresas.<br />
Até o último dia 9 <strong>de</strong> junho, mais <strong>de</strong> 8 mil <strong>de</strong>missões<br />
aconteceram nesse formato em empresas da nova<br />
economia aqui no Brasil...”<br />
A tal da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> não significa abandono e<br />
<strong>de</strong>sconexão dos valores essenciais. Esses não apenas<br />
permanecem e, agora, mais que em qualquer outro<br />
momento, megavalorizados. Tudo o mais é passível<br />
<strong>de</strong> recuperação. Corrigem-se os erros <strong>de</strong> planejamento,<br />
as práticas do dia a dia, proce<strong>de</strong>-se a uma revisão<br />
no portfólio <strong>de</strong> produtos e serviços, muda-se a se<strong>de</strong>,<br />
abrem-se e fecham-se filiais, renovam-se parcerias e,<br />
especialmente, <strong>de</strong>scartam-se velhas plataformas e<br />
tecnologias trocando por novas e mais eficazes; repito,<br />
tudo o mais é passível <strong>de</strong> recuperação. Respeito, consi<strong>de</strong>ração<br />
e empatia são princípios ativos essenciais para<br />
empresas que preten<strong>de</strong>m alcançar um mínimo <strong>de</strong> vida<br />
e sustentabilida<strong>de</strong>. Sem esses valores básicos po<strong>de</strong>-se<br />
até mesmo atenuar os <strong>de</strong>safios <strong>de</strong> caixa <strong>de</strong> curto prazo,<br />
e até mesmo atenuar os prováveis resultados negativos<br />
do balanço, mas equivale a ministrar cicuta recorrente<br />
às empresas.<br />
Cicuta? Designação vulgar <strong>de</strong> plantas herbáceas do<br />
gênero Conium e da família das umbelíferas... A cicuta<br />
– conium maculatum – é planta aromática, com caules<br />
cilíndricos, frequentemente manchadas <strong>de</strong> vermelho...<br />
com alto potencial tóxico para animais e seres humanos.<br />
Isso posto, totalmente <strong>de</strong>sprovidas <strong>de</strong> inteligência<br />
social, muitas das empresas da nova economia não se<br />
<strong>de</strong>ram conta, ainda, e <strong>de</strong>pois não adiantará mais, que ao<br />
adotarem o self-checkout, <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> mesmo, o que estão<br />
fazendo é praticarem o “shoot yourself in the foot”,<br />
atirando, mais que contra os próprios pés, contra seus<br />
cérebros tecnológicos infinitamente menores e <strong>de</strong>sprezíveis<br />
do que das minhocas. Mesmo porque, jamais conseguiriam<br />
atirar contra o que não têm. Coração.<br />
38 3 <strong>de</strong> <strong>julho</strong> <strong>de</strong> <strong>2023</strong> - jornal propmark