17.04.2013 Views

Políticas de Exclusión en la Educación y el Trabajo_Pablo Gentili

Políticas de Exclusión en la Educación y el Trabajo_Pablo Gentili

Políticas de Exclusión en la Educación y el Trabajo_Pablo Gentili

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Capítulo III<br />

Qualificação, crise do trabalho assa<strong>la</strong>riado e exclusão social<br />

Vanilda Paiva*<br />

* Professora da UFRJ. Presi<strong>de</strong>nte do Cons<strong>el</strong>ho Diretor do Instituto <strong>de</strong> Estudos da Cultura e Educação<br />

Continuada (IEC), Rio <strong>de</strong> Janeiro. Estudou Educação, Sociologia e Romanística na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Frankfurt/M, doutorando-se em 1978. Pesquisadora do CNPq.<br />

Transformação produtiva, crise do assa<strong>la</strong>riam<strong>en</strong>to e exclusão social<br />

Acrise do assa<strong>la</strong>riam<strong>en</strong>to aberta pe<strong>la</strong> última onda <strong>de</strong> transformação da produção, ligada à t<strong>en</strong><strong>de</strong>ncial<br />

g<strong>en</strong>eralização do uso da micro-informática e <strong>de</strong> novas formas <strong>de</strong> comunicação e a conexas mudanças<br />

organizacionais e ger<strong>en</strong>ciais, constituiu um dos <strong>el</strong>em<strong>en</strong>tos mais importantes do quadro econômico-social<br />

<strong>de</strong>ste final <strong>de</strong> século. O panorama – e as questões por <strong>el</strong>e levantado – já estava c<strong>la</strong>ro nos países c<strong>en</strong>trais,<br />

especialm<strong>en</strong>te <strong>en</strong>tre europeus, quando da queda do muro <strong>de</strong> Berlin em 1989, e<strong>la</strong> mesma o marco político<br />

dos rebatim<strong>en</strong>tos da crise do mo<strong>de</strong>lo que tinha no trabalho assa<strong>la</strong>riado a sua pedra <strong>de</strong> toque. O fim do<br />

socialismo real na Europa significou, na prática, uma vitória política e i<strong>de</strong>ológica dos princípios do capitalismo<br />

liberal como única forma legítima <strong>de</strong> p<strong>en</strong>sar a realida<strong>de</strong> econômico-social, provocando perplexida<strong>de</strong> e<br />

dificulda<strong>de</strong>s teóricas e nas práticas e propostas políticas dos trabalhadores.<br />

Na Europa C<strong>en</strong>tral já <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a segunda meta<strong>de</strong> dos anos 70 int<strong>el</strong>ectuais e sindicalistas começaram a colocar<br />

questões imp<strong>en</strong>sáveis ao longo dos "25 anos gloriosos" que suce<strong>de</strong>ram a II. Gran<strong>de</strong> Guerra e nos quais se<br />

combinaram não só a compatibilida<strong>de</strong> continuada <strong>en</strong>tre crescim<strong>en</strong>to econômico e <strong>de</strong>mocracia repres<strong>en</strong>tativa<br />

(Offe, 1984) mas produção <strong>de</strong> massa apoiada na <strong>de</strong>manda e pl<strong>en</strong>o emprego. A crise do emprego, a<br />

<strong>de</strong>sregu<strong>la</strong>ção do mercado <strong>de</strong> trabalho a que estamos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>en</strong>tão assistindo trouxeram à bai<strong>la</strong> não ap<strong>en</strong>as a<br />

reiteração do "direito ao trabalho", mas também a idéia <strong>de</strong> que a luta p<strong>el</strong>o pl<strong>en</strong>o emprego po<strong>de</strong>ria significar o<br />

<strong>de</strong>sejo ou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> "todo proletário fazer-se explorar". Do mesmo modo, no p<strong>la</strong>no educacional a luta<br />

por uma esco<strong>la</strong> unitária <strong>de</strong>u lugar à pergunta se não seria m<strong>el</strong>hor um sistema dual em que o <strong>en</strong>sino<br />

profissional estivesse vincu<strong>la</strong>do à certeza do emprego correspon<strong>de</strong>nte. Evi<strong>de</strong>ntem<strong>en</strong>te, estas são questões<br />

abstratas porque o sistema <strong>de</strong> educação era dual exatam<strong>en</strong>te porque a economia necessitava <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminadas qualificações e a certeza do emprego <strong>de</strong>corria da combinação <strong>en</strong>tre pl<strong>en</strong>o emprego e produção<br />

<strong>de</strong> massa, día<strong>de</strong> que também dava concretu<strong>de</strong> do direito ao trabalho. Uma vez modificadas as condições<br />

materiais objetivas, mudam também o significado e possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> realização do i<strong>de</strong>ário vincu<strong>la</strong>do ao<br />

período anterior.<br />

Nos últimos anos muito se tem escrito sobre o "fim do emprego" (Aranowitz & Difazio, 1994) e sobre a<br />

impossibilida<strong>de</strong> do capitalismo <strong>de</strong> multiplicar os postos <strong>de</strong> trabalho ao mesmo tempo em que faz crescer a<br />

produtivida<strong>de</strong>, transferindo ac<strong>el</strong>eradam<strong>en</strong>te às máquinas capacida<strong>de</strong>s físicas e m<strong>en</strong>tais necessárias à<br />

realização <strong>de</strong> tarefas industriais e administrativas. Dicotomias sem pé na realida<strong>de</strong> como a "abolição do<br />

trabalho assa<strong>la</strong>riado versus retorno rápido ao pl<strong>en</strong>o emprego" emergiram nos anos 90, ao mesmo tempo em<br />

que foram se tornando re<strong>la</strong>tivam<strong>en</strong>te cons<strong>en</strong>suais algumas das polêmicas teses formu<strong>la</strong>das na primeira<br />

meta<strong>de</strong> dos anos 80 como a da "perda da c<strong>en</strong>tralida<strong>de</strong> do trabalho" (Offe, 1982), a do "fim t<strong>en</strong><strong>de</strong>ncial da<br />

divisão do trabalho" (Kern & Schumann, 1984) e a da retração t<strong>en</strong><strong>de</strong>ncial das camadas médias ( Luttwag,<br />

1996). O conceito <strong>de</strong> "novos pobres", ligado à esta última t<strong>en</strong>dência, surge ainda na primeira meta<strong>de</strong> dos<br />

anos 80 e se complem<strong>en</strong>ta na década seguinte com a idéia <strong>de</strong> "fazer carreira na pobreza" (Siegfried &<br />

Leisering, 1995 ), corolário da convicção que se arraiga <strong>de</strong> que, no futuro, quase todo trabalho será precário.<br />

Isto não significa que tais teses se <strong>de</strong>ixem ver pl<strong>en</strong>am<strong>en</strong>te em toda e qualquer realida<strong>de</strong> nem que não<br />

mereçam nuances e <strong>de</strong>sdobram<strong>en</strong>tos importantes, mas sua <strong>de</strong>sigual aparição vem servindo como ori<strong>en</strong>tação<br />

do <strong>de</strong>bate contemporâneo. Isto tem ocorrido em especial ao longo dos anos 90 sob o impacto simultâneo da<br />

ac<strong>el</strong>eração das mudanças, do aprofundam<strong>en</strong>to da crise fiscal dos Estados e da difusão das idéias <strong>de</strong>f<strong>en</strong>didas<br />

no livro <strong>de</strong> Woomak, Jones & Ross (1990), que justificaram maiores esforços <strong>de</strong> <strong>en</strong>xugam<strong>en</strong>to a todos os<br />

níveis.<br />

Seja porque a lógica do p<strong>en</strong>sam<strong>en</strong>o anterior assim os conduziu, seja p<strong>el</strong>o temor <strong>de</strong> ev<strong>en</strong>tualm<strong>en</strong>te não se<br />

mostrar "contemporâneo <strong>de</strong> si mesmo" e <strong>de</strong> <strong>de</strong>f<strong>en</strong><strong>de</strong>r concepções obsoletas <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> constatamos que,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!