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Políticas de Exclusión en la Educación y el Trabajo_Pablo Gentili

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Em contraposição ao fordismo e aos princípios <strong>de</strong> administração ci<strong>en</strong>tífica <strong>de</strong> Taylor, <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volveu-se um<br />

mo<strong>de</strong>lo que Harvey sintetiza como "acumu<strong>la</strong>ção flexív<strong>el</strong>". Este mo<strong>de</strong>lo se apoia "na flexibilida<strong>de</strong> dos<br />

processos <strong>de</strong> trabalho, dos mercados <strong>de</strong> trabalho, dos produtos e padrões <strong>de</strong> consumo" (ibi<strong>de</strong>m: p. 140).<br />

Caracteriza-se p<strong>el</strong>o aparecim<strong>en</strong>to <strong>de</strong> setores produtivos inteiram<strong>en</strong>te novos, pe<strong>la</strong> flexibilização da produção,<br />

por novas maneiras <strong>de</strong> fornecim<strong>en</strong>to <strong>de</strong> serviços financeiros, novos mercados e, especialm<strong>en</strong>te, uma alta<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inovação comercial, ci<strong>en</strong>tífica, tecnológica e organizacional.<br />

A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescim<strong>en</strong>to do capitalismo obscurece as conseqüências sociais, políticas, geopolíticas e<br />

ecológicas. Contudo, toda produção tem seus custos. A produção da mercadoria força <strong>de</strong> trabalho tem um<br />

custo econômico mas também tem um custo social. A valorização do capital se apoia na exploração do<br />

trabalho vivo na produção. O crescim<strong>en</strong>to sempre se baseia na difer<strong>en</strong>ça <strong>en</strong>tre o que o trabalho obtém e<br />

aquilo que cria. Por isso, o controle do trabalho, na produção e no mercado, é vital para a perpetuação do<br />

capitalismo. O capitalismo está fundado, em suma, numa re<strong>la</strong>ção <strong>de</strong> c<strong>la</strong>sse <strong>en</strong>tre capital e trabalho.<br />

O controle do trabalho é fundam<strong>en</strong>tal para o lucro capitalista a tal ponto que a dinâmica da luta <strong>de</strong> c<strong>la</strong>sses<br />

p<strong>el</strong>o controle do trabalho e p<strong>el</strong>o salário torna-se vital para a trajetória <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to do processo <strong>de</strong><br />

produção. Chomsky, por exemplo, ao analisar os investim<strong>en</strong>tos estatais norte-americanos, argum<strong>en</strong>ta que "a<br />

forma específica <strong>de</strong> automação foi escolhida, com freqüência, mais por razões <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r do que <strong>de</strong> lucro ou<br />

eficiência. E<strong>la</strong> foi projetada para profissionalizar os trabalhadores e subordiná-los ao managem<strong>en</strong>t"<br />

(Chomsky, 1999: p. 28). Segundo <strong>el</strong>e, isto acontece não por princípios <strong>de</strong> mercado ou pe<strong>la</strong> natureza da<br />

tecnologia, mas por razões <strong>de</strong> dominação e controle.<br />

A dinâmica do capitalismo incita os capitalistas individuais a inovações em busca do lucro e do controle. Mas<br />

a mudança organizacional e tecnológica também tem pap<strong>el</strong>-chave na modificação da dinâmica da luta <strong>de</strong><br />

c<strong>la</strong>sses, movida por ambos os <strong>la</strong>dos, no domínio dos mercados <strong>de</strong> trabalho e do controle do trabalho. Além<br />

disso, se o controle do trabalho é ess<strong>en</strong>cial para a produção <strong>de</strong> lucros e se torna uma questão mais amp<strong>la</strong> do<br />

ponto <strong>de</strong> vista do modo <strong>de</strong> regu<strong>la</strong>m<strong>en</strong>tação, a inovação organizacional e tecnológica se torna fundam<strong>en</strong>tal<br />

para a produção e a reprodução do capitalismo.<br />

Outra característica fundam<strong>en</strong>tal das novas tecnologias e das novas formas <strong>de</strong> ger<strong>en</strong>ciam<strong>en</strong>to da produção<br />

está em <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volver mecanismos que levam ao aum<strong>en</strong>to da exploração da c<strong>la</strong>sse trabalhadora, incorporando<br />

o trabalhador e a trabalhadora por inteiro/a na produção, através do uso da percepção, dos s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>tos, dos<br />

nervos e do cérebro do/a trabalhador/a no processo <strong>de</strong> trabalho. "A simples exploração dos músculos do/a<br />

trabalhador/a, se muito bem servia ao paradigma fordista/taylorista, é insufici<strong>en</strong>te para as características<br />

t<strong>en</strong><strong>de</strong>nciais do processo <strong>de</strong> trabalho" (D<strong>el</strong> Pino, 1997: p. 183). O que está colocado p<strong>el</strong>o processo <strong>de</strong><br />

reestruturação produtiva não é a superação <strong>de</strong> características que, em essência, são o próprio modo <strong>de</strong><br />

produção capitalista. Estamos, isto sim, diante da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> explorar outros compon<strong>en</strong>tes da força <strong>de</strong><br />

trabalho até agora r<strong>el</strong>egados p<strong>el</strong>os hom<strong>en</strong>s e mulheres <strong>de</strong> negócio.<br />

Todavia, o capitalismo funciona com vocação à crise. Não há como se <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volver sob o capitalismo um<br />

crescim<strong>en</strong>to equilibrado e sem problemas. O aum<strong>en</strong>to <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> não tem levado a uma expansão da<br />

produção que crie também uma expansão do emprego capaz <strong>de</strong> absorver, p<strong>el</strong>o m<strong>en</strong>os, boa parte da mão-<strong>de</strong>obra<br />

expulsa do sistema produtivo. Da mesma forma que há um aum<strong>en</strong>to substancial <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong>, as<br />

transformações tecnológicas e organizacionais ac<strong>el</strong>eram a cresc<strong>en</strong>te disp<strong>en</strong>sa <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra.<br />

Operando <strong>de</strong>ssa maneira, o sistema cria não som<strong>en</strong>te marginalização, mas propriam<strong>en</strong>te exclusão social. É<br />

isto que permite dizer que o <strong>de</strong>semprego é estrutural. Se a produtivida<strong>de</strong> faz reduzir o trabalho necessário,<br />

não há uma correspon<strong>de</strong>nte liberação <strong>de</strong> tempo para a vida. A liberda<strong>de</strong> que existe é para expulsar um<br />

conting<strong>en</strong>te <strong>en</strong>orme e cada vez maior <strong>de</strong> trabalhadores e trabalhadoras, traz<strong>en</strong>do como conseqüência<br />

exclusão e miséria. Sob o domínio do capital, o aum<strong>en</strong>to <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> não tem um caráter social. Ao<br />

contrário, reverte exclusivam<strong>en</strong>te para o capital.<br />

O p<strong>en</strong>sam<strong>en</strong>to neoliberal não é contraditório ao aceitar a miséria quando <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volve suas teses econômicas.<br />

Se propusesse o fim da miséria estaria propondo um sistema econômico que levaria ao fim do proletariado, à<br />

inclusão <strong>de</strong> todos/as à economia. Disto <strong>de</strong>correria o próprio fim da burguesia, pois sem proletariado não há<br />

burguesia; sem antagonismos não há economia <strong>de</strong> mercado. A miséria, no capitalismo, foi explicada por<br />

Marx através, <strong>de</strong>ntre outros fatores, da luta intrínseca da burguesia, c<strong>la</strong>sse específica do modo <strong>de</strong> produção<br />

capitalista. O aum<strong>en</strong>to da indigência, segundo <strong>el</strong>e, <strong>de</strong>corre da luta p<strong>el</strong>o <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to do capitalismo.<br />

Enquanto todos os membros da burguesia mo<strong>de</strong>rna têm os mesmos interesses na medida em que formam<br />

uma c<strong>la</strong>sse perante outra c<strong>la</strong>sse, <strong>el</strong>es <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volvem interesses opostos quando colocados <strong>en</strong>tre si. Os

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