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edição de 13 de novembro de 2023

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mercado<br />

Campanhas do setor <strong>de</strong> alimentos<br />

esclarecem sobre reforma tributária<br />

As ações “Carrinho livre” e “Doce veneno” pressupõem caráter <strong>de</strong><br />

lobby atrás <strong>de</strong> vantagens nas alterações <strong>de</strong> impostos em tramitação<br />

Pedro Yves<br />

Mudar a forma como os impostos<br />

são arrecadados, buscando<br />

<strong>de</strong>satar o emaranhado <strong>de</strong> leis,<br />

normas e artigos que há anos infernizam<br />

empresas e cidadãos brasileiros<br />

é um assunto <strong>de</strong>batido no Congresso<br />

e pela socieda<strong>de</strong>. Porém, o choque <strong>de</strong><br />

interesses fe<strong>de</strong>rativos entre União, estados<br />

e municípios e os conflitos dos diversos<br />

setores econômicos sobre quem vai<br />

receber menos e quem vai pagar mais,<br />

sempre foi um obstáculo para que os<br />

projetos avançassem.<br />

Mas a aprovação pela Câmara da<br />

PEC 45, votada na semana passada pela<br />

CCJ do Senado, com alterações no texto<br />

original que obrigarão a uma nova votação<br />

pelos <strong>de</strong>putados, parece indicar que<br />

finalmente haverá mudanças na arrecadação.<br />

Contudo, o assunto ainda promete<br />

polêmica. Não se sabe o que <strong>de</strong> fato<br />

será aprovado. Os lobbies, <strong>de</strong> políticos e<br />

empresários, continuam agindo nos bastidores<br />

do Congresso, buscando alterar<br />

pontos da PEC 45 que tragam vantagens<br />

seja para entes fe<strong>de</strong>rativos ou setores<br />

econômicos. Recentemente, as principais<br />

entida<strong>de</strong>s representativas da ca<strong>de</strong>ia<br />

<strong>de</strong> alimentos lançaram a campanha “Carrinho<br />

livre: por uma reforma tributária<br />

que respeite a sua liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha”.<br />

Criada pela agência Zeno Group, as<br />

inserções nas re<strong>de</strong>s sociais têm o objetivo<br />

<strong>de</strong> esclarecer a população sobre<br />

a importância <strong>de</strong> mudar o sistema <strong>de</strong><br />

arrecadação, que hoje “penaliza os consumidores<br />

<strong>de</strong> baixa renda em função da<br />

regressivida<strong>de</strong> do sistema e não contribui<br />

para o exercício da cidadania, pois<br />

não <strong>de</strong>ixa claro a informação sobre a<br />

parcela do preço que se <strong>de</strong>stina ao recolhimento<br />

<strong>de</strong> imposto”, diz o comunicado<br />

<strong>de</strong> lançamento da campanha, assinado<br />

pela Abia (Associação Brasileira da Indústria<br />

<strong>de</strong> Alimentos), Abir (Associação<br />

Brasileira das Indústrias <strong>de</strong> Refrigerantes<br />

e Bebidas Não Alcoólicas), Abimapi<br />

(Associação Brasileira das Indústrias <strong>de</strong><br />

Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães &<br />

Bolos Industrializados) e Abicab (Associação<br />

Brasileira da Indústria <strong>de</strong> Chocolates,<br />

Amendoim e Balas).<br />

Fotos: Divulgação<br />

“Carrinho livre” é movimento das entida<strong>de</strong>s da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> alimentos em ação da Zeno<br />

ONG ACT Promoção da Saú<strong>de</strong> lançou “Doce veneno”, campanha criada pela Repense<br />

Cristina Helena Pinto <strong>de</strong> Mello, professora da ESPM: lobby para vantagens tributárias<br />

“Lobbies<br />

<strong>de</strong>sfiguram<br />

proposta que<br />

seria bem-vinda<br />

a toda a nação”<br />

No texto, as entida<strong>de</strong>s frisam a importância<br />

da ca<strong>de</strong>ia produtiva <strong>de</strong> alimentos,<br />

que “processa 58% <strong>de</strong> toda a produção<br />

agropecuária do país e representa o<br />

maior setor da indústria <strong>de</strong> transformação<br />

brasileira. É também o maior gerador<br />

<strong>de</strong> empregos, com 1,9 milhão <strong>de</strong> postos<br />

diretos <strong>de</strong> trabalho, em mais <strong>de</strong> 38 mil<br />

empresas. Se levarmos em conta toda<br />

a ca<strong>de</strong>ia, do campo ao varejo, estamos<br />

falando <strong>de</strong> um setor que movimenta 19,5<br />

milhões <strong>de</strong> empregos no total”.<br />

A nota enfatiza ainda que “é importante<br />

ter em consi<strong>de</strong>ração que o aumento<br />

da tributação para o segmento po<strong>de</strong> não<br />

ser eficaz, po<strong>de</strong>ndo também ter efeitos<br />

adversos na economia e na arrecadação<br />

<strong>de</strong> impostos, como a redução no valor<br />

bruto <strong>de</strong> produção, a diminuição no valor<br />

adicionado à economia (PIB), a redução<br />

<strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalho e massa salarial,<br />

e a diminuição na arrecadação total <strong>de</strong><br />

impostos diretos sobre a produção”.<br />

Para a professora <strong>de</strong> economia da<br />

ESPM Cristina Helena Pinto <strong>de</strong> Mello, esse<br />

trecho do documento supõe um aumento<br />

na tributação <strong>de</strong> alimentos e bebidas,<br />

no que parece uma clara manifestação<br />

<strong>de</strong> lobby do setor em busca <strong>de</strong> vantagens<br />

tributárias. “Ele não visualiza os<br />

impactos na ca<strong>de</strong>ia produtiva. Portanto,<br />

não se po<strong>de</strong> afirmar que a atual proposta<br />

reduz liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha e reduz espaço<br />

na cesta <strong>de</strong> consumo das famílias.<br />

Toda a sequência lógica <strong>de</strong> raciocínio não<br />

está fundamentada e induz o consumidor<br />

a erro. Outra questão relevante é a<br />

utilização dos impostos indiretos como<br />

forma <strong>de</strong> produzir escolhas nutricionais<br />

melhores como redução no consumo <strong>de</strong><br />

açúcar, sal e álcool.”<br />

Esta última questão é tema <strong>de</strong> outra<br />

campanha com teor <strong>de</strong> lobby. Também<br />

lançada há pouco, assinada pela ONG<br />

ACT Promoção da Saú<strong>de</strong> e criada pela<br />

agência Repense, a campanha “Doce<br />

veneno” “convida a população a participar<br />

do <strong>de</strong>bate da reforma tributária e<br />

dizer não à farra dos ultraprocessados”.<br />

Por meio <strong>de</strong> um abaixo assinado, tenta<br />

mobilizar os consumidores para que a<br />

reforma tributária beneficie “apenas os<br />

alimentos saudáveis”.<br />

Um dos maiores tributaristas do Brasil,<br />

o advogado Ives Gandra Martins fala<br />

que a atuação <strong>de</strong> lobbies na reforma,<br />

além <strong>de</strong> <strong>de</strong>sfigurar uma proposta que<br />

seria bem-vinda a toda a nação, mostra<br />

que o tema está longe <strong>de</strong> se esgotar com<br />

a aprovação final da PEC 45, seja da forma<br />

que for. “Creio que contadores e advogados<br />

tributaristas não se queixarão<br />

do trabalho que terão por <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong><br />

anos, pois só a <strong>de</strong>finição pela Suprema<br />

Corte do que seria ‘operação’, ‘circulação’<br />

e ‘mercadoria’ do ICM levou aproximadamente<br />

30 anos.”<br />

jornal propmark - <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>novembro</strong> <strong>de</strong> <strong>2023</strong> 45

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