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Políticas de Exclusión en la Educación y el Trabajo_Pablo Gentili

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A disputa própria a este modo <strong>de</strong> produção leva à substituição do homem pe<strong>la</strong> máquina e por processos<br />

competitivos que buscam a <strong>el</strong>iminação <strong>de</strong> todas as tarefas que não agreguem valor ao produto. Limpar o<br />

chão da fábrica ou fiscalizar a <strong>en</strong>trada e saída <strong>de</strong> trabalhadores na fábrica não <strong>de</strong>ixa o produto mais<br />

competitivo, com m<strong>el</strong>hor qualida<strong>de</strong>. Mas <strong>de</strong>ixa certam<strong>en</strong>te a mercadoria mais cara, com seus custos <strong>de</strong><br />

produção aum<strong>en</strong>tados sem correspon<strong>de</strong>nte acréscimo <strong>de</strong> valor. Isto leva à <strong>el</strong>iminação <strong>de</strong>stes postos <strong>de</strong><br />

trabalho e ao aum<strong>en</strong>to do <strong>de</strong>semprego. Contudo, estas tarefas são agregadas às tarefas <strong>de</strong> quem permanece<br />

na fábrica, significando um aum<strong>en</strong>to <strong>de</strong> atribuições sem correspon<strong>de</strong>nte aum<strong>en</strong>to do salário.<br />

Desta forma, po<strong>de</strong>-se afirmar que o processo <strong>de</strong> reestruturação produtiva se faz acompanhar por<br />

importantes mudanças sociais. A questão que se coloca é a <strong>de</strong> que não há como <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar que o quadro<br />

social está intimam<strong>en</strong>te conectado com o processo <strong>de</strong> produção da economia. Como <strong>en</strong>fr<strong>en</strong>tar, no campo<br />

educacional, esta realida<strong>de</strong> que atravessa com suas re<strong>la</strong>ções sociais, que são em última análise re<strong>la</strong>ções <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r, a nossa socieda<strong>de</strong>? Antes <strong>de</strong> analisar os embates educacionais, vale a p<strong>en</strong>a <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volver algumas<br />

idéias que estão monitorando as políticas sociais em nosso país. Mais que isso, conectam, pe<strong>la</strong> i<strong>de</strong>ologia da<br />

globalização, o futuro dos países <strong>de</strong>p<strong>en</strong><strong>de</strong>ntes às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> valorização do capital em âmbito mundial.<br />

Globalização, <strong>de</strong>sregu<strong>la</strong>m<strong>en</strong>tação e cont<strong>en</strong>ção social<br />

Na seção anterior procurei mostrar que a exclusão social está re<strong>la</strong>cionada com o processo <strong>de</strong> reestruturação<br />

produtiva <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volvido a partir da década <strong>de</strong> 70 do século XX. Nesta, é objetivo mostrar que também<br />

existem conexões <strong>en</strong>tre o processo <strong>de</strong> exclusão social, agora também globalizado, e as políticas sociais<br />

implem<strong>en</strong>tadas a partir do p<strong>en</strong>sam<strong>en</strong>to neoliberal.<br />

As reformas econômicas <strong>de</strong> "ajuste estrutural", implem<strong>en</strong>tadas na América Latina, estão baseadas no que<br />

ficou conhecido como "Cons<strong>en</strong>so <strong>de</strong> Washington" (Gómez, 1999: p. 31). Em síntese, são medidas que visam<br />

a abertura das economias nacionais, a <strong>de</strong>sregu<strong>la</strong>ção dos mercados, o corte nos gastos sociais, a flexibilização<br />

dos direitos trabalhistas, a privatização das empresas públicas e o controle do déficit fiscal. Em n<strong>en</strong>hum<br />

outro mom<strong>en</strong>to histórico os países <strong>la</strong>tino-americanos foram tão ori<strong>en</strong>tados e persuadidos sobre a eficácia do<br />

mercado livre e das privatizações como no último período. A disseminação g<strong>en</strong>eralizada <strong>de</strong>stas políticas tem<br />

significado um impressionante retrocesso social na América Latina. O resultado tem sido uma maior<br />

po<strong>la</strong>rização social, aum<strong>en</strong>to da pobreza, marginalização e <strong>de</strong>semprego em massa.<br />

Em nív<strong>el</strong> internacional, o processo <strong>de</strong> globalização repres<strong>en</strong>ta uma etapa nova <strong>de</strong> avanços tecnológicos e <strong>de</strong><br />

acumu<strong>la</strong>ção financeira <strong>de</strong> capitais. Mais do que agir no interior dos países conformando novas re<strong>la</strong>ções <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r, a globalização neoliberal tem servido como um mecanismo <strong>de</strong> <strong>de</strong>p<strong>en</strong>dência dos países<br />

sub<strong>de</strong>s<strong>en</strong>volvidos em re<strong>la</strong>ção aos <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volvidos. É um traço evi<strong>de</strong>nte na economia internacional, quando se<br />

trata dos governos dos países <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volvidos, ser neoliberais para os outros e protecionistas para <strong>el</strong>es<br />

mesmos. Como nos mostra Chomsky, o neoliberalismo é um forte instrum<strong>en</strong>to <strong>de</strong> dominação do norte sobre<br />

o sul. Reagan, exemplifica o autor, era neoliberal quando se tratava <strong>de</strong> ori<strong>en</strong>tar políticas para os outros<br />

países, mas extremam<strong>en</strong>te protagonista <strong>de</strong> interv<strong>en</strong>ções estatais quando dizia respeito às necessida<strong>de</strong>s<br />

norte-americanas5 (Chomsky, 1999: p. 27). A i<strong>de</strong>ologia do livre-mercado tem, portanto, dois <strong>la</strong>dos: proteção<br />

estatal e "auxílio" público para os ricos e o rigor do mercado para os pobres.<br />

Neste quadro <strong>de</strong> <strong>de</strong>p<strong>en</strong>dência, torna-se absolutam<strong>en</strong>te impossív<strong>el</strong> à América Latina se <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volver, sejam<br />

quais forem as políticas governam<strong>en</strong>tais. O que se <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volve não são os países, mas a chamada economiaglobal<br />

capitalista. Essa economia é <strong>de</strong> natureza po<strong>la</strong>rizada, remet<strong>en</strong>do a uma situação em que regiões e<br />

segm<strong>en</strong>tos sociais inteiros são excluídos da expansão do capital. Segundo Limoeiro-Cardoso, o que se diz<br />

hoje da globalização é sem<strong>el</strong>hante ao que se referia ao "<strong>de</strong>s<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to" nas décadas <strong>de</strong> 50 e 60. O<br />

processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to "não era tido como s<strong>en</strong>do em si mesmo difer<strong>en</strong>ciador - criando ao mesmo<br />

tempo e no mesmo movim<strong>en</strong>to países <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volvidos e países sub<strong>de</strong>s<strong>en</strong>volvidos" (Limoeiro-cardoso, 1999: p.<br />

116). Se no mo<strong>de</strong>lo neoliberal todos <strong>de</strong>vem competir, em verda<strong>de</strong> só poucos po<strong>de</strong>m ganhar. O<br />

<strong>de</strong>s<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to não é para todos. Ele só existe com o sub<strong>de</strong>s<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to <strong>de</strong> outros. A <strong>de</strong>fasagem<br />

exist<strong>en</strong>te <strong>en</strong>tre os países ricos e os países pobres não po<strong>de</strong> ser v<strong>en</strong>cida com a t<strong>en</strong>tativa <strong>de</strong> "recuperar" o<br />

atraso no processo <strong>de</strong> industrialização dos países <strong>de</strong>p<strong>en</strong><strong>de</strong>ntes. Essa difer<strong>en</strong>ça não se trata ap<strong>en</strong>as <strong>de</strong> uma<br />

questão <strong>de</strong> tempo, mas é uma característica do próprio mo<strong>de</strong>lo, que não ap<strong>en</strong>as mantém esta <strong>de</strong>fasagem<br />

mas a amplia com mecanismos <strong>de</strong> exclusão cada vez mais pot<strong>en</strong>tes. S<strong>en</strong>do assim, a integração dos países<br />

<strong>la</strong>tino-americanos ao mercado neoliberal internacional, cada vez mais oligopolizado6, está se dando sempre<br />

<strong>de</strong> forma <strong>de</strong>p<strong>en</strong><strong>de</strong>nte e periférica.

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