16.04.2013 Views

Psicologia e Diversidade Sexual - CRP sp

Psicologia e Diversidade Sexual - CRP sp

Psicologia e Diversidade Sexual - CRP sp

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

74<br />

vale para nós transexuais porque o psicólogo pode<br />

chegar à conclusão de que você não é transexual e<br />

não vai conseguir a cirurgia da mesma forma. E aí?<br />

Vai recorrer a quem?”<br />

Mais um depoimento: “Essa tal de transexualidade<br />

deve ser compreendida como realmente é em<br />

nossas vidas: mera e<strong>sp</strong>era pela adequação genital<br />

de qualidade e que atenda expectativas reais pela<br />

conversão hormonal, com segurança corporal e<br />

psíquica, intervenções médicas, cirúrgicas, clínicas,<br />

ditas secundárias, mas que na maioria das<br />

vezes nos basta, pelo menos por um tempo, para<br />

o conforto corporal e a saúde mental”.<br />

É muito interessante tudo isso. Até agora eu tive<br />

contato com uma maioria de pessoas transexuais<br />

que têm a necessidade de transformar o corpo.<br />

Uma vez eu tive uma discussão sobre o seguinte<br />

tema: o que obriga, o que faz com que uma pessoa<br />

transexual queira mudar tanto o corpo dela? Ela<br />

tem que ter uma vagina para ser mulher ou um<br />

pênis para ser homem?<br />

Antes de fazer a cirurgia, muitas<br />

vezes, a pessoa está no embate<br />

político de que não há a necessidade<br />

de mudar o corpo totalmente.<br />

Até agora eu tomei contato com pessoas transexuais,<br />

algumas com outras opiniões, mas elas,<br />

em sua maioria, querem transformar o seu corpo.<br />

Assim o discurso é um antes da cirurgia, muitas<br />

vezes de<strong>sp</strong>atologizante; mas essa opinião é outra<br />

depois do procedimento. É incrível isso.<br />

Antes de fazer a cirurgia, muitas vezes, a<br />

pessoa está no embate político de que não há a<br />

necessidade de mudar o corpo totalmente. Ela<br />

começa, então, com um processo, que o Ministério<br />

da Saúde está chamando de transexualizador.<br />

Vamos refletir um pouco sobre isso: o processo<br />

pode ser transformador, mas não é transexualizador,<br />

porque não tem o objetivo de “transexualizar”<br />

ninguém. Então, quando a pessoa começa a entrar<br />

nesse processo, ela inicia a hormonização.<br />

Conforme essa pessoa faz o trabalho de hormonização,<br />

ela vai se transformando naquilo que<br />

realmente sente que é, e decide fazer uma cirurgia.<br />

Quando a cirurgia é feita, na prática, ela não<br />

quer mais falar desse assunto, não quer mais ser<br />

vista como transexual, mas sim como mulher ou<br />

homem, porque existe essa pressão toda que a sociedade<br />

impõe para ser homem e para ser mulher.<br />

Então, está aqui a questão: por que é tão forte,<br />

para essas pessoas com quem eu venho tomando<br />

contato há 19 anos, a necessidade de transformar<br />

esse corpo?<br />

Quando falamos de transexual, falamos da<br />

pessoa que nasce com um corpo de homem. Por<br />

exemplo, ela desde os três, quatro anos de idade,<br />

começa a construir sua identidade sexual, já se<br />

sente em outro gênero, não se sente no gênero<br />

que ela nasceu, não se sente com o corpo com o<br />

qual nasceu. Ela vai, ao longo da vida, sentindo<br />

isso e muitas vezes até vestindo um personagem<br />

que não é para poder sobreviver, entrar em uma<br />

universidade, por exemplo, para poder ser aceita<br />

pela família. E a pressão familiar é tão grande,<br />

que essa pessoa passa a fazer até o que a família<br />

quer para ter apoio.<br />

Há pessoas que casam, têm filhos e depois<br />

de uma idade, de uma possibilidade, porque na<br />

cabeça dela sentiu que teve essa possibilidade,<br />

ela faz uma transformação total no corpo e aceita<br />

que pode fazer isso, sendo que isso, segundo ela,<br />

ficou guardado desde a infância.<br />

Esse é o processo com que eu tenho tomado<br />

contato no meu trabalho, pessoas que estão necessitando<br />

fazer uma transformação do corpo e<br />

precisam ser aceitas, isso tem a ver com transfobia.<br />

Nós falamos em homofobia, mas a transfobia é<br />

justamente isso, é esta visão de que essa pessoa<br />

está fora das normas. Ela provoca medo, ódio e<br />

muitas vezes, a visão de que a pessoa é doente,<br />

que tem que ser cuidada e tratada.<br />

Outra coisa que traz a transfobia é a não-<br />

-visão, é o não ver essa pessoa como ela se sente.<br />

Não podemos chegar para uma pessoa que se diz<br />

transexual e dizer que ela não é, sendo que é ela

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!