Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
mercado<br />
Campanhas do setor <strong>de</strong> alimentos<br />
esclarecem sobre reforma tributária<br />
As ações “Carrinho livre” e “Doce veneno” pressupõem caráter <strong>de</strong><br />
lobby atrás <strong>de</strong> vantagens nas alterações <strong>de</strong> impostos em tramitação<br />
Pedro Yves<br />
Mudar a forma como os impostos<br />
são arrecadados, buscando<br />
<strong>de</strong>satar o emaranhado <strong>de</strong> leis,<br />
normas e artigos que há anos infernizam<br />
empresas e cidadãos brasileiros<br />
é um assunto <strong>de</strong>batido no Congresso<br />
e pela socieda<strong>de</strong>. Porém, o choque <strong>de</strong><br />
interesses fe<strong>de</strong>rativos entre União, estados<br />
e municípios e os conflitos dos diversos<br />
setores econômicos sobre quem vai<br />
receber menos e quem vai pagar mais,<br />
sempre foi um obstáculo para que os<br />
projetos avançassem.<br />
Mas a aprovação pela Câmara da<br />
PEC 45, votada na semana passada pela<br />
CCJ do Senado, com alterações no texto<br />
original que obrigarão a uma nova votação<br />
pelos <strong>de</strong>putados, parece indicar que<br />
finalmente haverá mudanças na arrecadação.<br />
Contudo, o assunto ainda promete<br />
polêmica. Não se sabe o que <strong>de</strong> fato<br />
será aprovado. Os lobbies, <strong>de</strong> políticos e<br />
empresários, continuam agindo nos bastidores<br />
do Congresso, buscando alterar<br />
pontos da PEC 45 que tragam vantagens<br />
seja para entes fe<strong>de</strong>rativos ou setores<br />
econômicos. Recentemente, as principais<br />
entida<strong>de</strong>s representativas da ca<strong>de</strong>ia<br />
<strong>de</strong> alimentos lançaram a campanha “Carrinho<br />
livre: por uma reforma tributária<br />
que respeite a sua liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha”.<br />
Criada pela agência Zeno Group, as<br />
inserções nas re<strong>de</strong>s sociais têm o objetivo<br />
<strong>de</strong> esclarecer a população sobre<br />
a importância <strong>de</strong> mudar o sistema <strong>de</strong><br />
arrecadação, que hoje “penaliza os consumidores<br />
<strong>de</strong> baixa renda em função da<br />
regressivida<strong>de</strong> do sistema e não contribui<br />
para o exercício da cidadania, pois<br />
não <strong>de</strong>ixa claro a informação sobre a<br />
parcela do preço que se <strong>de</strong>stina ao recolhimento<br />
<strong>de</strong> imposto”, diz o comunicado<br />
<strong>de</strong> lançamento da campanha, assinado<br />
pela Abia (Associação Brasileira da Indústria<br />
<strong>de</strong> Alimentos), Abir (Associação<br />
Brasileira das Indústrias <strong>de</strong> Refrigerantes<br />
e Bebidas Não Alcoólicas), Abimapi<br />
(Associação Brasileira das Indústrias <strong>de</strong><br />
Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães &<br />
Bolos Industrializados) e Abicab (Associação<br />
Brasileira da Indústria <strong>de</strong> Chocolates,<br />
Amendoim e Balas).<br />
Fotos: Divulgação<br />
“Carrinho livre” é movimento das entida<strong>de</strong>s da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> alimentos em ação da Zeno<br />
ONG ACT Promoção da Saú<strong>de</strong> lançou “Doce veneno”, campanha criada pela Repense<br />
Cristina Helena Pinto <strong>de</strong> Mello, professora da ESPM: lobby para vantagens tributárias<br />
“Lobbies<br />
<strong>de</strong>sfiguram<br />
proposta que<br />
seria bem-vinda<br />
a toda a nação”<br />
No texto, as entida<strong>de</strong>s frisam a importância<br />
da ca<strong>de</strong>ia produtiva <strong>de</strong> alimentos,<br />
que “processa 58% <strong>de</strong> toda a produção<br />
agropecuária do país e representa o<br />
maior setor da indústria <strong>de</strong> transformação<br />
brasileira. É também o maior gerador<br />
<strong>de</strong> empregos, com 1,9 milhão <strong>de</strong> postos<br />
diretos <strong>de</strong> trabalho, em mais <strong>de</strong> 38 mil<br />
empresas. Se levarmos em conta toda<br />
a ca<strong>de</strong>ia, do campo ao varejo, estamos<br />
falando <strong>de</strong> um setor que movimenta 19,5<br />
milhões <strong>de</strong> empregos no total”.<br />
A nota enfatiza ainda que “é importante<br />
ter em consi<strong>de</strong>ração que o aumento<br />
da tributação para o segmento po<strong>de</strong> não<br />
ser eficaz, po<strong>de</strong>ndo também ter efeitos<br />
adversos na economia e na arrecadação<br />
<strong>de</strong> impostos, como a redução no valor<br />
bruto <strong>de</strong> produção, a diminuição no valor<br />
adicionado à economia (PIB), a redução<br />
<strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalho e massa salarial,<br />
e a diminuição na arrecadação total <strong>de</strong><br />
impostos diretos sobre a produção”.<br />
Para a professora <strong>de</strong> economia da<br />
ESPM Cristina Helena Pinto <strong>de</strong> Mello, esse<br />
trecho do documento supõe um aumento<br />
na tributação <strong>de</strong> alimentos e bebidas,<br />
no que parece uma clara manifestação<br />
<strong>de</strong> lobby do setor em busca <strong>de</strong> vantagens<br />
tributárias. “Ele não visualiza os<br />
impactos na ca<strong>de</strong>ia produtiva. Portanto,<br />
não se po<strong>de</strong> afirmar que a atual proposta<br />
reduz liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha e reduz espaço<br />
na cesta <strong>de</strong> consumo das famílias.<br />
Toda a sequência lógica <strong>de</strong> raciocínio não<br />
está fundamentada e induz o consumidor<br />
a erro. Outra questão relevante é a<br />
utilização dos impostos indiretos como<br />
forma <strong>de</strong> produzir escolhas nutricionais<br />
melhores como redução no consumo <strong>de</strong><br />
açúcar, sal e álcool.”<br />
Esta última questão é tema <strong>de</strong> outra<br />
campanha com teor <strong>de</strong> lobby. Também<br />
lançada há pouco, assinada pela ONG<br />
ACT Promoção da Saú<strong>de</strong> e criada pela<br />
agência Repense, a campanha “Doce<br />
veneno” “convida a população a participar<br />
do <strong>de</strong>bate da reforma tributária e<br />
dizer não à farra dos ultraprocessados”.<br />
Por meio <strong>de</strong> um abaixo assinado, tenta<br />
mobilizar os consumidores para que a<br />
reforma tributária beneficie “apenas os<br />
alimentos saudáveis”.<br />
Um dos maiores tributaristas do Brasil,<br />
o advogado Ives Gandra Martins fala<br />
que a atuação <strong>de</strong> lobbies na reforma,<br />
além <strong>de</strong> <strong>de</strong>sfigurar uma proposta que<br />
seria bem-vinda a toda a nação, mostra<br />
que o tema está longe <strong>de</strong> se esgotar com<br />
a aprovação final da PEC 45, seja da forma<br />
que for. “Creio que contadores e advogados<br />
tributaristas não se queixarão<br />
do trabalho que terão por <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong><br />
anos, pois só a <strong>de</strong>finição pela Suprema<br />
Corte do que seria ‘operação’, ‘circulação’<br />
e ‘mercadoria’ do ICM levou aproximadamente<br />
30 anos.”<br />
jornal propmark - <strong>13</strong> <strong>de</strong> <strong>novembro</strong> <strong>de</strong> <strong>2023</strong> 45