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Políticas de Exclusión en la Educación y el Trabajo_Pablo Gentili

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ap<strong>en</strong>as com a caneta do Presi<strong>de</strong>nte da República, pois os mecanismos legais que fundam<strong>en</strong>tam a reforma<br />

não passam pe<strong>la</strong> aprovação do Congresso Nacional.<br />

Várias são as medidas <strong>de</strong>corr<strong>en</strong>tes <strong>de</strong>sta legis<strong>la</strong>ção. A reforma do <strong>en</strong>sino técnico e tecnológico atinge os três<br />

níveis <strong>de</strong> <strong>en</strong>sino: o básico, o médio e o tecnológico. A imposição do governo fe<strong>de</strong>ral acabou com os cursos<br />

técnicos tradicionais e a estrutura exist<strong>en</strong>te nas esco<strong>la</strong>s técnicas e agrotécnicas fe<strong>de</strong>rais. Uma das questões<br />

c<strong>en</strong>trais da reforma é a obrigação das esco<strong>la</strong>s separarem o <strong>en</strong>sino regu<strong>la</strong>r médio da formação técnica10. Ao<br />

retirar a formação profissional do sistema formal <strong>de</strong> educação, a reforma aprofunda a separação <strong>en</strong>tre a<br />

esco<strong>la</strong> e o mundo do trabalho, retornando a uma situação exist<strong>en</strong>te até o ano <strong>de</strong> 196111, quando não havia<br />

equivalência <strong>en</strong>tre o diploma <strong>de</strong> nív<strong>el</strong> médio e o <strong>de</strong> <strong>en</strong>sino técnico. Com isso, a reforma dá um novo impulso<br />

ao caráter capitalista da esco<strong>la</strong>.<br />

Deste modo, cada vez mais o <strong>en</strong>sino regu<strong>la</strong>r separa-se da produção e cada vez mais a formação para a<br />

produção separa-se da esco<strong>la</strong>. Como mostrou Silva, "a esco<strong>la</strong> no capitalismo é capitalista porque é separada<br />

da produção. E<strong>la</strong> é capitalista não por causa <strong>de</strong> seus efeitos individuais, mas ess<strong>en</strong>cialm<strong>en</strong>te por sua posição<br />

estrutural <strong>de</strong> separação em re<strong>la</strong>ção à produção" (Silva, 1993: p. 30). Ao separar <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>finitiva o <strong>en</strong>sino<br />

técnico do <strong>en</strong>sino médio, o que o governo faz é impulsionar o caráter capitalista da esco<strong>la</strong>, <strong>de</strong> reprodução da<br />

divisão social do trabalho.<br />

Outro instrum<strong>en</strong>to importante na reestruturação do sistema <strong>de</strong> educação profissional é o PROEP. Este<br />

programa é uma iniciativa do Ministério da Educação e do Desporto (MEC) e do Ministério do Trabalho (MTb).<br />

Seu objetivo é a "a<strong>de</strong>quação <strong>de</strong> currículos e cursos às necessida<strong>de</strong>s do mundo do trabalho; da qualificação,<br />

recic<strong>la</strong>gem e reprofissionalização <strong>de</strong> trabalhadores(as), in<strong>de</strong>p<strong>en</strong><strong>de</strong>nte do nív<strong>el</strong> <strong>de</strong> esco<strong>la</strong>rida<strong>de</strong>" (PROEP,<br />

1997: p. 1). Trata, também, do financiam<strong>en</strong>to da reforma do sistema <strong>de</strong> <strong>en</strong>sino técnico e tecnológico. Os<br />

recursos <strong>de</strong>ste Programa são originários <strong>de</strong> 3 tipos <strong>de</strong> dotações orçam<strong>en</strong>tarias: 25% do MEC, 25% do Fundo<br />

<strong>de</strong> Amparo ao Trabalhador (FAT) e 50% <strong>de</strong> empréstimos do Banco Interamericano <strong>de</strong> Des<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to. O<br />

montante inicial previsto para este programa é <strong>de</strong> R$ 500 milhões. Este c<strong>en</strong>ário <strong>de</strong> financiam<strong>en</strong>to se combina<br />

com a apres<strong>en</strong>tação <strong>de</strong> políticas para os países <strong>de</strong>p<strong>en</strong><strong>de</strong>ntes a partir <strong>de</strong> recursos contraídos junto ao Banco<br />

Mundial, que funciona como instrum<strong>en</strong>to <strong>de</strong> controle sobre as políticas dos países <strong>de</strong>p<strong>en</strong><strong>de</strong>ntes. Este controle<br />

ocorre através <strong>de</strong> financiam<strong>en</strong>tos específicos para <strong>de</strong>terminadas áreas. A área educacional aparece como<br />

uma das principais.<br />

A formação técnico-profissional é um exemplo <strong>de</strong> política que caminha passo a passo com uma propaganda<br />

int<strong>en</strong>sa e reiterada. E<strong>la</strong> vem sedim<strong>en</strong>tando, como parte <strong>de</strong> uma profunda revolução cultural no imaginário<br />

das c<strong>la</strong>sses trabalhadoras e popu<strong>la</strong>ção em geral - <strong>de</strong>sempregados/as, subempregados/as, trabalhadores/as<br />

precários/as, exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra - a idéia <strong>de</strong> que, mediante as difer<strong>en</strong>tes modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong><br />

formação, todos se tornarão empregáveis. É ingênuo acreditar que é possív<strong>el</strong> corrigir as distorções do<br />

mercado em função da qualificação dos trabalhadores e das trabalhadoras. Não é a esco<strong>la</strong> que <strong>de</strong>fine o posto<br />

que o homem ou a mulher irão ocupar na produção. Ao contrário, muitas vezes o lugar que a família do<br />

aluno ou da aluna ocupa na produção é que acaba levando o/a aluno/a para um <strong>de</strong>terminado tipo <strong>de</strong> esco<strong>la</strong>.<br />

Portanto, não é possív<strong>el</strong> resolver a crise <strong>de</strong> emprego <strong>de</strong>ntro da esco<strong>la</strong>.<br />

Como mostra Frigotto, no p<strong>la</strong>no i<strong>de</strong>ológico <strong>de</strong>svia-se a responsabilida<strong>de</strong> social para o p<strong>la</strong>no individual: "já<br />

não há políticas <strong>de</strong> emprego e r<strong>en</strong>da <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to social, mas indivíduos que<br />

<strong>de</strong>vem adquirir competências ou habilida<strong>de</strong>s no campo cognitivo, técnico, <strong>de</strong> gestão e atitu<strong>de</strong>s para se<br />

tornarem competitivos e empregáveis" (Frigotto, 1998a: p. 15). Os <strong>de</strong>sempregados é que ficam com a<br />

responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> buscar "requalificação" e "reconversão profissional" a fim <strong>de</strong> tornarem-se empregáveis.<br />

Ou mesmo buscarem algum tipo <strong>de</strong> ocupação no mercado informal ou na economia <strong>de</strong> sobrevivência. É o<br />

que diz G<strong>en</strong>tili quando afirma que se esgota a promessa integradora da esco<strong>la</strong>, passando a ser sua tarefa<br />

agora a empregabilida<strong>de</strong>. "A garantia do emprego como direito social (...) <strong>de</strong>smanchou-se diante da nova<br />

promessa <strong>de</strong> empregabilida<strong>de</strong> como capacida<strong>de</strong> individual para disputar as limitadas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

inserção que o mercado oferece" (G<strong>en</strong>tili, 1998a: p. 89). Ainda segundo este autor, no marco da<br />

restruturação neoliberal produziu-se a privatização da função econômica atribuída à esco<strong>la</strong>, uma das<br />

principais dim<strong>en</strong>sões que <strong>de</strong>finem a própria <strong>de</strong>sintegração do direito à educação.<br />

No interior da esco<strong>la</strong> e dos cursos <strong>de</strong> requalificação têm <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volvidas as re<strong>la</strong>ções que permitem fazer<br />

com que alunos/as e professores/as p<strong>en</strong>sem e sintam que todos se tornarão empregáveis. O discurso da<br />

empregabilida<strong>de</strong> afirma que a requalificação po<strong>de</strong> gerar as condições <strong>de</strong> se chegar ao emprego. Mas como<br />

<strong>de</strong>mostramos anteriorm<strong>en</strong>te, não há no capitalismo a possibilida<strong>de</strong> concreta <strong>de</strong> satisfação <strong>de</strong> empregos. Não<br />

há geração <strong>de</strong> empregos em condições sufici<strong>en</strong>tes para at<strong>en</strong><strong>de</strong>r a todos e a todas. Ao mesmo tempo, as

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