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mercado<br />
Jovens trocam smartphones por<br />
featurephones para proteção<br />
da saú<strong>de</strong> mental e segurança<br />
Privacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dados também está entre<br />
os fatores que explicam movimento,<br />
turbinado ainda pela onda vintage<br />
Em 148 anos <strong>de</strong> evolução, o telefone fascinou a humanida<strong>de</strong>, revolucionando a forma como as pessoas se comunicam, mas hoje a mesma tecnologia sinaliza riscos à saú<strong>de</strong><br />
Janaina Langsdorff<br />
A<br />
primeira transmissão elétrica <strong>de</strong><br />
voz foi realizada pelo cientista<br />
escocês Alexan<strong>de</strong>r Graham Bell<br />
no dia 10 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1876, data eternizada<br />
como o Dia Mundial do Telefone. A<br />
empresa fundada à época, a The Bell Telephone<br />
Company, daria origem à American<br />
Telephone and Telegraph Company<br />
(AT&T), gigante norte-americana das<br />
telecomunicações, com receita <strong>de</strong> US$<br />
32 bilhões no quarto trimestre <strong>de</strong> 2023.<br />
A invenção transformou para sempre a<br />
forma como as pessoas se comunicam,<br />
movimentando inovações que culminariam<br />
no surgimento do celular, em 1973.<br />
Essa foi outra revolução, que chamaria<br />
usuários e o mercado para negócios<br />
e possibilida<strong>de</strong>s nunca imaginadas.<br />
Pagar contas, trabalhar, fazer compras,<br />
pedir comida, mandar mensagens para<br />
amigos, tirar fotos, acessar re<strong>de</strong>s sociais,<br />
aplicativos e chat bots que resolvem<br />
quase todas as questões do dia a<br />
dia estão entre os atrativos dos smartphones,<br />
sem esquecer da sua função<br />
original, as ligações.<br />
Mas hoje, as pessoas começam a reconhecer<br />
os efeitos perniciosos da vida<br />
conectada o tempo todo. A ansieda<strong>de</strong><br />
é um <strong>de</strong>les. Os sinais <strong>de</strong> fadiga digital<br />
apontam para um movimento <strong>de</strong> retomada<br />
dos featurephones, especialmente<br />
entre os jovens. “Parece, sim, estar existindo<br />
uma conscientização crescente sobre<br />
os riscos dos celulares, mais especificamente<br />
das mídias sociais, <strong>de</strong> vício, das<br />
implicações no dia a dia”, confirma André<br />
Miceli, professor <strong>de</strong> MBAs da FGV.<br />
A situação é agravada por <strong>de</strong>ep fakes,<br />
uso <strong>de</strong> inteligência artificial e algoritmos<br />
que, aos poucos, pren<strong>de</strong>m cada vez mais<br />
a atenção das pessoas. “Esse movimento<br />
parece ser uma resposta à ansieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>pressão,<br />
distúrbio do sono e problemas<br />
<strong>de</strong> autoimagem. Há muitas questões que<br />
acabam sendo influenciadas pelos smartphones,<br />
e há uma parcela da população<br />
querendo ficar distante disso”, ratifica o<br />
professor.<br />
Conhecidos como “dumbphones” (celulares<br />
burros, em tradução livre), os featurephones<br />
entregam o básico, a exemplo<br />
do antigo “tijolão”. Com visual retrô,<br />
eles têm teclado numérico, preços mais<br />
acessíveis, duração maior <strong>de</strong> bateria, e<br />
realizam chamadas <strong>de</strong> voz. A tela não é<br />
sensível ao toque e possui pouca resolução.<br />
Esses celulares não comportam<br />
aplicativos. Mas alguns aceitam Whats-<br />
App, Facebook e YouTube, além <strong>de</strong> acesso<br />
a re<strong>de</strong>s móveis e wi-fi. A capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> armazenamento e memória é reduzida<br />
e, para mandar mensagens, só mesmo<br />
por SMS. Muitos têm o <strong>de</strong>sign em flip,<br />
outra característica que <strong>de</strong>sperta a febre<br />
<strong>de</strong> ímpetos nostálgicos.<br />
“O <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sintoxicação digital, re-<br />
“Movimento<br />
parece ser<br />
resposta à<br />
ansieda<strong>de</strong>”<br />
dução <strong>de</strong> exposição às mídias sociais, um<br />
entendimento melhor sobre as implicações<br />
que os smartphones trazem na vida<br />
das pessoas e o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ficar afastado<br />
estão entre os fatores que justificam a<br />
busca por simplicida<strong>de</strong>”, insiste Miceli.<br />
O resgate <strong>de</strong> celulares sem re<strong>de</strong>s<br />
sociais e apps também indica a preocupação<br />
com privacida<strong>de</strong> e segurança. “A<br />
pessoa fica muito mais exposta quando<br />
usa um smartphone”, compara Miceli. O<br />
professor percebe ainda a busca por um<br />
28 4 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> <strong>2024</strong> - jornal propmark