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Psicologia e Diversidade Sexual - CRP sp

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Eu brinco muito, digo: “Por que eu vou ter um<br />

só, que vai ficar dormindo, se eu posso ter cinco<br />

comprando no sexshop?” Eu tenho cinco, cada um<br />

com um nome. Para mim, hoje, se eu estou aqui<br />

com o braço cruzado, eu vou ser o Xandy, se eu<br />

descruzar o braço e fizer assim eu vou ser a Xandy,<br />

porque eu também ouço a Xandy.<br />

Agora, eu tenho uma coisa que eu<br />

quero tirar, eu não posso tirar se eu<br />

não tiver uma doença, senão eu vou<br />

estar me mutilando. Isso é uma coisa<br />

bem complicada. De<strong>sp</strong>atologizar<br />

é uma questão complicada,<br />

patologizar também.<br />

Meu problema maior não é o que está aqui na<br />

minha calça, ninguém olha para ver o que eu sou,<br />

mas o seio é o que me identifica como sendo biologicamente<br />

do sexo feminino e isso é uma coisa<br />

totalmente ruim para nós.<br />

A mulher trans vai lá e põe o peito e ela é identificada<br />

como mulher porque ela tem um peito. Eu<br />

não sou identificado como homem porque eu tenho<br />

um peito, homem não tem peito a não ser que<br />

eles tenham algum problema. É bem complicado.<br />

Algo que gostaria de comentar, é sobre o termo<br />

processo transexualizador. Eu estive desde o início<br />

desse processo e quem deu esse nome foi o movimento<br />

de transexuais, não o SUS. Na verdade, hoje<br />

elas dizem que não são transexuais, são mulheres<br />

vivendo a transexualidade. Depois da cirurgia a<br />

transexualidade, nada disso terá mais valor.<br />

Eu conheço homens trans, que é o grupo com<br />

quem eu mais trabalho, que eram lésbicas no<br />

Nordeste, vieram para São Paulo como homens<br />

transexuais, e que, assim que fizerem a cirurgia<br />

vão para outro estado, com outro nome, para nunca<br />

serem reconhecidos. Não querem nunca mais<br />

serem identificados como nascido biologicamente<br />

como do sexo feminino. Isso é realidade.<br />

Eu vou fazer uma pergunta que faço o tempo<br />

todo para mim: “Como uma cirurgia plástica pode<br />

me curar de uma patologia?” Penso nisso o tempo<br />

todo: como é que sou doente se é uma cirurgia<br />

plástica. Porque para mim é uma cirurgia plástica.<br />

Nasci com cinco dedos, eu tenho o direito de tirar<br />

um, se uma mulher nasce com peito pequeno, ela<br />

tem direito de colocar mais peito.<br />

Agora, eu tenho uma coisa que eu quero tirar,<br />

eu não posso tirar se eu não tiver uma doença,<br />

senão eu vou estar me mutilando. Isso é uma coisa<br />

bem complicada. De<strong>sp</strong>atologizar é uma questão<br />

complicada, patologizar também.<br />

Aonde ficamos nessa questão? Eu me perco<br />

muito nisso. Fico bem maluquinho com isso porque<br />

a questão, principalmente para a <strong>Psicologia</strong>, a<br />

do acompanhamento psicológico é realmente necessário.<br />

Mas quem trata com psicólogo é doente?<br />

Não. As pessoas têm mudado o discurso antes da<br />

cirurgia, são totalmente contra a patologização e<br />

depois que a fazem, mudam totalmente o discurso.<br />

Nós sempre debatemos essa questão do acompanhamento<br />

psicológico antes, durante e depois<br />

da cirurgia. A cirurgia não é o ponto de ser transexual<br />

ou não, isso a gente tem que deixar bem claro,<br />

não é a cirurgia que identifica quem é hetero...<br />

“Ah, qual é a diferença entre travesti e transexual?<br />

Transexual é quem quer operar”. Não! Tem muitas<br />

e muitos que não querem operar.<br />

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CADERNOS TEMÁTICOS <strong>CRP</strong> SP <strong>Psicologia</strong> e diversidade sexual

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