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Políticas de Exclusión en la Educación y el Trabajo_Pablo Gentili

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força <strong>de</strong> trabalho – como ocorreu na Alemanha nos anos 60/70 - eram empregáveis até mesmo indivíduos<br />

com muito baixo nív<strong>el</strong> <strong>de</strong> qualificação vindos <strong>de</strong> países longínquos. A situação não precisava <strong>de</strong> véus: o<br />

mercado <strong>de</strong>terminava a "empregabilida<strong>de</strong>" dos indivíduos que compõem uma socieda<strong>de</strong> e podia mesmo darse<br />

ao luxo <strong>de</strong> importá-los com os mais difer<strong>en</strong>tes níveis <strong>de</strong> qualificação, <strong>de</strong> acordo com ciclos e conjunturas.<br />

O Estado-Providência, na medida em que suas ativida<strong>de</strong>s criam um mercado mais ou m<strong>en</strong>os amplo para<br />

muitas profissões e com <strong>el</strong>evada capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acomodação, se <strong>en</strong>carregava <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar a<br />

"empregabilida<strong>de</strong>" <strong>de</strong> outros segm<strong>en</strong>tos da PEA.<br />

O reverso da medalha, que <strong>en</strong>trou em pauta nesta década, diz respeito à qualificação, às habilida<strong>de</strong>s,<br />

disposição, atitu<strong>de</strong>s do indivíduo fr<strong>en</strong>te a um mercado <strong>de</strong> trabalho que já não mais está em expansão. Se<br />

este se contrai e <strong>de</strong>ixa gran<strong>de</strong> parte dos que procuram trabalho do <strong>la</strong>do <strong>de</strong> fora, começa-se a buscar nas<br />

virtu<strong>de</strong>s individuais e na qualificação as razões pe<strong>la</strong>s quais alguns conseguem e outros não conseguem<br />

empregar-se. Transfere-se do social para o individual a responsabilida<strong>de</strong> pe<strong>la</strong> inserção profissional dos<br />

indivíduos. A "empregabilida<strong>de</strong>" converte-se, neste caso, num corolário dos conhecim<strong>en</strong>tos, habilida<strong>de</strong>s e<br />

esforço individual <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação. Torna-se tarefa das instituições que oferecem educação t<strong>en</strong>tar tornar sua<br />

cli<strong>en</strong>te<strong>la</strong> empregáv<strong>el</strong>, a<strong>de</strong>quando seus cursos à <strong>de</strong>manda e incluindo na formação <strong>el</strong>em<strong>en</strong>tos subjetivos<br />

capazes <strong>de</strong> assegurar maior a<strong>de</strong>são dos quadros às instituições e seus objetivos. Digamos que a contração<br />

do mercado <strong>de</strong> trabalho aprofunda a subsunção do sistema educacional (e especialm<strong>en</strong>te da educação<br />

profissional) aos requisitos do capital. E, se esta idéia foi tida como parte <strong>de</strong> um cardápio <strong>de</strong> críticas do<br />

capitalismo e acusações a formas assumidas por políticas sociais, e<strong>la</strong> hoje converteu-se numa constatação<br />

banal e numa direção vista socialm<strong>en</strong>te como <strong>de</strong>sejáv<strong>el</strong> fr<strong>en</strong>te ao <strong>de</strong>semprego em círculos que a abjuravam.<br />

Se antes, estar incluído podia ser visto como estar subsumido heretônomam<strong>en</strong>te, hoje é estar a salva <strong>de</strong><br />

uma ainda nebulosa exclusão social que funciona como complem<strong>en</strong>to necessário da inclusão.<br />

Não é nova a idéia. Há quase duas décadas, quando o novo mo<strong>de</strong>lo tecnológico e os sintomas <strong>de</strong> crise fiscal<br />

do Estado (e, portanto, do W<strong>el</strong>fare State) começaram a mostrar-se <strong>de</strong> forma mais c<strong>la</strong>ra, não foram poucos<br />

os autores (po<strong>de</strong>mos lembrar Kern & Schumann em 1984 ou Baethgue & Oberbeck em 1986) a reiterar que<br />

a gran<strong>de</strong> divisão do futuro se situaria <strong>en</strong>tre os que lograssem integrar-se ao mercado formal <strong>de</strong> trabalho e os<br />

que <strong>de</strong>le estivessem excluídos. De fato, o problema do <strong>de</strong>semprego e da inclusão/exclusão como termos<br />

complem<strong>en</strong>tares tornaram-se c<strong>en</strong>trais no <strong>de</strong>bate acadêmico e político e na realida<strong>de</strong> quotidiana da popu<strong>la</strong>ção<br />

(Kronauer, 1999). Também a ultrapassagem do industrialismo, o <strong>de</strong>slocam<strong>en</strong>to do emprego para o setor<br />

terciário e, finalm<strong>en</strong>te, o t<strong>en</strong><strong>de</strong>ncial esgotam<strong>en</strong>to <strong>de</strong>ste como fonte <strong>de</strong> postos <strong>de</strong> trabalho formalizado<br />

criaram uma nova situação social e colocaram novos problemas para o sistema <strong>de</strong> educação a todos os<br />

níveis. Vale ressaltar que esta nova configuração ocorre num mom<strong>en</strong>to pós-revolução educacional – o que<br />

significa disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s conting<strong>en</strong>tes educados e abundância <strong>de</strong> diplomas.<br />

Se o mo<strong>de</strong>lo que teve vigência <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o final da gran<strong>de</strong> guerra <strong>de</strong>u ênfase à ampliação das camadas médias<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um marco mais amplo <strong>de</strong> caráter industrial, o novo mom<strong>en</strong>to do capitalismo supõe o esgotam<strong>en</strong>to<br />

<strong>de</strong>ste marco não porque m<strong>en</strong>os produtos industrializados estão à disposição, mas porque sua e<strong>la</strong>boração –<br />

em especial nos tradicionais setores <strong>de</strong> <strong>el</strong>evada acumu<strong>la</strong>ção – <strong>de</strong>p<strong>en</strong><strong>de</strong> capa vez m<strong>en</strong>os do trabalho humano:<br />

é neste s<strong>en</strong>tido que se fa<strong>la</strong> em <strong>de</strong>sindustrialização que, aliada a novas formas <strong>de</strong> administração e <strong>de</strong> escolha<br />

do produto reduz as dim<strong>en</strong>sões (e os custos) das fábricas e o número <strong>de</strong> pessoas empregadas. Em tal<br />

contexto, a "empregabilida<strong>de</strong>" heterônoma da força <strong>de</strong> trabalho é cresc<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te m<strong>en</strong>or.<br />

É aqui que o abandono do conceito <strong>de</strong> qualificação e sua substituição p<strong>el</strong>o <strong>de</strong> competência <strong>en</strong>tra com <strong>en</strong>orme<br />

força. O tradicional conceito <strong>de</strong> qualificação, implicando esco<strong>la</strong>rização formal, supondo anos <strong>de</strong> esco<strong>la</strong>rida<strong>de</strong><br />

previam<strong>en</strong>te <strong>de</strong>terminados em seu conteúdo bem como os correspon<strong>de</strong>ntes diplomas, tem uma re<strong>la</strong>ção<br />

direta com o assa<strong>la</strong>riam<strong>en</strong>to e a socieda<strong>de</strong> industrial. Não poucos esforços foram disp<strong>en</strong>didos, neste<br />

contexto, para mostrar a conexão direta <strong>en</strong>tre esco<strong>la</strong>rida<strong>de</strong>, status e r<strong>en</strong>da., hoje c<strong>la</strong>ram<strong>en</strong>te ultrapassada.<br />

No mom<strong>en</strong>to em que o trabalho assa<strong>la</strong>riado se restringe e o mercado formal <strong>de</strong> emprego se estreita, em que<br />

se coloca em questão a tradicional divisão dos setores econômicos (primário, secundário e terciário), em que<br />

vai se per<strong>de</strong>ndo a hierarquia <strong>de</strong> funções traduzidas em salários cada vez mais <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser negociados<br />

coletivam<strong>en</strong>te e tratam <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r ao quanto cada qual necessita para viver ao invés <strong>de</strong> assegurar<br />

patamares históricam<strong>en</strong>te construídos e negociados, ao mesmo tempo em que se reintegram funções, o<br />

conceito <strong>de</strong> qualificação começa a ser substituído p<strong>el</strong>o <strong>de</strong> competência.<br />

Trata-se, para muitos, <strong>de</strong> uma construção social mais complexa na medida em que se <strong>de</strong>sco<strong>la</strong> das<br />

instituições formais e da experiência adquirida para consi<strong>de</strong>rar aspectos pessoais e disposições subjetivas e<br />

para dar maior peso não ap<strong>en</strong>as a aspectos técnicos, mas à socialização. Não se trata <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar<br />

"competências" como t<strong>en</strong>do um s<strong>en</strong>tido mais restrito que qualificação; mas certam<strong>en</strong>te trata-se <strong>de</strong> um

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