17.04.2013 Views

Políticas de Exclusión en la Educación y el Trabajo_Pablo Gentili

Políticas de Exclusión en la Educación y el Trabajo_Pablo Gentili

Políticas de Exclusión en la Educación y el Trabajo_Pablo Gentili

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

a educação. Na essência visam produzir um or<strong>de</strong>nam<strong>en</strong>to no campo educacional necessário a a<strong>de</strong>quar as<br />

políticas educacionais às políticas <strong>de</strong> bem-estar social. [...] Em linhas gerais, essas reformas educacionais<br />

vêm se conformando com as seguintes características: a. focalização do gasto social no <strong>en</strong>sino básico, com<br />

ênfase no <strong>en</strong>sino fundam<strong>en</strong>tal <strong>de</strong> crianças e adolesc<strong>en</strong>tes (em <strong>de</strong>trim<strong>en</strong>to da educação pré-esco<strong>la</strong>r, <strong>en</strong>sino<br />

médio e fundam<strong>en</strong>tal <strong>de</strong> adultos e <strong>en</strong>sino superior); b. <strong>de</strong>sc<strong>en</strong>tralização que, no caso brasileiro, conforma-se<br />

através da municipalização do <strong>en</strong>sino fundam<strong>en</strong>tal; c. privatização que, no caso brasileiro, não se realiza<br />

prioritariam<strong>en</strong>te pe<strong>la</strong> transferência <strong>de</strong> serviços públicos ao setor privado, mas pe<strong>la</strong> constituição objetiva <strong>de</strong><br />

um mercado <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> serviços educacionais, o que ocorre pe<strong>la</strong> omissão ou saída do Estado em<br />

diversos âmbitos e pe<strong>la</strong> <strong>de</strong>terioração dos serviços públicos, combinada com a exigência cresc<strong>en</strong>te <strong>de</strong><br />

formação do mercado <strong>de</strong> trabalho; <strong>de</strong>sregu<strong>la</strong>m<strong>en</strong>tação, que se realiza p<strong>el</strong>o ajuste da legis<strong>la</strong>ção, dos métodos<br />

<strong>de</strong> gestão e das instituições educacionais às diretrizes anteriores, e re-regu<strong>la</strong>m<strong>en</strong>tação, através <strong>de</strong><br />

instrum<strong>en</strong>tos que assegurem ao governo c<strong>en</strong>tral o controle do sistema educacional, particu<strong>la</strong>rm<strong>en</strong>te<br />

mediante a fixação <strong>de</strong> parâmetros curricu<strong>la</strong>res nacionais e <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> avaliação<br />

(APEOESP, 1999: p. 2).<br />

As li<strong>de</strong>ranças sindicais da APEOESP avaliam que, após quatro anos e meio <strong>de</strong> reformas educacionais no<br />

Estado <strong>de</strong> São Paulo, o governo teria colocado em prática suas diretrizes <strong>de</strong> forma "prepot<strong>en</strong>te e autoritária,<br />

sem qualquer tipo <strong>de</strong> diálogo ou consulta ao magistério, aos <strong>de</strong>mais segm<strong>en</strong>tos da comunida<strong>de</strong> esco<strong>la</strong>r e à<br />

socieda<strong>de</strong> em geral, sob o argum<strong>en</strong>to fa<strong>la</strong>cioso <strong>de</strong> que, t<strong>en</strong>do v<strong>en</strong>cido as <strong>el</strong>eições, seu projeto já havia sido<br />

previam<strong>en</strong>te aprovado pe<strong>la</strong> maioria da popu<strong>la</strong>ção. Tais diretrizes, no <strong>en</strong>tanto, foram publicadas som<strong>en</strong>te<br />

após as <strong>el</strong>eições" (APEOESP, 1999: p. 2).<br />

Em síntese, para a APEOESP, o projeto educacional do governo paulista não é mais que uma estratégia <strong>de</strong><br />

redução dos investim<strong>en</strong>tos no setor, combinado com a t<strong>en</strong>tativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>squalificar e fragm<strong>en</strong>tar o sindicato.<br />

"As medidas a serem imp<strong>la</strong>ntadas vêm sempre <strong>en</strong>voltas num discurso pseudo-progressista, que invoca<br />

razões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m pedagógica para justificá-<strong>la</strong>s mas, na realida<strong>de</strong>, o <strong>en</strong>xugam<strong>en</strong>to dos gastos é sempre o<br />

objetivo indisfarçav<strong>el</strong>m<strong>en</strong>te maior" (APEOESP, 1999: p. 2).<br />

Ao longo <strong>de</strong>ste texto pu<strong>de</strong>mos observar que o Estado não tem tido a mínima preocupação em ter os<br />

sindicatos como interlocutores ou dialogar sobre suas reivindicações. A interlocução vem a público, via mídia,<br />

nos mom<strong>en</strong>tos <strong>de</strong> conflitos e t<strong>en</strong>sões. Este é o espaço que resta para a negociação e a troca <strong>de</strong> idéias: os<br />

mom<strong>en</strong>tos t<strong>en</strong>sos <strong>de</strong> negociações em uma greve, por exemplo, ou em uma campanha sa<strong>la</strong>rial, ou ainda em<br />

uma rodada <strong>de</strong> negociação para estab<strong>el</strong>ecer os índices <strong>de</strong> reajustes dos salários.<br />

Algumas conclusões<br />

Os dados coletados para a e<strong>la</strong>boração <strong>de</strong>ste texto nos indicam que os p<strong>la</strong>nejadores públicos têm um discurso<br />

e<strong>la</strong>borado, recheado <strong>de</strong> termos e expressões tidas como mo<strong>de</strong>rnas; e<strong>la</strong>boram ext<strong>en</strong>sos diagnósticos das<br />

áreas problemas, mas <strong>el</strong>es são incoer<strong>en</strong>tes e contraditórios no exercício da execução das reformas. A prática<br />

se <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volve segundo parâmetros difer<strong>en</strong>tes do discurso que justifica a adoção das medidas. Nas<br />

<strong>en</strong>tr<strong>el</strong>inhas observamos que os reais objetivos são outros. A lógica da redução <strong>de</strong> custos está sempre<br />

pres<strong>en</strong>te. O raciocínio e o cálculo econômico predominam. A lógica <strong>de</strong> mercado está pres<strong>en</strong>te <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as<br />

premissas das propostas que atribuem à esco<strong>la</strong> a função <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volver capacida<strong>de</strong>s para o exercício da<br />

cidadania, a apr<strong>en</strong>dizagem <strong>de</strong> conteúdos necessários para a vida em socieda<strong>de</strong>.<br />

As reformas são processos políticos e também comunicacionais e culturais: para promoverem m<strong>el</strong>horias<br />

substantivas <strong>de</strong>p<strong>en</strong><strong>de</strong>m <strong>de</strong> projetos emancipatórios e das culturas organizacionais exist<strong>en</strong>tes. Tratá-<strong>la</strong>s como<br />

instrum<strong>en</strong>tos administrativos, fundadas em racionalida<strong>de</strong>s econômicas para reduzirem custos, é um grave<br />

equívoco e uma mistificação: não geram m<strong>el</strong>horias e muito m<strong>en</strong>os cidadania. Seus impactos para uma<br />

educação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> são nulos, e<strong>la</strong>s se resumem a um cabedal <strong>de</strong> dados e cifras estatísticas.<br />

Uma outra conclusão importante é: não são ap<strong>en</strong>as condições materiais, salários, ou uma boa <strong>en</strong>g<strong>en</strong>haria no<br />

p<strong>la</strong>nejam<strong>en</strong>to técnico (ainda que inclua os aspectos sociais), que cria, estimu<strong>la</strong> ou <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volve a participação.<br />

A motivação, os valores, a m<strong>en</strong>talida<strong>de</strong> são <strong>el</strong>em<strong>en</strong>tos constitutivos da cultura da participação. O não<br />

reconhecim<strong>en</strong>to dos esforços <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volvidos p<strong>el</strong>os profissionais da educação, e a não valorização do seu<br />

trabalho, são <strong>el</strong>em<strong>en</strong>tos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sestímulo à participação.<br />

O breve pain<strong>el</strong> a respeito dos sindicatos e <strong>en</strong>tida<strong>de</strong>s dos professores indicou-nos que <strong>el</strong>es têm conhecim<strong>en</strong>to<br />

e propostas para os problemas cotidianos nas esco<strong>la</strong>s, ao m<strong>en</strong>os no nív<strong>el</strong> discursivo. Mas <strong>el</strong>es não são

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!