Psicologia e Diversidade Sexual - CRP sp
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A Patologização da identidade de<br />
gênero: debatendo as concepções e<br />
as políticas públicas<br />
Maria Angélica Fonseca Soares<br />
Psicóloga formada em 1982 pela PUCCampinas; psicoterapeuta acompanhando transexuais em psicoterapia; e<strong>sp</strong>ecialista<br />
indicada para o acompanhamento do processo transexualizador do SUS, do Ministério da Saúde; e<strong>sp</strong>ecialista em<br />
violência doméstica contra crianças e adolescentes pela USP.<br />
Hoje as pessoas falam que vivenciam a chamada<br />
transexualidade, porque até então ela era a<br />
necessidade de viver uma identidade o que também<br />
significa uma luta política. Eu trabalho com<br />
transexuais há bastante tempo, temos um grupo<br />
em Campinas e uma ligação forte também com o<br />
Centro de Referência LGBT dessa cidade, que é o<br />
primeiro serviço público do Brasil para atender a<br />
essa população.<br />
Trouxe alguns comentários de pessoas que<br />
são chamadas de transexuais e seria interessante<br />
as ouvirmos para perceber como anda a conversa<br />
dessas pessoas.<br />
No Brasil ainda é difícil falar em de<strong>sp</strong>atologização<br />
da identidade de gênero. Na França, isso já<br />
se estabeleceu.<br />
Eu acredito que existam nuances de identidade,<br />
não existe uma identidade fixa e a gente percebe<br />
isso bem claramente no nosso dia-a-dia, nos<br />
nossos olhares pela rua mesmo, não precisamos<br />
ir muito longe.<br />
O que eu vou tratar aqui são de depoimentos de<br />
pessoas transexuais. Somente uma é FtM (pessoa<br />
que transiciona de mulher para homem), e as<br />
outras todas são MtF (pessoa que transiciona de<br />
homem para mulher), que nasceram com corpo<br />
de homem e se sentem mulheres e vivem como<br />
mulheres, necessitam viver como mulheres. Uma<br />
dessas pessoas nasceu com corpo de mulher, se<br />
sente homem, necessita viver como homem, isso<br />
é o que a gente chama de uma pessoa transexual.<br />
Bom, aqui está uma primeira pessoa falando:<br />
“Re<strong>sp</strong>eito quem se mantém na classificação transexual<br />
e irá morrer se sentindo transexual, porque<br />
aí está o conforto dessa pessoa. A mim hoje cabe o<br />
título mulher e este me conforta demais, me sinto<br />
muito bem incluída na categoria, sendo uma mulher<br />
inteligente, me acho bonita. Há algum tempo<br />
atrás, não me permitiria a essa experiência”.<br />
Essas falas todas são colhidas de conversas de<br />
internet e conversas nos grupos que a gente faz em<br />
Campinas. O nosso grupo de pessoas transexuais<br />
que atendo em meu consultório tem em torno de<br />
sete anos.<br />
Outra fala: “Não somos vítimas nem tencionamos<br />
ser. Tudo o que queremos é uma chance de<br />
provar que somos capazes de trabalhar, produzir<br />
e consumir também, quando assim permitido.<br />
Bancar o vitimizado seria mais fácil, pedir abrigo<br />
por ser um rejeitado ou até mesmo pensar em<br />
meios não tão lícitos de vida. O que quero dizer<br />
com isso é que ser transexual não faz de você um<br />
peso para a sociedade, mas eles assim querem que<br />
pensemos para nos suprimir e até, quem sabe,<br />
fazer com que voltemos à normalidade, como se<br />
algum de nós fosse tão normal se olhados de per-