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Psicologia e Diversidade Sexual - CRP sp

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Entretanto, é bom lembrar que, ao falarmos de<br />

sexualidade, a lógica do direito nos empurra para<br />

um marco de referência baseado nas identidades<br />

fixas e rigidamente delimitadas, o que é fonte de<br />

preocupação para todos nós que somos homoafetivamente<br />

orientados ou que trabalhamos com e para<br />

gays, lésbicas, travestis, transexuais e bissexuais.<br />

É necessário deixar claro que não se pode negar<br />

a importância da afirmação da legitimidade<br />

das diferentes identidades e orientações sexuais,<br />

principalmente ao pensarmos no contexto brasileiro,<br />

onde existe tanto silêncio, fundamentalismos<br />

religiosos e outras ideologias que buscam definir<br />

e controlar as pessoas em torno do desejo e das<br />

práticas sexuais. Neste prisma, as identidades são<br />

importantes para que se possa vivenciar um senso<br />

de pertencimento à uma comunidade, cujo valor<br />

não pode ser subestimado, e<strong>sp</strong>ecialmente diante do<br />

estigma grave da doença, do pecado e isolamento<br />

social a que as dissidências sexuais são relegadas<br />

no plano cotidiano da vivência individual.<br />

Por essa razão, as pessoas que desejam outras<br />

do mesmo sexo muitas vezes acham que são “as<br />

únicas no mundo” que experimentam esse sentimento,<br />

até terem contato com outras pessoas<br />

“iguais a elas”. O pressuposto e a afirmação persistente<br />

da heterossexualidade como a única possibilidade,<br />

marginaliza e busca invalidar a experiência<br />

de quem deseja uma pessoa do mesmo sexo.<br />

Historicamente, em 1973 a Associação Americana<br />

de Psiquiatria, seguida pela Brasileira em 1985,<br />

retirou a homossexualidade do rol das doenças<br />

mentais e o Conselho Federal de <strong>Psicologia</strong> (CFP),<br />

em março de 1999, se manifestou no mesmo sentido,<br />

normatizando a proibição do tratamento da pessoa<br />

homossexual como alguém portador de um problema<br />

de saúde mental. Contudo, o marco diferencial<br />

dessa de<strong>sp</strong>atologização ocorreu em 17 de maio de<br />

1992 quando a Organização Mundial de Saúde (OMS)<br />

também reconheceu que a homossexualidade não é<br />

um desvio, doença ou qualquer outro indicador de<br />

problemas de saúde de uma pessoa.<br />

Em 1999, o Conselho Federal de <strong>Psicologia</strong>,<br />

entrou para a história ao publicar a Resolução<br />

A estigmatização social das<br />

homossexualidades está enraizada<br />

de forma profunda e persistente no<br />

contexto social, o que a torna uma<br />

questão de difícil abordagem.<br />

001/99, que regulamenta a prática dos profissionais<br />

desta área na questão da Orientação <strong>Sexual</strong>.<br />

Foi o primeiro4 Conselho Profissional brasileiro<br />

Por isso recebeu prêmios e foi reconhecido<br />

internacionalmente como entidade que contribui<br />

na e para a defesa dos direitos humanos dos cidadãos<br />

LGBTs.<br />

No entanto, a estigmatização social das homossexualidades<br />

está enraizada de forma profunda e<br />

persistente no contexto social, o que a torna uma<br />

questão de difícil abordagem. Ela se articula com<br />

um conjunto de outros problemas sociais e estruturais,<br />

o que significa um desafio para psicólogos<br />

(as), pouco familiarizados (as) com as questões<br />

de gênero, classe, raça/etnia, ou a considerar os<br />

fatores intervenientes que se cruzam ao problema<br />

psico-sociológico.<br />

Vale lembrar que a atuação profissional do psicólogo<br />

(a) se dá no privado, que também é político.<br />

E neste caso, é a política de gênero e suas implicações<br />

que afetam tais relações, onde o paciente<br />

está fragilizado e os conceitos e preconceitos do<br />

profissional, seus valores e sua subjetividade é que<br />

estruturam essas relações privadas que ocorrem<br />

em geral nos consultórios.<br />

E sendo assim, são nessas relações privadas<br />

do sujeito consigo mesmo e com o profissional<br />

da área, que estão em jogo, de forma profunda e<br />

persistente, um conjunto de problemas sociais e<br />

estruturais, significando um desafio para psicólogos<br />

(as) pouco afeitos(as) a entender e operar com<br />

a chamada “gramática de gênero”, que, a nosso<br />

ver, constitui o sujeito psicológico e político.<br />

4 O Código de Ética do/a Assistente Social, através das alterações<br />

introduzidas pelas Resoluções 333/96 e 594/11 também defende<br />

o re<strong>sp</strong>eito à livre orientação sexual e identidade de gênero<br />

de seus assistidos.

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