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Políticas de Exclusión en la Educación y el Trabajo_Pablo Gentili

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interesses antagônicos <strong>de</strong>correm das condições econômicas da vida burguesa. Por isso, as re<strong>la</strong>ções <strong>de</strong><br />

produção nas quais se move a burguesia não têm um caráter único, mas um caráter <strong>de</strong> duplicida<strong>de</strong>, uma vez<br />

que "...nas mesmas re<strong>la</strong>ções nas quais se produz a riqueza, também se produz a miséria; que, nas mesmas<br />

re<strong>la</strong>ções nas quais há <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to das forças produtivas, há uma força produtora <strong>de</strong> repressão" (Marx,<br />

1976: p. 98). Contudo, da mesma forma que essas re<strong>la</strong>ções produzem a riqueza da c<strong>la</strong>sse dominante,<br />

<strong>de</strong>stroem continuam<strong>en</strong>te a riqueza dos membros integrantes <strong>de</strong>ssa c<strong>la</strong>sse e produzem um proletariado<br />

sempre cresc<strong>en</strong>te. A miséria e a exclusão são o resultado continuado e cresc<strong>en</strong>te dos <strong>de</strong>sdobram<strong>en</strong>tos do<br />

modo <strong>de</strong> produção capitalista.<br />

O agravam<strong>en</strong>to do processo <strong>de</strong> exclusão não passa <strong>de</strong>sapercebido das c<strong>la</strong>sses dominantes. Repres<strong>en</strong>tadas<br />

pe<strong>la</strong>s políticas monitoradoras do Banco Mundial, parecem estar não ap<strong>en</strong>as at<strong>en</strong>tas com o custo econômico,<br />

mas também com o custo social <strong>de</strong>sse processo. Como diz Netto, "há um limite, p<strong>el</strong>os padrões civilizacionais<br />

já alcançados, para a instauração <strong>de</strong>ssa barbárie na vida cotidiana <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s massas (especialm<strong>en</strong>te<br />

gran<strong>de</strong>s agregados urbanos)" (Netto, 1995: p. 32). Já existem investim<strong>en</strong>tos para combater as<br />

conseqüências <strong>de</strong> uma exploração que reduz as condições <strong>de</strong> vida abaixo da sociabilida<strong>de</strong> que o processo<br />

civilizatório conseguiu até o mom<strong>en</strong>to. Um rebaixam<strong>en</strong>to das condições <strong>de</strong> vida até níveis inferiores aos<br />

aceitáveis po<strong>de</strong> levar ao reaquecim<strong>en</strong>to das lutas <strong>de</strong> c<strong>la</strong>sse a patamares difíceis <strong>de</strong> governar. Esse receio tem<br />

feito com que o Banco Mundial recom<strong>en</strong><strong>de</strong> aos governos dos países da América Latina e do Caribe que<br />

prestem at<strong>en</strong>ção a cinco áreas políticas críticas. Entre e<strong>la</strong>s, <strong>de</strong>staca-se "a m<strong>el</strong>horia do <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to social<br />

e humano"4 (Silva Jr e Sguissardi, 1999: p. 114). Para isso, está conce<strong>de</strong>ndo recursos para a área social em<br />

perc<strong>en</strong>tuais cresc<strong>en</strong>tes (Soares, 1996: pp. 17-37).<br />

As conseqüências sociais <strong>de</strong>ste f<strong>en</strong>ôm<strong>en</strong>o extrapo<strong>la</strong>m os setores que são expulsos do processo formal <strong>de</strong><br />

produção. A flexibilização do nív<strong>el</strong> <strong>de</strong> emprego atinge não só as condições <strong>de</strong> trabalho, mas também as<br />

maneiras <strong>de</strong> vivê-lo. Mesmo quem fica no chamado setor formal tem suas condições <strong>de</strong> trabalho alteradas.<br />

Se, por um <strong>la</strong>do, as inovações estab<strong>el</strong>ecem m<strong>el</strong>horias na qualida<strong>de</strong> do trabalho em <strong>de</strong>terminados setores da<br />

produção, por outro aparecem novas do<strong>en</strong>ças ocupacionais, <strong>de</strong>stacando-se o estresse e problemas <strong>de</strong><br />

instabilida<strong>de</strong> emocional em função das mudanças no mundo do trabalho (Dejours, 1987). Com a busca <strong>de</strong><br />

uma maior flexibilida<strong>de</strong> do trabalho na empresa e <strong>de</strong> novas formas <strong>de</strong> dominação, as condições <strong>de</strong> trabalho<br />

<strong>de</strong> quem ficou empregado t<strong>en</strong><strong>de</strong>m a aproximar-se daque<strong>la</strong>s que dominam nos empregos informais. A<br />

hegemonia do neoliberalismo nas políticas sociais tem resultado na <strong>el</strong>iminação continuada das conquistas<br />

sociais. No Brasil, após a Constituinte <strong>de</strong> 1988, várias Em<strong>en</strong>das Constitucionais estão s<strong>en</strong>do aprovadas com o<br />

objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sregu<strong>la</strong>m<strong>en</strong>tar a re<strong>la</strong>ção capital/trabalho. Desta forma, a proteção social <strong>de</strong> quem está<br />

empregado passa a não diferir tanto assim <strong>de</strong> quem está fora do emprego formal.<br />

O chamado setor informal, caracterizado por ser profundam<strong>en</strong>te heterogêneo em re<strong>la</strong>ção aos tipos <strong>de</strong> ofícios<br />

que o compõem e por suas re<strong>la</strong>ções com o Estado e com a legalida<strong>de</strong>, carrega traços <strong>de</strong> antigas re<strong>la</strong>ções <strong>de</strong><br />

produção. Gómez chama a at<strong>en</strong>ção para o fato <strong>de</strong> o setor informal carregar "mais do que noutros lugares,<br />

formas <strong>de</strong> dominação pessoais. Longe <strong>de</strong> tornar-se anônimas, as re<strong>la</strong>ções <strong>de</strong> produção se caracterizarão p<strong>el</strong>o<br />

favor e o salário" (Gómez, 1999: p. 191). O crescim<strong>en</strong>to <strong>de</strong>sse setor chama a at<strong>en</strong>ção pe<strong>la</strong> ausência <strong>de</strong><br />

proteção social do trabalhador e da trabalhadora, pe<strong>la</strong> dominação caracterizada p<strong>el</strong>o autoritarismo e<br />

paternalismo. Este tipo <strong>de</strong> emprego, r<strong>el</strong>egado à informalida<strong>de</strong> e à ilegalida<strong>de</strong>, carrega profundos traços <strong>de</strong><br />

exploração e opressão.<br />

A dinâmica da exclusão social tem uma re<strong>la</strong>ção <strong>de</strong> causa e efeito direta com a conc<strong>en</strong>tração <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que<br />

hoje se <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volve e que não <strong>en</strong>contra paral<strong>el</strong>o na história da humanida<strong>de</strong>. As conquistas tecnológicas são<br />

apropriadas p<strong>el</strong>o gran<strong>de</strong> capital não para que todos trabalhem m<strong>en</strong>os, mas para que um grupo <strong>de</strong><br />

privilegiados da humanida<strong>de</strong> consumam em <strong>de</strong>trim<strong>en</strong>to das necessida<strong>de</strong>s da gran<strong>de</strong> maioria. A difer<strong>en</strong>ciação<br />

é uma realida<strong>de</strong> na economia internacional. A conc<strong>en</strong>tração <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r está diretam<strong>en</strong>te re<strong>la</strong>cionada com o<br />

aprofundam<strong>en</strong>to da exclusão social. Não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezar o fato sali<strong>en</strong>tado por Altvater (apud Frigotto,<br />

1998b: p. 40) <strong>de</strong> que "é uma ilusão, e por isso uma <strong>de</strong>sonestida<strong>de</strong>, alim<strong>en</strong>tar e difundir a idéia <strong>de</strong> que todo<br />

mundo po<strong>de</strong>ria atingir o nív<strong>el</strong> industrial equival<strong>en</strong>te ao da Europa, da América do Norte e do Japão". Há <strong>de</strong><br />

se consi<strong>de</strong>rar que, no Brasil, a busca <strong>de</strong> competitivida<strong>de</strong> é feita nas piores condições possíveis. Parte do<br />

sistema industrial nacional <strong>en</strong>contra-se obsoleto, não há uma política <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to industrial, os<br />

Estados da Fe<strong>de</strong>ração praticam, com a conivência do governo fe<strong>de</strong>ral, uma guerra fiscal predatória, o<br />

comércio exterior sofreu uma rápida liberalização e a forte valorização da moeda diminuiu a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

competição internacional baseada no preço das mercadorias. Não existe uma re<strong>la</strong>ção direta <strong>en</strong>tre<br />

crescim<strong>en</strong>to da produtivida<strong>de</strong> e evolução sa<strong>la</strong>rial. Os salários não evoluem com o crescim<strong>en</strong>to da<br />

produtivida<strong>de</strong> do trabalho. Ao contrário, as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s se ac<strong>en</strong>tuam.

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