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Políticas de Exclusión en la Educación y el Trabajo_Pablo Gentili

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transformações que se operam no chão-<strong>de</strong>-fábrica apontam para uma especialização em certos setores,<br />

<strong>en</strong>quanto vários outros permanecem com a mesma estrutura anterior ou ainda obt<strong>en</strong>do sua força-<strong>de</strong>trabalho<br />

através <strong>de</strong> um treinam<strong>en</strong>to on-the-job, isto é, no próprio posto <strong>de</strong> trabalho. A forma como estes<br />

cursos <strong>de</strong> qualificação/requalificação profissional vem s<strong>en</strong>do divulgados e trabalhados sugerem que a<br />

formação profissional po<strong>de</strong> gerar emprego. Na verda<strong>de</strong>, o que e<strong>la</strong> gera é o que realm<strong>en</strong>te promete:<br />

empregabilida<strong>de</strong>. Como diz Forrester, "uma be<strong>la</strong> pa<strong>la</strong>vra soa nova e parece prometida a um b<strong>el</strong>o futuro:<br />

empregabilida<strong>de</strong>, que se reve<strong>la</strong> como um par<strong>en</strong>te muito próximo da flexibilida<strong>de</strong>, e até como uma <strong>de</strong> suas<br />

formas" (Forrester, 1997: p. 118). Trata-se, para o assa<strong>la</strong>riado, <strong>de</strong> estar pronto para trocar constantem<strong>en</strong>te<br />

<strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong> estar disponív<strong>el</strong> para todas as mudanças, para todos os caprichos dos hom<strong>en</strong>s e das<br />

mulheres <strong>de</strong> negócio.<br />

O mérito do sujeito empregado não está no seu direito social ao emprego, mas em ter conseguido se colocar<br />

em um mercado <strong>de</strong> trabalho competitivo. Todavia, como o próprio conteúdo da pa<strong>la</strong>vra competitivida<strong>de</strong><br />

expressa, nem todos serão v<strong>en</strong>cedores. A função da esco<strong>la</strong> passa a ser, <strong>en</strong>tão, s<strong>el</strong>ecionar para o emprego.<br />

P<strong>el</strong>o seu retorno incerto, difer<strong>en</strong>te da teoria do capital humano, não se justificam investim<strong>en</strong>tos públicos <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> monta. Talvez este seja um dos fatores <strong>de</strong> redução da participação do Estado na atual política <strong>de</strong><br />

educação profissional. Difer<strong>en</strong>te da perspectiva da teoria do capital humano das décadas <strong>de</strong> 60 e 70, que<br />

prometia integrar a todos, prometia mobilida<strong>de</strong> e asc<strong>en</strong>são social e <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to aos países pobres, hoje<br />

ac<strong>en</strong>a com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> integração ap<strong>en</strong>as daqu<strong>el</strong>es/as que adquirirem habilida<strong>de</strong>s básicas que geram<br />

competências reconhecidas p<strong>el</strong>o mercado.<br />

Desta forma, a educação sai da esfera do direito social e passa a ser uma aquisição individual, uma<br />

mercadoria que se obtém no mercado segundo os interesses <strong>de</strong> cada um/a e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um/a<br />

obter o que quiser. O mercado é uma narrativa mestre no discurso educacional. Os propósitos econômicos do<br />

<strong>en</strong>sino se sobrepõem aos propósitos sociais e culturais. Como havia dito anteriorm<strong>en</strong>te, a<br />

<strong>de</strong>sregu<strong>la</strong>m<strong>en</strong>tação das re<strong>la</strong>ções econômicas vem s<strong>en</strong>do acompanhada da <strong>de</strong>sregu<strong>la</strong>m<strong>en</strong>tação dos direitos<br />

sociais. A educação é um bom exemplo <strong>de</strong>ste processo.<br />

No Brasil, isto tem significado mudanças importantes na Constituição da República, que vêm acompanhadas<br />

<strong>de</strong> uma propaganda que re<strong>la</strong>ciona direitos com privilégios. A título <strong>de</strong> <strong>el</strong>iminar privilégios, os direitos sociais<br />

e trabalhistas são combatidos e gradativam<strong>en</strong>te <strong>el</strong>iminados da re<strong>la</strong>ção <strong>en</strong>tre capital e trabalho e da re<strong>la</strong>ção<br />

<strong>en</strong>tre estado e cidadã/o. Isto é feito com o objetivo <strong>de</strong> não interferir nas leis "naturais" que <strong>de</strong>vem<br />

administrar a socieda<strong>de</strong>. Leis "naturais" nada mais são do que a supremacia do mercado <strong>de</strong>finindo as<br />

re<strong>la</strong>ções sociais.<br />

Esta política tem como resultado a <strong>en</strong>trega à iniciativa privada <strong>de</strong> setores da economia que estavam sob a<br />

ativida<strong>de</strong> estatal, como a educação. A retórica neoliberal, ao <strong>en</strong>t<strong>en</strong><strong>de</strong>r que não é tarefa do Estado interferir<br />

no mercado, estab<strong>el</strong>ece uma diminuição em sua ativida<strong>de</strong> econômica transferindo ao mercado suas<br />

empresas produtivas e <strong>de</strong> serviços. Na prática, isto tem repres<strong>en</strong>tado a inviabilização da capacida<strong>de</strong> do<br />

Estado em fazer política econômica e social, por um <strong>la</strong>do, e , por outro, o aum<strong>en</strong>to da esfera <strong>de</strong> extração <strong>de</strong><br />

mais-valia. Isto acontece quando se transformam trabalhadores/as improdutivos/as vincu<strong>la</strong>dos à esfera do<br />

Estado, dos serviços públicos, em trabalhadores/as produtivos/as da esfera privada.<br />

Na esfera educacional, este processo <strong>de</strong> privatização, segundo G<strong>en</strong>tili, é mais amplo do que comprar e<br />

v<strong>en</strong><strong>de</strong>r, é mais que <strong>de</strong>legar responsabilida<strong>de</strong>s públicas para organizações privadas. Na educação, a compra<br />

ou v<strong>en</strong>da não é regra <strong>de</strong> privatização. A formação <strong>de</strong> professores e professoras, <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> currículos, a<br />

avaliação, são tarefas que tem sido sistematicam<strong>en</strong>te repassadas à iniciativa privada. Privatizar significa<br />

redistribuir e rearranjar o po<strong>de</strong>r, o que torna a "privatização educacional mais difusa e indireta que a<br />

privatização das instituições produtivas" (G<strong>en</strong>tili, 1998c: p. 322). Este processo é fundam<strong>en</strong>tal para o<br />

estab<strong>el</strong>ecim<strong>en</strong>to <strong>de</strong> um mercado educacional. Ele se completa pe<strong>la</strong> <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> mecanismos c<strong>en</strong>tralizados <strong>de</strong><br />

controle sobre o resultado das políticas, especialm<strong>en</strong>te das políticas educacionais. O que os governos<br />

neoliberais pret<strong>en</strong><strong>de</strong>m com suas reformas educacionais é "transferir a educação da esfera da política para a<br />

esfera do mercado" (I<strong>de</strong>m, 1998b: p. 19).<br />

A implem<strong>en</strong>tação <strong>de</strong> uma nova política educacional para a educação brasileira não acontece sem uma série<br />

<strong>de</strong> embates <strong>en</strong>tre projetos distintos e antagônicos. A resistência ao mo<strong>de</strong>lo imposto p<strong>el</strong>o Governo Fe<strong>de</strong>ral<br />

continua acontec<strong>en</strong>do em difer<strong>en</strong>tes espaços. As lutas em torno da educação pública brasileira não tem tido<br />

trégua nos últimos períodos. A socieda<strong>de</strong> tem se mobilizado e, mesmo após a <strong>de</strong>rrota sofrida com a<br />

aprovação da nova LDB12, continuou, organizadam<strong>en</strong>te, construindo instrum<strong>en</strong>tos e fóruns <strong>de</strong> luta. Os

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