Políticas de Exclusión en la Educación y el Trabajo_Pablo Gentili
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equalificação, re-socialização, comp<strong>en</strong>sação <strong>de</strong> déficits) já não constituem o cerne da questão. Ao mesmo<br />
tempo em que se constata que as instituições educacionais <strong>de</strong> todo tipo vem per<strong>de</strong>ndo suas funções como<br />
instâncias legitimadoras e normativas na regu<strong>la</strong>ção dos transcursos <strong>de</strong> vida, observa-se que uma cresc<strong>en</strong>te<br />
po<strong>la</strong>rização das chances <strong>de</strong> educação e <strong>de</strong> integração no mercado <strong>de</strong> trabalho ocorre ao mesmo tempo em<br />
que a competição educacional por toda a vida transformou-se no cotidiano <strong>de</strong> im<strong>en</strong>sos grupos da popu<strong>la</strong>ção.<br />
Isto significa que, se os processos educacionais ainda <strong>de</strong>semp<strong>en</strong>ham um pap<strong>el</strong> nas mudanças, contribuindo<br />
para passag<strong>en</strong>s m<strong>en</strong>os traumáticas e para a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> novos lugares sociais, conhecim<strong>en</strong>tos<br />
tradicionais não esco<strong>la</strong>res precisam ser acionados para tornar mais suave a <strong>en</strong>trada no mundo do trabalho na<br />
juv<strong>en</strong>tu<strong>de</strong>, a reori<strong>en</strong>tação na meia ida<strong>de</strong> e a geração <strong>de</strong> alternativas na terceira ida<strong>de</strong>.<br />
¿Qualificação formal e assa<strong>la</strong>riam<strong>en</strong>to X novas re<strong>la</strong>ções <strong>de</strong> trabalho e mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> competência? A nova onda<br />
<strong>de</strong> racionalização e a crise do assa<strong>la</strong>riam<strong>en</strong>to que a acompanha não apres<strong>en</strong>ta qualquer homog<strong>en</strong>eida<strong>de</strong> inter<br />
ou intra países ou regiões, mas os f<strong>en</strong>ôm<strong>en</strong>os que se iniciam na "ponta" t<strong>en</strong><strong>de</strong>m a espalhar-se p<strong>el</strong>o conjunto<br />
e chegam até nós hoje <strong>de</strong> maneira rápida e com marcada sem<strong>el</strong>hança com os países c<strong>en</strong>trais. Tal crise levou<br />
igualm<strong>en</strong>te à contestação do conceito <strong>de</strong> qualificação, na medida em que este esteve co<strong>la</strong>do à esco<strong>la</strong>rização<br />
e sua correspondência no trabalho assa<strong>la</strong>riado, no qual o status social e profissional estava inscrito nos<br />
salários e no respeito simbólico atribuído pe<strong>la</strong> socieda<strong>de</strong> a carreiras <strong>de</strong> longa duração. Tanguy (1994) e<br />
Zarifian (1998), por exemplo, insistem em que a noção <strong>de</strong> qualificação t<strong>en</strong><strong>de</strong> a ser substituída pe<strong>la</strong> <strong>de</strong><br />
competência.<br />
São, no <strong>en</strong>tanto, muitos os que consi<strong>de</strong>ram o conceito <strong>de</strong> competência como mais a<strong>de</strong>quado ao novo ângulo<br />
a partir do qual é <strong>en</strong>t<strong>en</strong>dida a "empregabilida<strong>de</strong>". Tratar-se –ia <strong>de</strong> uma construção social mais complexa, na<br />
medida em que se <strong>de</strong>sco<strong>la</strong> das instituições formais e da experiência adquirida para consi<strong>de</strong>rar aspectos<br />
pessoais e disposições subjetivas e para dar maior peso não ap<strong>en</strong>as a aspectos técnicos, mas à socialização.<br />
As "competências" não teriam um s<strong>en</strong>tido mais restrito que qualificação; mas certam<strong>en</strong>te supõem um<br />
at<strong>en</strong>dim<strong>en</strong>to mais estrito das necessida<strong>de</strong>s do capital, por um <strong>la</strong>do, e a um preparo a<strong>de</strong>quado aos novos<br />
tempos em que é preciso <strong>en</strong>contrar alternativas ao <strong>de</strong>semprego, por outro. Virtu<strong>de</strong>s pessoais são acionadas<br />
como parte das competências em esca<strong>la</strong> incom<strong>en</strong>surav<strong>el</strong>m<strong>en</strong>te maior que quando se tratava <strong>de</strong> qualificação,<br />
m<strong>en</strong>suráv<strong>el</strong> por mecanismos mais objetivos num mom<strong>en</strong>to em que os empregos ou a inclusão <strong>de</strong>p<strong>en</strong>diam<br />
m<strong>en</strong>os do capital cultural e social dos indivíduos.<br />
A ênfase sobre as competências tem como pano <strong>de</strong> fundo também as dificulda<strong>de</strong>s e a l<strong>en</strong>tidão da mudança<br />
no sistema educacional. A v<strong>el</strong>ocida<strong>de</strong> da nova era disp<strong>en</strong>sa longos cursos, mas <strong>de</strong>manda exatidão, rapi<strong>de</strong>z<br />
<strong>de</strong> resposta, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lidar com novas linguag<strong>en</strong>s. Frequ<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te exige a substituição <strong>de</strong> gerações,<br />
porque a experiência das mais v<strong>el</strong>has não serve aos seus propósitos e po<strong>de</strong> mesmo constituir um estorvo<br />
que impe<strong>de</strong> a mudança. A noção <strong>de</strong> competência parece trazer consigo uma outra m<strong>en</strong>talida<strong>de</strong> em re<strong>la</strong>ção<br />
ao trabalho e um outro conjunto <strong>de</strong> skills que começa com uma "alfabetização tecnológica" e termina na<br />
naturalização da fragm<strong>en</strong>tação, precarização e int<strong>en</strong>sificação do trabalho. Trata-se <strong>de</strong> abdicar –<br />
consci<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te ou não – das conquistas feitas ao longo <strong>de</strong> um século e meio <strong>de</strong> industrialismo e aceitar o<br />
risco e a incerteza como <strong>el</strong>em<strong>en</strong>tos constituintes explícitos do mundo do trabalho e – portanto – da<br />
organização da vida. Significa buscar – <strong>de</strong> maneira jovem (ou jovial) e competitiva – algum nicho <strong>de</strong><br />
ativida<strong>de</strong> remunerada, novas re<strong>la</strong>ções <strong>de</strong> emprego ou novas formas <strong>de</strong> inserção no mundo do trabalho.<br />
Trata-se, sem duvida <strong>de</strong> um conceito construído para uma socieda<strong>de</strong> m<strong>en</strong>os <strong>de</strong>mocrática que aque<strong>la</strong> que<br />
estamos <strong>de</strong>ixando para trás e, como tal, concerta-se à nova feição do conceito <strong>de</strong> empregabilida<strong>de</strong> –<br />
resultante o nív<strong>el</strong> <strong>de</strong>sta das competências mo<strong>de</strong>rnas disponíveis do ponto <strong>de</strong> vista técnico e psicológico. Não<br />
<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser interessante ver um sociólogo como Ulrich Beck perdido em meio aos riscos da socieda<strong>de</strong> atual<br />
concluir que as re<strong>la</strong>ções <strong>de</strong> trabalho no Brasil talvez sejam <strong>de</strong>sejáveis para países europeus. Isto equivale a<br />
dizer que informalida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>sproteção, trabalho temporário, trabalho antes <strong>de</strong>nominado "negro" po<strong>de</strong>riam ser<br />
tolerados em qualquer parte do mundo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que acompanhados da ginga do samba.<br />
Muito embora seja um conceito antigo, a "empregabilida<strong>de</strong>" <strong>en</strong>trou na ag<strong>en</strong>da acadêmica e política <strong>de</strong> forma<br />
significativa na última década. Não era necessário ape<strong>la</strong>r para <strong>el</strong>e no período <strong>de</strong> pl<strong>en</strong>o emprego t<strong>en</strong><strong>de</strong>ncial,<br />
com fortes serviços do Estado voltados para a at<strong>en</strong>ção social, gran<strong>de</strong>s burocracias e dominância da produção<br />
industrial. Bastava constatar, através <strong>de</strong> diplomas e outras formas <strong>de</strong> atestado qualificatório que alguém era<br />
"empregáv<strong>el</strong>" nos postos disponíveis, aos quais correspondia a formação socialm<strong>en</strong>te oferecida p<strong>el</strong>o sistema<br />
educacional e que po<strong>de</strong>riam, ev<strong>en</strong>tualm<strong>en</strong>te, <strong>de</strong>mandar treinam<strong>en</strong>tos curtos "on the job". A<br />
"empregabilida<strong>de</strong>" dos anos 90 tem outro caráter. E<strong>la</strong> era antes <strong>de</strong>finida por um mercado <strong>de</strong> trabalho amplo<br />
que "sorteava" <strong>en</strong>tre a força <strong>de</strong> trabalho aqu<strong>el</strong>es que dipunham da qualificação <strong>de</strong>sejada e virtu<strong>de</strong>s<br />
correspon<strong>de</strong>ntes, com <strong>el</strong>evados níveis <strong>de</strong> acomodação. Em situações <strong>de</strong> pl<strong>en</strong>o emprego ou <strong>de</strong> carência <strong>de</strong>