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Políticas de Exclusión en la Educación y el Trabajo_Pablo Gentili

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transferidos à força <strong>de</strong> trabalho que, trabalhando em forma precária, conta sempre com m<strong>en</strong>or proteção<br />

social seja como conseqüência da legis<strong>la</strong>ção (modificada ou não), seja pe<strong>la</strong> redução dos serviços sociais do<br />

Estado, seja pe<strong>la</strong> t<strong>en</strong>dência a uma rigorosa separação <strong>en</strong>tre contribuintes / "<strong>el</strong>egíveis" para tais serviços e<br />

não contribuintes / "não <strong>el</strong>egíveis". A era <strong>de</strong>mocrática <strong>de</strong> serviços não contributórios como direito humano<br />

ficou para trás.<br />

Em tal contexto fa<strong>la</strong>r em retorno ao pl<strong>en</strong>o emprego via retomada do crescim<strong>en</strong>to é uma ilusão incapaz <strong>de</strong><br />

resistir a um número cada vez mais curto <strong>de</strong> anos, ressalvando-se naturalm<strong>en</strong>te as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s inter e<br />

intra-países e regiões. Por outro <strong>la</strong>do, o "pl<strong>en</strong>o emprego liberal" é uma terminologia imprópria, usada talvez<br />

para significar a g<strong>en</strong>eralização do trabalho precário. A <strong>el</strong>evação da produtivida<strong>de</strong> implica para cada vez na<br />

pe<strong>la</strong> transferência às máquinas <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s físicas e m<strong>en</strong>tais dos hom<strong>en</strong>s – o que reduz o emprego e<br />

retira o trabalho do lugar c<strong>en</strong>tral que <strong>el</strong>e ocupou na era do industrialismo. Numa socieda<strong>de</strong> em que a maioria<br />

da PEA está vincu<strong>la</strong>da aos serviços e em que um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong>semboca em categorias para além do<br />

terciário o pap<strong>el</strong> do trabalho se modifica. Um novo pacto social passa a ser condição para a paz e a<br />

segurança em socieda<strong>de</strong>s nas quais a c<strong>la</strong>sse média vê-se profundam<strong>en</strong>te atingida em sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

"mercantilizar" suas habilida<strong>de</strong>s e competências, ao mesmo tempo em que assiste a "remercantilização" do<br />

conjunto dos serviços <strong>de</strong> proteção social.<br />

Em 1982, C<strong>la</strong>us Offe <strong>la</strong>nçou a idéia <strong>de</strong> que o trabalho já não <strong>de</strong>semp<strong>en</strong>hava um pap<strong>el</strong> c<strong>en</strong>tral na vida dos<br />

hom<strong>en</strong>s. Quase 20 anos <strong>de</strong>pois ainda estamos discutindo esta tese ante todas as evidências <strong>de</strong> que as<br />

transformações a que estamos assistindo e que se ac<strong>el</strong>eram a olhos vistos já não permitem, como no<br />

passado, a produção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s fundam<strong>en</strong>talm<strong>en</strong>te a partir da esfera do trabalho. Isto não significa que<br />

o trabalho per<strong>de</strong>u a sua importância para os indivíduos, mas implica em que a estruturação da produção e<br />

das re<strong>la</strong>ções econômicas age <strong>de</strong> outra forma sobre os indivíduos, modificando o peso do trabalho na<br />

produção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s e tornando possív<strong>el</strong> (e necessário) a impressão <strong>de</strong> novos conteúdos, nova forma e<br />

nova cultura do trabalho.<br />

Na medida em que o trabalho assa<strong>la</strong>riado <strong>en</strong>tra em crise também <strong>en</strong>tra em crise toda estabilida<strong>de</strong> e<br />

linearida<strong>de</strong> que lhe está associada. Na medida em que o trabalho se <strong>de</strong>sloca <strong>de</strong> locais que antes o<br />

c<strong>en</strong>tralizavam e ao <strong>de</strong>sc<strong>en</strong>tralizar-se inva<strong>de</strong> os <strong>la</strong>res <strong>el</strong>e interfere na dinâmica <strong>de</strong>stes e na estruturação das<br />

re<strong>la</strong>ções familiares, <strong>en</strong>tre gêneros, <strong>en</strong>tre gerações. Se a padronização <strong>de</strong> salários e carreiras se esvai, se as<br />

trajetórias asc<strong>en</strong><strong>de</strong>ntes são substituídas por gangorras profissionais e sociais, modifica-se o s<strong>en</strong>tido dos<br />

trajetos qualificatórios bem como a forma <strong>de</strong> viver o quotidiano e as projeções que po<strong>de</strong>m ser feitas em<br />

re<strong>la</strong>ção ao futuro. Com isso nem negamos que vivemos uma transição em que o trabalho assa<strong>la</strong>riado e<br />

b<strong>en</strong>efícios conexos ainda é buscado por todas as gerações nem que uma parce<strong>la</strong> importante da popu<strong>la</strong>ção se<br />

confronta objetivam<strong>en</strong>te – mas, ainda nebulosam<strong>en</strong>te no que concerne às perspectivas <strong>de</strong> futuro – com a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>en</strong>contrar alternativas ao assa<strong>la</strong>riam<strong>en</strong>to e <strong>de</strong> <strong>en</strong>contrar satisfação em ativida<strong>de</strong>s que não<br />

são necessariam<strong>en</strong>te remuneradas. Mais que isso: se o trabalho - à exceção dos quadros ultra-especializados<br />

e inseridos cabalm<strong>en</strong>te no mercado formal, on<strong>de</strong> as tarefas t<strong>en</strong><strong>de</strong>m a se aglutinar e o trabalho a se<br />

int<strong>en</strong>sificar - po<strong>de</strong> objetivam<strong>en</strong>te ocupar m<strong>en</strong>os tempo, subjetivam<strong>en</strong>te a insegurança na obt<strong>en</strong>ção <strong>de</strong> meios<br />

<strong>de</strong> vida faz com que os indivíduos estejam todo o tempo disponíveis para o trabalho que apareça e se<br />

ocupem com a mera manut<strong>en</strong>ção <strong>de</strong>sta disponibilida<strong>de</strong>. Fr<strong>en</strong>te a este quadro é natural que os governos e as<br />

c<strong>la</strong>sses dominantes se <strong>de</strong>frontem com o dilema da gestão dos não empregáveis. Estão em discussão<br />

difer<strong>en</strong>tes fórmu<strong>la</strong>s seja <strong>de</strong> apos<strong>en</strong>tadoria precoce (via combinação <strong>de</strong> seguro <strong>de</strong>semprego, auxílio do<strong>en</strong>ça e<br />

outras formas <strong>de</strong> proteção com complem<strong>en</strong>tação privada para as gerações mais v<strong>el</strong>has) seja <strong>de</strong> r<strong>en</strong>da<br />

mínima para integrantes da PEA ou <strong>de</strong> subsídios e garantias ao trabalhador precarizado. O argum<strong>en</strong>to <strong>de</strong><br />

Coutrot <strong>de</strong> que a missão redistributivista do Estado nada mais seria do que uma utopia socialm<strong>en</strong>te não<br />

gestionáv<strong>el</strong> porque a proteção sempre foi maior on<strong>de</strong> os trabalhadores estavam m<strong>el</strong>hor organizados e<br />

também porque as re<strong>la</strong>ções <strong>de</strong> forças sociais se constóem na esfera produtiva e os tecnocratas não vêem a<br />

dinâmica social e política que alim<strong>en</strong>tam, é certam<strong>en</strong>te respeitáv<strong>el</strong>. O século XXI se <strong>en</strong>contra exatam<strong>en</strong>te<br />

diante do <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> construir novas e contemporâneas instituições, regras e cons<strong>en</strong>so em torno <strong>de</strong> questões<br />

sociais e políticas que não po<strong>de</strong>rão <strong>en</strong>contrar resposta capazes <strong>de</strong> serem lidas pe<strong>la</strong> "chave" das re<strong>la</strong>ções <strong>de</strong><br />

forças sociais <strong>de</strong>rivadas diretam<strong>en</strong>te da esfera produtiva. O gran<strong>de</strong> paradoxo da hegemonia neo-liberal pósindustrialista<br />

dominada p<strong>el</strong>o capital financeiro é que não há solução para os riscos financeiros e para muitos<br />

outros, fora da regu<strong>la</strong>ção global <strong>de</strong> seus fluxos, do mesmo modo que não será possív<strong>el</strong> assegurar a<br />

segurança pública e a paz social sem formas novas <strong>de</strong> regu<strong>la</strong>ção da equação inclusão/exclusão. O paradoxo,<br />

lembrado por Guilhon Albuquerque (1999), <strong>de</strong> que o monopólio do trabalho p<strong>el</strong>o capitalismo como sua vitória<br />

final ter se convertido em geração <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego e exclusão estrutural constitui um <strong>el</strong>em<strong>en</strong>to c<strong>en</strong>tral do<br />

conjunto <strong>de</strong> contradições iner<strong>en</strong>tes a este processo. Assim, se por um <strong>la</strong>do combate-se o estatismo e<br />

<strong>de</strong>smontam-se os mecanismos <strong>de</strong> proteção social, por outro faz-se necessário remontar regu<strong>la</strong>g<strong>en</strong>s<br />

econômicas e sociais que assegurem as condições básicas da reprodução capitalista. Do mesmo modo, se <strong>de</strong>

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