Políticas de Exclusión en la Educación y el Trabajo_Pablo Gentili
Políticas de Exclusión en la Educación y el Trabajo_Pablo Gentili
Políticas de Exclusión en la Educación y el Trabajo_Pablo Gentili
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
1a Parte<br />
O C<strong>en</strong>ário da Educação, Trabalho e Lutas Sociais nos anos 90<br />
A conjuntura nacional nos anos 90: exclusão e lutas sociais<br />
Já é gran<strong>de</strong> o número <strong>de</strong> analistas que têm <strong>de</strong>stacado que o mundo mudou bastante nos anos 90 e com <strong>el</strong>e<br />
a realida<strong>de</strong> nacional brasileira: a globalização da economia avançou, as políticas neoliberais ganharam<br />
c<strong>en</strong>tralida<strong>de</strong>, o <strong>de</strong>semprego aum<strong>en</strong>tou, o processo <strong>de</strong> trabalho se transformou com a informatização<br />
tecnológica; as empresas realizaram re<strong>en</strong>g<strong>en</strong>harias e promoveram <strong>en</strong>xugam<strong>en</strong>tos nos seus quadros <strong>de</strong><br />
funcionários, o emprego industrial escasseou, a economia informal cresceu. A exclusão social atingiu também<br />
as camadas médias da popu<strong>la</strong>ção que passaram a <strong>en</strong>contrar dificulda<strong>de</strong>s para achar postos <strong>de</strong> trabalho, além<br />
<strong>de</strong> conviver com o fantasma do <strong>de</strong>semprego. O Estado passou a patrocinar políticas <strong>de</strong> inserção social para<br />
os indivíduos excluídos do acesso ao mercado <strong>de</strong> trabalho, ou <strong>de</strong>stituídos <strong>de</strong> seus direitos sociais, por meio<br />
<strong>de</strong> políticas comp<strong>en</strong>satórias (bolsas/empregos, fr<strong>en</strong>tes <strong>de</strong> trabalho, etc.), visando at<strong>en</strong>uar os impactos da<br />
diminuição <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s em setores estratégicos do social como nas áreas da educação e saú<strong>de</strong>. As<br />
políticas <strong>de</strong> ajustes estruturais tem sido apres<strong>en</strong>tadas como mo<strong>de</strong>rnas, inevitáveis e <strong>de</strong> <strong>la</strong>rgo alcance.<br />
Entretanto, essas políticas têm co<strong>la</strong>borado para o aum<strong>en</strong>to do <strong>de</strong>semprego e da pobreza, e gerado mais<br />
<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social.<br />
Na realida<strong>de</strong>, o sistema capitalista passa, neste final <strong>de</strong> milênio, por uma gran<strong>de</strong> reformu<strong>la</strong>ção. Os analistas<br />
afirmam que as novas formas <strong>de</strong> acumu<strong>la</strong>ção <strong>de</strong>lineiam um mo<strong>de</strong>lo que requer uma mudança nas ativida<strong>de</strong>s<br />
do Estado, implicando, <strong>de</strong> um <strong>la</strong>do, no retraim<strong>en</strong>to <strong>de</strong> seu pap<strong>el</strong> como provedor <strong>de</strong> serviços e equipam<strong>en</strong>tos<br />
sociais, e <strong>de</strong> outro, numa maior c<strong>en</strong>tralização do po<strong>de</strong>r executivo para po<strong>de</strong>r levar a cabo as reformas. Essas<br />
transformações ocasionam a perda ou o <strong>en</strong>fraquecim<strong>en</strong>to dos canais tradicionais <strong>de</strong> negociação; e a abertura<br />
<strong>de</strong> espaços em setores <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços públicos para agências privadas. Assinale-se que a retirada<br />
ou retraim<strong>en</strong>to do Estado não significa a perda <strong>de</strong> seu pap<strong>el</strong> c<strong>en</strong>tral na vida e nos <strong>de</strong>stinos do país porque<br />
<strong>el</strong>e, <strong>en</strong>quanto governo c<strong>en</strong>tral, não abre mão do controle daqu<strong>el</strong>es setores. Ap<strong>en</strong>as abrem-se espaços para a<br />
interação com outros atores sociais na implem<strong>en</strong>tação das políticas, sem modificar as condições <strong>de</strong> acesso<br />
aos b<strong>en</strong>s e serviços.<br />
As políticas assistências <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> cestas básicas, litros <strong>de</strong> leite, passes <strong>de</strong> ônibus etc.<br />
institucionalizam-se como formas <strong>de</strong> combate à pobreza e o <strong>de</strong>semprego, per<strong>de</strong>ndo o caráter emerg<strong>en</strong>cial,<br />
compondo o eixo <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> participação outorgada, <strong>de</strong> cima para baixo. Os sindicatos também<br />
per<strong>de</strong>ram espaços e po<strong>de</strong>r na re<strong>la</strong>ção <strong>en</strong>tre o estado e a socieda<strong>de</strong> pois o <strong>de</strong>semprego mina as bases do<br />
sindicalismo (Antunes, 1999). O conflito social no campo acirrou-se e v<strong>el</strong>hos atores (como as Ligas<br />
Camponesas dos anos 50 e 60) ganharam roupag<strong>en</strong>s novas na c<strong>en</strong>a política nacional, a exemplo dos semterra,<br />
e com <strong>el</strong>es o Movim<strong>en</strong>to dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) (Gohn, 1997b). As mobilizações<br />
<strong>de</strong> massa refluíram e o movim<strong>en</strong>to popu<strong>la</strong>r organizado passou a operar via gran<strong>de</strong>s coligações: as re<strong>de</strong>s<br />
tecidas nos Fóruns Nacionais por: terra, trabalho, cidadania, emprego, reforma agrária, reforma urbana,<br />
direitos sociais etc.<br />
Destaca-se ainda, neste final <strong>de</strong> século, a ampliação do po<strong>de</strong>r da mídia na socieda<strong>de</strong>. A mídia passou a ser,<br />
também, um mecanismo <strong>de</strong> controle social, uma espécie <strong>de</strong> quarto gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Além do po<strong>de</strong>r, e<strong>la</strong> exerce<br />
fascínio na socieda<strong>de</strong> comunicacional informatizada, cria e afirma padrões estéticos, atua sobre a<br />
subjetivida<strong>de</strong> das pessoas ag<strong>en</strong>ciando seus comportam<strong>en</strong>tos. Dessa forma, o sistema capitalista atual produz<br />
não ap<strong>en</strong>as mercadorias mas também subjetivida<strong>de</strong>. E a mídia é o veículo por exc<strong>el</strong>ência <strong>de</strong> divulgação<br />
<strong>de</strong>ssa nova subjetivida<strong>de</strong> via um estilo <strong>de</strong> propaganda que cria <strong>de</strong>sejos, mo<strong>de</strong><strong>la</strong> o imaginário das pessoas,<br />
<strong>de</strong>sperta anseios etc. Substitui-se a informação pe<strong>la</strong> propaganda. Todos são tratados como consumidores,<br />
numa lógica <strong>de</strong> escolhas, numa economia <strong>de</strong> mercado (Matte<strong>la</strong>rt e Matte<strong>la</strong>rt, 1992). Usualm<strong>en</strong>te a gran<strong>de</strong><br />
mídia dá visibilida<strong>de</strong> pública aos fatos e acontecim<strong>en</strong>tos que reforçam as políticas hegemônicas e sil<strong>en</strong>cia,<br />
segrega, ou discrimina, os ev<strong>en</strong>tos que não interessam. E<strong>la</strong> é, portanto, altam<strong>en</strong>te s<strong>el</strong>etiva.<br />
Muitas coisas novas também estão acontec<strong>en</strong>do na virada <strong>de</strong>ste milênio. E<strong>la</strong>s não são ap<strong>en</strong>as novida<strong>de</strong>s mas<br />
são f<strong>en</strong>ôm<strong>en</strong>os que contém processos sociais positivos, do ponto <strong>de</strong> vista da construção <strong>de</strong> caminhos para<br />
uma mudança social qualitativa, bases para uma realida<strong>de</strong> m<strong>en</strong>os injusta socialm<strong>en</strong>te, e perspectivas para o<br />
exercício <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>mocratização radical nas re<strong>la</strong>ções <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Tratam-se das novas formas <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong><br />
pres<strong>en</strong>tes nas re<strong>de</strong>s e movim<strong>en</strong>tos sociais. E<strong>la</strong>s se tornaram r<strong>el</strong>evantes porque contribuem para o<br />
"empowerm<strong>en</strong>t" dos indivíduos nas comunida<strong>de</strong>s, criam as bases para formas <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to<br />
sust<strong>en</strong>táv<strong>el</strong>; e constituem-se em experiências <strong>de</strong> modos autônomos <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços, ao se