Psicologia e Diversidade Sexual - CRP sp
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dos processos de subjetivação, há uma tendência<br />
muito grande em se orientar por um viés reducionista<br />
que busca uma verdade identitária marcada<br />
basicamente pelo sistema sexo/gênero/desejo<br />
(BUTLER, 2003), que se apoia no reducionismo<br />
da heterossexualidade compulsória (RICH, 1986),<br />
e se mostra como uma potente ferramenta do biopoder<br />
(FOUCAULT, 1985; 2006), re<strong>sp</strong>onsável pela<br />
disciplinarização dos corpos e pela regulação dos<br />
prazeres. Podemos entender esse biopoder como:<br />
[...] o crescente ordenamento em todas as esferas sob<br />
o pretexto de desenvolver o bem-estar dos indivíduos<br />
e das populações. Para o genealogista, esta ordem<br />
se revela como sendo uma estratégia, sem ninguém<br />
a dirigi-la, e todos cada vez mais emaranhados nela,<br />
que tem como única finalidade o aumento da ordem e<br />
do próprio poder. (RABINOW; DREYFUS, 1995, p. XXII)<br />
A emergência da visibilidade das expressões que<br />
se diferenciam entre si marca e<strong>sp</strong>ecificidades<br />
que solicitam cuidados quando de suas conceituações,<br />
pois, nenhuma expressão identitária<br />
pode ser tomada como absoluta e/ou verdadeira,<br />
e nem de referência para comparações binárias e<br />
reducionistas, de modo a evidenciar a necessidade<br />
de pontuações sempre orientadas pelo contexto<br />
sócio-histórico e político nos quais as mesmas<br />
são produzidas.<br />
De modo bastante efêmero temos proposto<br />
como ponto de partida conceitual para as expressões<br />
travestis, transexuais e transgêneros,<br />
definições que se apresentam sempre em construção<br />
permanente e que deverão ser aprovadas<br />
e reconhecidas pelas pessoas que experimentam<br />
situar-se nestas conformidades. Neste sentido, o<br />
tempo todo temos nos reportado à um diálogo com<br />
o movimento nacional das travestis, transexuais e<br />
transgêneros, de modo a defini-las de acordo com<br />
as suas recomendações, o que tem nos permitido<br />
propor as seguintes definições:<br />
• Travestis são pessoas que se identificam<br />
com as imagens e estilos de gêneros (masculinos<br />
e femininos) contrários ao seu sexo<br />
Têm sido muito comum e frequente<br />
ouvirmos as pessoas leigas e até<br />
mesmo e<strong>sp</strong>ecialistas, se confundirem<br />
diante dessas expressões existenciais<br />
das travestis, transexuais e<br />
transgêneros, tratando-as como sendo<br />
a mesma coisa (...)<br />
biológico (machos e fêmeas), que desejam e<br />
se apropriam de indumentárias e adereços<br />
dessas estéticas; realizam com frequência a<br />
transformação de seus corpos por meio da<br />
ingestão de hormônios e/ou da aplicação<br />
de silicone industrial, assim como, pelas<br />
cirurgias de correção estética e de implante<br />
de próteses, o que lhes permitem se situar<br />
dentro de uma condição agradável de bem<br />
estar biopsicossocial;<br />
– Transexuais são pessoas que não se identificam<br />
com seus genitais biológicos (e suas<br />
atribuições sócio-culturais), podendo, às<br />
vezes, utilizar da cirurgia de transgenitalização<br />
para construir suas expressões de<br />
gêneros em consonância com seu bem estar<br />
biopsicossocial e político;<br />
– Transgêneros são pessoas que temporariamente<br />
se caracterizam como o sexo oposto,<br />
na maioria das vezes com finalidades artísticas,<br />
lúdicas ou eróticas. Entre elas encontramos<br />
transformistas, drag queens, drag kings,<br />
crossdressers, e outros (as).<br />
Têm sido muito comum e frequente ouvirmos as<br />
pessoas leigas e até mesmo e<strong>sp</strong>ecialistas, se confundirem<br />
diante dessas expressões existenciais<br />
das travestis, transexuais e transgêneros, tratando-as<br />
como sendo a mesma coisa, ou chamando<br />
travesti de transexual e/ou de transgênero, ou<br />
ainda, transexual como travesti o que, sob nosso<br />
ponto de vista, produz sérias complicações, dadas<br />
as e<strong>sp</strong>ecificidades desejantes e existenciais de<br />
cada expressão dessas pessoas.<br />
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CADERNOS TEMÁTICOS <strong>CRP</strong> SP <strong>Psicologia</strong> e diversidade sexual