Psicologia e Diversidade Sexual - CRP sp
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76<br />
A Patologização da identidade de<br />
gênero: Debatendo as concepções e<br />
as políticas públicas<br />
Alexandre Peixe dos Santos (Xande)<br />
Educador infantil, militante do movimento LGBT desde 2003; integrante do GT do Ministério da Saúde que orientou o<br />
processo de transgenitalização no SUS; do Coletivo Nacional de Transexuais até 2008; do Conselho Municipal de Atenção<br />
à <strong>Diversidade</strong> <strong>Sexual</strong> de São Paulo; do GT GLBT do Ministério da Educação até 2007; presidente da Associação da Parada<br />
do Orgulho GLBT de São Paulo.<br />
Quero falar algumas coisas como uma pessoa<br />
transexual. O que tenho estudado relativo à transexualidade<br />
é o que vejo no movimento ou o que<br />
encontro pesquisando na internet.<br />
Patologizar e de<strong>sp</strong>atologizar. Mas o que é<br />
de<strong>sp</strong>atologizar? Eu re<strong>sp</strong>ondo que é deixar de ser<br />
doença. Então seria só tirar do CID? (Classificação<br />
Internacional de Doenças). Mas e aí?<br />
Patologizar e de<strong>sp</strong>atologizar. Mas o<br />
que é de<strong>sp</strong>atologizar?<br />
Eu já tive essa discussão, em uma época em que<br />
freqüentava o grupo da psicóloga Maria Angélica<br />
Soares. Algumas meninas questionaram: “Mas se<br />
de<strong>sp</strong>atologizar, eu não vou conseguir operar, porque<br />
não vai ter um CID para mim. Por outro lado<br />
eu também não sou doente”. É aí que encontra<br />
um complicador.<br />
Tem uma coisa que penso e discuto muito no<br />
movimento, que é a questão do vivenciar a transexualidade.<br />
Quando eu fizer a minha cirurgia,<br />
não serei mais transexual? É bem complicado<br />
isso. E este é um dos motivos que me afastam um<br />
pouco do movimento, pois foi imposta essa idéia<br />
do vivenciar a transexualidade. Mas eu não estou<br />
vivenciando-a, porque vou ser transexual para<br />
sempre, independentemente da cirurgia ou não.<br />
Situações do tipo: “após a cirurgia, eu vou ser<br />
homem ou eu vou ser mulher?”.<br />
Adequação genital é a mesma coisa. A questão do<br />
não é o meu órgão genital que me diz o que eu sou.<br />
Tem uma coisa sobre a qual sempre falei sobre<br />
a questão da faloplastia. Por exemplo, o SUS diz<br />
que vai fazer a cirurgia para mulheres transexuais,<br />
mas os homens transexuais não estão contemplados<br />
nesse processo transexualizador.<br />
A faloplastia ainda vai ficar em caráter experimental.<br />
Não está contemplado no SUS na portaria<br />
do ministro da Saúde. Eu falei para o ministro que<br />
eu quero que continue sim, que eu acho que ainda<br />
não há um sucesso, ao contrário da Tailândia.<br />
Eu não tenho problema nenhum em fazer faloplastia,<br />
no meu caso e no da maioria dos homens<br />
trans. Para nós, o que mais complica é a mastectomia,<br />
uma cirurgia que é feita diariamente, mas<br />
não podemos fazer, porque precisa ter um laudo<br />
também.<br />
Tudo que é relacionado aos homens transexuais<br />
vai para caráter experimental. Então, falei para<br />
o Ministro: “e<strong>sp</strong>era aí, a mastectomia e a esterectomia<br />
são feitas todos os dias no Pérola Byington,<br />
então não tem que estar em caráter experimental”.<br />
Ele me prometeu que, se eu mandar um e-mail, ele<br />
vai mudar isso. Vamos ver!