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Psicologia e Diversidade Sexual - CRP sp

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84<br />

que as cirurgias possam ser feitas pelo SUS. Na<br />

Carta de Porto Alegre (documento de reivindicação),<br />

por ocasião do X ENTLAids, há proposta de<br />

a prótese seja comprada pelas próprias travestis<br />

ficando apenas a cirurgia por conta do SUS. Infelizmente<br />

valores moralistas e conservadores<br />

habitam as cabeças de muitos profissionais da<br />

saúde, bem como de legisladores e formadores de<br />

opinião pública que pouco ou nada contribuem<br />

Um par de seios por meio de cirurgias<br />

de colocação de próteses mamárias<br />

se gastaria em torno de R$5 mil, com o<br />

auxílio das “bombadeiras”, seus seios<br />

nas mesmas proporções, custariam<br />

em torno de R$500.<br />

para a resolução desse problema que de tão<br />

grave, se tornou uma questão de saúde pública.<br />

Há informações recentes de que a Secretaria de<br />

Saúde do Estado de São Paulo criou um ambulatório<br />

e<strong>sp</strong>ecífico para o atendimento da comunidade<br />

TTT, nos meados de 2009, e que estaria<br />

realizando cirurgias de implante de silicone e<br />

tratamento hormonal.<br />

Paralelamente ao problema do uso do silicone<br />

industrial nos deparamos com a questão da ingestão<br />

indiscriminada de hormônios femininos, sem<br />

orientação médica e sem a realização de exames<br />

de dosagens e/ou de acompanhamento psicológico.<br />

Com muita frequência ouvimos relatos sobre<br />

as experiências do uso abusivo de hormônios<br />

por parte das travestis, assim como dos efeitos<br />

colaterais que são produzidos e dos desarranjos<br />

consequentes que se transformam em mal-estares<br />

físicos, psíquicos e existenciais.<br />

Se não fossem tantos os preconceitos médicos<br />

e psicossociais e de profissionais de outras esferas<br />

coletivas frente ao uso de hormônios femininos por<br />

pessoas de sexo genital masculino, poderíamos<br />

diminuir substancialmente os efeitos colaterais<br />

provindos da ingestão de hormônios e do uso de<br />

silicone industrial por essas pessoas. Com isso,<br />

seriam economizados gastos públicos com tratamentos,<br />

internações e outros exames laboratoriais<br />

que formam as suas propedêuticas, realizando<br />

assim prevenção em saúde mental e de defesa dos<br />

direitos sexuais e humanos.<br />

O que pensar sobre tudo isso?<br />

Gostaríamos de demarcar duas entradas possíveis<br />

na reflexão e problematização das relações possíveis<br />

das travestis brasileiras, com as pessoas,<br />

instituições e políticas públicas de emancipação<br />

psicossocial, política e cultural.<br />

A primeira entrada nos leva a pensar sobre o<br />

lugar ocupado pelas travestis e os processos de<br />

estigmatização vividos que as expõem à situações<br />

de vulnerabilidades diversas somadas às<br />

estigmatizações e<strong>sp</strong>ecíficas de sexo, classe social,<br />

raça/etnia.<br />

Esses processos nos permitem analisar as<br />

condições de desigualdades sexuais, de gêneros,<br />

sociais e políticas que colocam as travestis em<br />

sua grande maioria, sob condições precárias de<br />

vida, com pouco ou nenhum apoio social, de<br />

assistência médica e psicológica e de ausência<br />

de oportunidades que possam resgatar suas<br />

autoestimas e potencializá-las para o exercício<br />

de suas cidadanias, e consequentemente, com o<br />

cuidado de si e dos outros.<br />

O efeito do biopoder (FOUCAULT, 1985) objetiva<br />

disciplinar os corpos e regular a população por<br />

meio de normas que são garantidas pelo sistema<br />

sexo/gênero/desejo/práticas sexuais (produtor e<br />

guardião da heteronormatividade) (BUTLER, 2001)<br />

e, nesta per<strong>sp</strong>ectiva, toma as travestis como corpos<br />

abjetos, como pré-sujeitas que não podem gozar<br />

de seus direitos, cidadãs de segunda categoria<br />

que não podem ter acessos a bens e serviços de<br />

qualidade, uma massa disforme insignificante e<br />

esquecida pelas políticas públicas. Essa situação<br />

de esquecimento das travestis pelas políticas<br />

públicas nos remete a lembrar de Janaina Dutra<br />

(Travesti Advogada, ativista do Movimento Nacional<br />

das Travestis – falecida em Janeiro de 2004)<br />

quando, em certa ocasião, me alertou: “sabe,

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