Consi<strong>de</strong>rações Iniciais No fundo, sempre me incomodou o fato <strong>de</strong> ganhar a vida a partir da infelicida<strong>de</strong> alheia. Ainda que julgue extremamente gratificante (além <strong>de</strong> fundamental) po<strong>de</strong>r contribuir para a diminuição do sofrimento humano, sempre acreditei que meu <strong>de</strong>ver era também o <strong>de</strong> oferecer senão condições, ao menos algumas informações que, <strong>bem</strong> utilizadas, po<strong>de</strong>riam evitar que, um dia, <strong>de</strong>terminada pessoa precisasse recorrer a uma psicoterapia. Por essa razão, vi muitos <strong>de</strong> meus amigos <strong>de</strong> faculda<strong>de</strong> se espantarem quando tornei-me uma consultora <strong>de</strong> empresas: Para eles (e confesso que, a princípio também para mim), eu havia me tornado uma psicóloga organizacional, algo impensável para alguém que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro ano do curso, dizia “amar a clínica”. Hoje sei que ao dar uma palestra numa empresa (ou mesmo uma aula na faculda<strong>de</strong>) <strong>sobre</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida ou gerenciamento <strong>de</strong> stress, estou não apenas fazendo psicologia preventiva, mas sendo a psicóloga que escolhi ser. Acredito caber à Psicologia o papel <strong>de</strong> orientar o homem quanto aos possíveis caminhos que levam à felicida<strong>de</strong>. Mas, para que isso aconteça, é preciso que nós, psicólogos, tenhamos coragem para voltar nosso olhar científico para um tema que até agora tem sido explorado quase que exclusivamente pela literatura <strong>de</strong> auto-ajuda. Enquanto isso, a AIDS, o seqüestro, o assalto e o stress, continuarão a ser problemas reais. Mas será que são eles que impe<strong>de</strong>m que o homem contemporâneo seja feliz? Nesse caso, seria possível, por exemplo, que uma pessoa, a partir do diagnóstico da AIDS, encontrasse a felicida<strong>de</strong>? Em minha dissertação <strong>de</strong> Mestrado <strong>de</strong>scobri que sim. Mas isso não é o bastante: é preciso compreen<strong>de</strong>r melhor a felicida<strong>de</strong>, suas causas, seus mecanismos e os caminhos que po<strong>de</strong>mos traçar para conquistá-la. Consi<strong>de</strong>rações Iniciais 18
Como vêem, são muitas as questões a serem respondidas e outras tantas a serem formuladas até que sejamos capazes <strong>de</strong> dizer o que, <strong>de</strong> fato, torna um ser humano feliz. De minha parte, acredito que a pesquisa <strong>sobre</strong> a relação entre felicida<strong>de</strong> e locus <strong>de</strong> controle interno seja um bom caminho. Caminho este cujo início apresentarei neste trabalho. 19