17.04.2013 Views

Políticas de Exclusión en la Educación y el Trabajo_Pablo Gentili

Políticas de Exclusión en la Educación y el Trabajo_Pablo Gentili

Políticas de Exclusión en la Educación y el Trabajo_Pablo Gentili

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

equalificação, re-socialização, comp<strong>en</strong>sação <strong>de</strong> déficits) já não constituem o cerne da questão. Ao mesmo<br />

tempo em que se constata que as instituições educacionais <strong>de</strong> todo tipo vem per<strong>de</strong>ndo suas funções como<br />

instâncias legitimadoras e normativas na regu<strong>la</strong>ção dos transcursos <strong>de</strong> vida, observa-se que uma cresc<strong>en</strong>te<br />

po<strong>la</strong>rização das chances <strong>de</strong> educação e <strong>de</strong> integração no mercado <strong>de</strong> trabalho ocorre ao mesmo tempo em<br />

que a competição educacional por toda a vida transformou-se no cotidiano <strong>de</strong> im<strong>en</strong>sos grupos da popu<strong>la</strong>ção.<br />

Isto significa que, se os processos educacionais ainda <strong>de</strong>semp<strong>en</strong>ham um pap<strong>el</strong> nas mudanças, contribuindo<br />

para passag<strong>en</strong>s m<strong>en</strong>os traumáticas e para a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> novos lugares sociais, conhecim<strong>en</strong>tos<br />

tradicionais não esco<strong>la</strong>res precisam ser acionados para tornar mais suave a <strong>en</strong>trada no mundo do trabalho na<br />

juv<strong>en</strong>tu<strong>de</strong>, a reori<strong>en</strong>tação na meia ida<strong>de</strong> e a geração <strong>de</strong> alternativas na terceira ida<strong>de</strong>.<br />

¿Qualificação formal e assa<strong>la</strong>riam<strong>en</strong>to X novas re<strong>la</strong>ções <strong>de</strong> trabalho e mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> competência? A nova onda<br />

<strong>de</strong> racionalização e a crise do assa<strong>la</strong>riam<strong>en</strong>to que a acompanha não apres<strong>en</strong>ta qualquer homog<strong>en</strong>eida<strong>de</strong> inter<br />

ou intra países ou regiões, mas os f<strong>en</strong>ôm<strong>en</strong>os que se iniciam na "ponta" t<strong>en</strong><strong>de</strong>m a espalhar-se p<strong>el</strong>o conjunto<br />

e chegam até nós hoje <strong>de</strong> maneira rápida e com marcada sem<strong>el</strong>hança com os países c<strong>en</strong>trais. Tal crise levou<br />

igualm<strong>en</strong>te à contestação do conceito <strong>de</strong> qualificação, na medida em que este esteve co<strong>la</strong>do à esco<strong>la</strong>rização<br />

e sua correspondência no trabalho assa<strong>la</strong>riado, no qual o status social e profissional estava inscrito nos<br />

salários e no respeito simbólico atribuído pe<strong>la</strong> socieda<strong>de</strong> a carreiras <strong>de</strong> longa duração. Tanguy (1994) e<br />

Zarifian (1998), por exemplo, insistem em que a noção <strong>de</strong> qualificação t<strong>en</strong><strong>de</strong> a ser substituída pe<strong>la</strong> <strong>de</strong><br />

competência.<br />

São, no <strong>en</strong>tanto, muitos os que consi<strong>de</strong>ram o conceito <strong>de</strong> competência como mais a<strong>de</strong>quado ao novo ângulo<br />

a partir do qual é <strong>en</strong>t<strong>en</strong>dida a "empregabilida<strong>de</strong>". Tratar-se –ia <strong>de</strong> uma construção social mais complexa, na<br />

medida em que se <strong>de</strong>sco<strong>la</strong> das instituições formais e da experiência adquirida para consi<strong>de</strong>rar aspectos<br />

pessoais e disposições subjetivas e para dar maior peso não ap<strong>en</strong>as a aspectos técnicos, mas à socialização.<br />

As "competências" não teriam um s<strong>en</strong>tido mais restrito que qualificação; mas certam<strong>en</strong>te supõem um<br />

at<strong>en</strong>dim<strong>en</strong>to mais estrito das necessida<strong>de</strong>s do capital, por um <strong>la</strong>do, e a um preparo a<strong>de</strong>quado aos novos<br />

tempos em que é preciso <strong>en</strong>contrar alternativas ao <strong>de</strong>semprego, por outro. Virtu<strong>de</strong>s pessoais são acionadas<br />

como parte das competências em esca<strong>la</strong> incom<strong>en</strong>surav<strong>el</strong>m<strong>en</strong>te maior que quando se tratava <strong>de</strong> qualificação,<br />

m<strong>en</strong>suráv<strong>el</strong> por mecanismos mais objetivos num mom<strong>en</strong>to em que os empregos ou a inclusão <strong>de</strong>p<strong>en</strong>diam<br />

m<strong>en</strong>os do capital cultural e social dos indivíduos.<br />

A ênfase sobre as competências tem como pano <strong>de</strong> fundo também as dificulda<strong>de</strong>s e a l<strong>en</strong>tidão da mudança<br />

no sistema educacional. A v<strong>el</strong>ocida<strong>de</strong> da nova era disp<strong>en</strong>sa longos cursos, mas <strong>de</strong>manda exatidão, rapi<strong>de</strong>z<br />

<strong>de</strong> resposta, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lidar com novas linguag<strong>en</strong>s. Frequ<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te exige a substituição <strong>de</strong> gerações,<br />

porque a experiência das mais v<strong>el</strong>has não serve aos seus propósitos e po<strong>de</strong> mesmo constituir um estorvo<br />

que impe<strong>de</strong> a mudança. A noção <strong>de</strong> competência parece trazer consigo uma outra m<strong>en</strong>talida<strong>de</strong> em re<strong>la</strong>ção<br />

ao trabalho e um outro conjunto <strong>de</strong> skills que começa com uma "alfabetização tecnológica" e termina na<br />

naturalização da fragm<strong>en</strong>tação, precarização e int<strong>en</strong>sificação do trabalho. Trata-se <strong>de</strong> abdicar –<br />

consci<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te ou não – das conquistas feitas ao longo <strong>de</strong> um século e meio <strong>de</strong> industrialismo e aceitar o<br />

risco e a incerteza como <strong>el</strong>em<strong>en</strong>tos constituintes explícitos do mundo do trabalho e – portanto – da<br />

organização da vida. Significa buscar – <strong>de</strong> maneira jovem (ou jovial) e competitiva – algum nicho <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong> remunerada, novas re<strong>la</strong>ções <strong>de</strong> emprego ou novas formas <strong>de</strong> inserção no mundo do trabalho.<br />

Trata-se, sem duvida <strong>de</strong> um conceito construído para uma socieda<strong>de</strong> m<strong>en</strong>os <strong>de</strong>mocrática que aque<strong>la</strong> que<br />

estamos <strong>de</strong>ixando para trás e, como tal, concerta-se à nova feição do conceito <strong>de</strong> empregabilida<strong>de</strong> –<br />

resultante o nív<strong>el</strong> <strong>de</strong>sta das competências mo<strong>de</strong>rnas disponíveis do ponto <strong>de</strong> vista técnico e psicológico. Não<br />

<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser interessante ver um sociólogo como Ulrich Beck perdido em meio aos riscos da socieda<strong>de</strong> atual<br />

concluir que as re<strong>la</strong>ções <strong>de</strong> trabalho no Brasil talvez sejam <strong>de</strong>sejáveis para países europeus. Isto equivale a<br />

dizer que informalida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>sproteção, trabalho temporário, trabalho antes <strong>de</strong>nominado "negro" po<strong>de</strong>riam ser<br />

tolerados em qualquer parte do mundo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que acompanhados da ginga do samba.<br />

Muito embora seja um conceito antigo, a "empregabilida<strong>de</strong>" <strong>en</strong>trou na ag<strong>en</strong>da acadêmica e política <strong>de</strong> forma<br />

significativa na última década. Não era necessário ape<strong>la</strong>r para <strong>el</strong>e no período <strong>de</strong> pl<strong>en</strong>o emprego t<strong>en</strong><strong>de</strong>ncial,<br />

com fortes serviços do Estado voltados para a at<strong>en</strong>ção social, gran<strong>de</strong>s burocracias e dominância da produção<br />

industrial. Bastava constatar, através <strong>de</strong> diplomas e outras formas <strong>de</strong> atestado qualificatório que alguém era<br />

"empregáv<strong>el</strong>" nos postos disponíveis, aos quais correspondia a formação socialm<strong>en</strong>te oferecida p<strong>el</strong>o sistema<br />

educacional e que po<strong>de</strong>riam, ev<strong>en</strong>tualm<strong>en</strong>te, <strong>de</strong>mandar treinam<strong>en</strong>tos curtos "on the job". A<br />

"empregabilida<strong>de</strong>" dos anos 90 tem outro caráter. E<strong>la</strong> era antes <strong>de</strong>finida por um mercado <strong>de</strong> trabalho amplo<br />

que "sorteava" <strong>en</strong>tre a força <strong>de</strong> trabalho aqu<strong>el</strong>es que dipunham da qualificação <strong>de</strong>sejada e virtu<strong>de</strong>s<br />

correspon<strong>de</strong>ntes, com <strong>el</strong>evados níveis <strong>de</strong> acomodação. Em situações <strong>de</strong> pl<strong>en</strong>o emprego ou <strong>de</strong> carência <strong>de</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!