Psicologia e Diversidade Sexual - CRP sp
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Histórico da luta de LGBT no Brasil<br />
Regina Facchini<br />
Doutora em Ciências Sociais pela Unicamp. Atualmente é pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero – Pagu e<br />
professora participante do Programa de Doutorado em Ciências Sociais, ambos da Universidade Estadual de Campinas<br />
(Unicamp). Sua área de investigação inclui estudos sobre movimentos sociais, produção de identidades coletivas,<br />
violência contra o LGBT, saúde sexual e reprodutiva, corporalidades, bem como sobre a intersecção entre marcadores<br />
sociais de diferença (gênero, sexualidade, classe, cor/raça, idade/geração, entre outros).<br />
Antes de falarmos sobre o histórico do movimento<br />
LGBT, é preciso entender o que é LGBT. É uma sigla<br />
que designa lésbicas, gays, bissexuais, travestis e<br />
transexuais. Em alguns locais no Brasil, o T, que<br />
representa a presença de travestis e transexuais<br />
no movimento, também diz re<strong>sp</strong>eito à transgêneros,<br />
ou seja, pessoas cuja identidade de gênero<br />
não se alinha de modo contínuo ao sexo que foi<br />
designado no nascimento (crossdressers, drag<br />
queens, transformistas, entre outros).<br />
Pode-se perceber que há no sujeito político<br />
desse movimento uma diversidade de questões<br />
envolvidas, predominantemente relacionadas a<br />
gênero e a sexualidade. O movimento brasileiro<br />
nasce no final dos anos 1970, predominantemente<br />
formado por homens homossexuais. Mas logo nos<br />
primeiros anos de atividade, as lésbicas começam<br />
a se afirmar como sujeito político relativamente<br />
autônomo; e nos anos 1990, travestis e depois<br />
transexuais passam a participar de modo mais<br />
orgânico. No início dos anos 2000, são os e as<br />
bissexuais que começam a se fazer visíveis e a<br />
cobrar o reconhecimento do movimento.<br />
Não podemos pensar a trajetória do movimento<br />
LGBT sem pensar em coisas que aconteceram no passado<br />
e influenciaram sua constituição, nem deixar de<br />
fazer referência a fatos que ocorreram fora do Brasil.<br />
A categoria “homossexual” é bastante recente<br />
mesmo nas chamadas sociedades ocidentais. De<br />
acordo com o filósofo Michel Foucault1 , a adoção<br />
do termo, para designar pessoas que mantinham<br />
1 FOUCAULT, Michel. História da sexualidade, vol. 1: A vontade de<br />
saber. Rio de Janeiro: Graal, 1979.<br />
relações sexuais com outras do mesmo sexo, fez<br />
parte de um movimento geral no sentido de criar<br />
categorias e e<strong>sp</strong>écies ligadas a comportamentos sexuais,<br />
e<strong>sp</strong>ecialmente impulsionados pelas práticas<br />
legais e pela categorização médica e psicológica no<br />
século XIX. Segundo a literatura, a própria criação da<br />
categoria “homossexual” e sua associação à ideia de<br />
patologia estariam ligadas a uma estratégia política<br />
de dissociar a prática sexual entre pessoas do mesmo<br />
sexo da ideia de crime ou fragilidade moral.<br />
O movimento brasileiro nasce no final<br />
dos anos 1970, predominantemente<br />
formado por homens homossexuais.<br />
Posteriormente, essa classificação se popularizou,<br />
chegando ao senso comum. Não podemos<br />
dizer, porém, que as classificações médicas e<br />
legais foram simplesmente tran<strong>sp</strong>ostas para a<br />
população em geral, que as adotou prontamente.<br />
Todo o processo relativo à categorização de um<br />
“comportamento homossexual”, desde então, foi<br />
permeado por conflitos com categorias locais e por<br />
apropriações e traduções dessas classificações.<br />
De qualquer maneira, não podemos subestimar<br />
a importância dos discursos médico e legal para<br />
a constituição da “condição de homossexual”.<br />
Segundo o historiador inglês Jeffrey Weeks2 , os<br />
impedimentos legais tornaram-se fator importante<br />
para que surgisse o termo “homossexual” como<br />
2 WEEKS, Jeffrey. Sex, politics and society: the regulation of sexuality<br />
since 1800. New York, Longman Inc.,1989.