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Políticas de Exclusión en la Educación y el Trabajo_Pablo Gentili

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Capítulo II<br />

Trabalho e precarização numa or<strong>de</strong>m neoliberal<br />

Ricardo Antunes*<br />

* Professor Livre Doc<strong>en</strong>te <strong>de</strong> Sociologia do Trabalho no IFCH-Unicamp e autor, <strong>en</strong>tre outros, dos livros: Os<br />

S<strong>en</strong>tidos do Trabalho (Boitempo, 1999); A<strong>de</strong>us ao Trabalho? (Cortez, 1995). Coor<strong>de</strong>nador da Coleção Mundo<br />

do Trabalho (Ed. Boitempo).<br />

I<br />

Asocieda<strong>de</strong> contemporânea, particu<strong>la</strong>rm<strong>en</strong>te nas últimas duas décadas, pres<strong>en</strong>ciou fortes transformações. O<br />

neoliberalismo e a reestruturação produtiva da era da acumu<strong>la</strong>ção flexív<strong>el</strong>, dotadas <strong>de</strong> forte caráter<br />

<strong>de</strong>strutivo, têm acarretado, <strong>en</strong>tre tantos aspectos nefastos, um monum<strong>en</strong>tal <strong>de</strong>semprego, uma <strong>en</strong>orme<br />

precarização do trabalho e uma <strong>de</strong>gradação cresc<strong>en</strong>te, na re<strong>la</strong>ção metabólica <strong>en</strong>tre homem e natureza,<br />

conduzida pe<strong>la</strong> lógica societal voltada prioritariam<strong>en</strong>te para a produção <strong>de</strong> mercadorias, que <strong>de</strong>strói o meio<br />

ambi<strong>en</strong>te em esca<strong>la</strong> globalizada. Curiosam<strong>en</strong>te, <strong>en</strong>tretanto, tem sido frequ<strong>en</strong>tes as repres<strong>en</strong>tações <strong>de</strong>stas<br />

formas <strong>de</strong> (<strong>de</strong>s)sociabilização, que se expressam como se a humanida<strong>de</strong> tivesse atingido seu ponto alto, o<br />

seu télos. Muitas são as formas <strong>de</strong> fetichização: <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o culto da socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática, que teria<br />

finalm<strong>en</strong>te realizado a utopia do pre<strong>en</strong>chim<strong>en</strong>to, até a cr<strong>en</strong>ça na <strong>de</strong>smercantilização da vita societal, no fim<br />

das i<strong>de</strong>ologias. Ou ainda aqu<strong>el</strong>es que visualizam uma socieda<strong>de</strong> comunicacional, capaz <strong>de</strong> possibilitar uma<br />

interação subjetiva, para não fa<strong>la</strong>r daqu<strong>el</strong>es que visualizam o fim do trabalho como a realização concreta do<br />

reino da liberda<strong>de</strong>, nos marcos da socieda<strong>de</strong> atual, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que um pouco mais regu<strong>la</strong>m<strong>en</strong>tada e regida por<br />

re<strong>la</strong>ções mais contratualistas. Ao contrário <strong>de</strong>stas formu<strong>la</strong>ções, po<strong>de</strong>-se constatar que a socieda<strong>de</strong><br />

contemporânea pres<strong>en</strong>cia um c<strong>en</strong>ário crítico, que atinge também os países capitalistas c<strong>en</strong>trais.<br />

Parale<strong>la</strong>m<strong>en</strong>te à globalização produtiva, a lógica do sistema produtor <strong>de</strong> mercadorias vem convert<strong>en</strong>do a<br />

concorrência e a busca da produtivida<strong>de</strong> num processo <strong>de</strong>strutivo que tem gerado uma im<strong>en</strong>sa socieda<strong>de</strong> dos<br />

excluídos e dos precarizados, que hoje atinge também os países do Norte. Até o Japão e o seu mo<strong>de</strong>lo<br />

toyotista, que introduziu o "emprego vitalício" para cerca <strong>de</strong> 25% <strong>de</strong> sua c<strong>la</strong>sse trabalhadora, hoje já ameaça<br />

extinguí-lo, para a<strong>de</strong>quar-se à competitivida<strong>de</strong> que reemerge do oci<strong>de</strong>nte "toyotizado".<br />

Depois <strong>de</strong> <strong>de</strong>sestruturar o Terceiro Mundo e <strong>el</strong>iminar os países pós-capitalistas do Leste Europeu, a crise<br />

atingiu também o c<strong>en</strong>tro do sistema produtor <strong>de</strong> mercadorias (Kurz, 1992). E quanto mais se avança na<br />

competitivida<strong>de</strong> inter-capitalista, quanto mais se <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volve a tecnologia concorr<strong>en</strong>cial, maior é a<br />

<strong>de</strong>smontagem <strong>de</strong> inúmeros parques industriais que não conseguem acompanhar sua v<strong>el</strong>ocida<strong>de</strong> int<strong>en</strong>sa. Da<br />

Rússia à Arg<strong>en</strong>tina, da Ing<strong>la</strong>terra ao México, da Itália à Portugal, passando p<strong>el</strong>o Brasil, os exemplos são<br />

cresc<strong>en</strong>tes e acarretam repercussões profundas no <strong>en</strong>orme conting<strong>en</strong>te <strong>de</strong> força humana <strong>de</strong> trabalho<br />

pres<strong>en</strong>te nestes países. O que dizer <strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>semprega ou precariza mais <strong>de</strong> 1<br />

bilhão e 200 milhões <strong>de</strong> pessoas, algo em torno <strong>de</strong> um terço da força humana mundial que trabalha,<br />

conforme dados rec<strong>en</strong>tes da OIT? Essa lógica <strong>de</strong>strutiva permitiu que Robert Kurz afirmasse, não sem razão,<br />

que regiões inteiras estão, pouco a pouco, s<strong>en</strong>do <strong>el</strong>iminadas do c<strong>en</strong>ário industrial, <strong>de</strong>rrotadas pe<strong>la</strong> <strong>de</strong>sigual<br />

concorrência mundial. A experiência dos países asiáticos como a Coréia, Hong Kong, Taiwan, Cingapura,<br />

<strong>en</strong>tre outros, inicialm<strong>en</strong>te bem sucedidos na expansão industrial rec<strong>en</strong>te, são, em sua maioria, exemplos <strong>de</strong><br />

países pequ<strong>en</strong>os, car<strong>en</strong>tes <strong>de</strong> mercado interno e totalm<strong>en</strong>te <strong>de</strong>p<strong>en</strong><strong>de</strong>ntes do Oci<strong>de</strong>nte para se<br />

<strong>de</strong>s<strong>en</strong>volverem (Kurz, 1992). Não po<strong>de</strong>m, portanto, se constituír em mo<strong>de</strong>los alternativos a serem seguidos<br />

ou transp<strong>la</strong>ntados para países contin<strong>en</strong>tais, como Índia, Rússia, Brasil, México, <strong>en</strong>tre outros. Suas rec<strong>en</strong>tes<br />

crises financeiras são exemplo da sua fragilida<strong>de</strong> estrutural. E é bom reiterar que estes "novos paraísos" da<br />

industrialização utilizam-se int<strong>en</strong>sam<strong>en</strong>te das formas nefastas <strong>de</strong> precarização da c<strong>la</strong>sse trabalhadora. Só à<br />

título <strong>de</strong> exemplo: na Indonésia, mulheres trabalhadoras da multinacional Nike ganham 38 do<strong>la</strong>res por mês,<br />

por longa jornada <strong>de</strong> trabalho. Em Bang<strong>la</strong><strong>de</strong>sh, as empresas Wal-Mart, K-Mart e Sears utilizam-se do<br />

trabalho feminino, na confecção <strong>de</strong> roupas, com jornadas <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 60 horas por semana com<br />

salários m<strong>en</strong>ores que 30 do<strong>la</strong>res por mês1. Portanto, <strong>en</strong>tre tantas <strong>de</strong>struições <strong>de</strong> forças produtivas, da<br />

natureza e do meio ambi<strong>en</strong>te, há também, em esca<strong>la</strong> mundial, uma ação <strong>de</strong>strutiva contra a força humana<br />

<strong>de</strong> trabalho, que <strong>en</strong>contra-se hoje na condição <strong>de</strong> precarizada ou excluída Em verda<strong>de</strong>, estamos<br />

pres<strong>en</strong>ciando a ac<strong>en</strong>tuação daque<strong>la</strong> t<strong>en</strong>dência que István Mészáros sintetizou corretam<strong>en</strong>te, ao afirmar que o<br />

capital, <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> ori<strong>en</strong>tação humanam<strong>en</strong>te significativa, assume, em seu sistema metabólico <strong>de</strong>

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