Psicologia e Diversidade Sexual - CRP sp
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se transformou, pelo seu próprio desejo, em um<br />
homem e casou com uma mulher. Um casamento<br />
heterossexual. Um homem e uma mulher, certo? A<br />
mulher não pode engravidar, mas o casal quer ter<br />
um filho. Ele, que tem genitália e órgãos sexuais<br />
internos femininos, diz: “Meu bem, fazemos a<br />
inseminação artificial, eu gero o nosso filho”. E<br />
está aí o homem grávido!<br />
Isto é fantástico, porque são as possibilidades<br />
que o admirável mundo novo nos apresenta hoje em<br />
dia. A gente não pode mais parar nesse binarismo,<br />
homem e mulher, nós já estamos muito à frente<br />
disso. Algo que era só pensamento está virando<br />
realidade. Eu lembro muitos anos atrás, outra situação<br />
semelhante: quando a mulher toma muito<br />
hormônio masculino é muito comum aparecer calvície,<br />
e lá estava o rapaz careca, um baita homem<br />
e na época, há muitos anos, o repórter perguntava<br />
para ele: “Mas tu tens ainda vagina, útero, ovários,<br />
podes engravidar”, e ele dizia: “De forma alguma,<br />
eu estou tão cheio de hormônios masculinos que<br />
eu não vou engravidar, já perdi essa função”, e a<br />
gente vê agora nesse caso bem recente, que o rapaz,<br />
apesar dos hormônios, não perdeu essa função. A<br />
criatura está lá, é um homem e está grávido!<br />
Sobre a prática sexual, podemos dizer sem susto<br />
que nem sempre a prática sexual combina com<br />
a identidade de gênero. Por exemplo, o caso de um<br />
rapaz que se travestia, era uma travesti e, a partir<br />
de um determinado momento, assume a identidade<br />
de gênero feminina, ou seja, é uma mulher. Esta<br />
travesti se prostituía, fazia ponto numa esquina,<br />
e conheceu uma mulher também prostituta que<br />
fazia ponto na mesma esquina. Desenvolveram<br />
uma forte amizade e a travesti se apaixonou pela<br />
mulher. O que nós vamos pensar? Que elas passaram<br />
a ter uma relação lésbica, não é verdade? Se<br />
ela é uma travesti, se identifica como mulher e tem<br />
uma relação afetiva e sexual com outra mulher,<br />
ambas estão vivendo um relacionamento lésbico.<br />
Não, não são lésbicas. A travesti reassumiu sua<br />
identidade masculina, cortou os cabelos, tirou a<br />
saia, pôs calças compridas; casaram-se e hoje são<br />
um casal heterossexual bem comum.<br />
As possibilidades são muitas, as voltas são<br />
muitas, às vezes e<strong>sp</strong>iraladas, às vezes para cima,<br />
às vezes para baixo. Enfim, os caminhos são os<br />
mais variados que possamos imaginar. Hoje, na<br />
verdade, quase tudo o que nós quisermos imaginar<br />
pode se transformar em realidade, a gente inventa<br />
e faz, tem esse e<strong>sp</strong>aço da possibilidade.<br />
Pensar que homens que se dizem heterossexuais<br />
vão necessariamente transar com uma<br />
mulher, não é bem assim. No Brasil, inclusive,<br />
tem essa coisa que o machismo construiu, que<br />
o homem é o garanhão, não pode perder uma<br />
oportunidade de transar, o garanhão pode e deve<br />
transar com todas as mulheres e, quiçá, com o<br />
“viado”. Na hora que o garanhão transa com<br />
outro homem, ele não deixa de se sentir macho.<br />
É uma relação completamente homossexual, mas<br />
ele acha que ele é o homem porque ele é ativo na<br />
relação sexual. Então, as caixinhas estão completamente<br />
deslocadas, precisamos criar novas<br />
ou, quem sabe, acabar com todas e misturar todo<br />
mundo no mesmo caldeirão. Eu acho que hoje<br />
o caldo é o lugar para onde estamos realmente<br />
nos dirigindo, estamos construindo esse lugar<br />
da mistura.<br />
Sobre a prática sexual, podemos<br />
dizer sem susto que nem sempre<br />
a prática sexual combina com a<br />
identidade de gênero.<br />
Em relação às políticas de saúde, vamos ver<br />
que algumas demandas são comuns a todas as pessoas<br />
LGBT. Todas as letrinhas têm alguma necessidade<br />
comum, e outras, mais e<strong>sp</strong>ecíficas. Porém, a<br />
necessidade do auxílio para a superação do sofrimento<br />
mental está em todas essas categorias LGBT.<br />
Esse é um ponto comum a todas essas pessoas,<br />
porque estar “dentro do armário” traz sofrimento<br />
para si; “sair do armário” também, porque gera<br />
preconceito e discriminação. Em qualquer lugar<br />
que estejamos, dentro ou fora, estamos de alguma<br />
forma sofrendo pressão, ou de nós mesmos ou da